COMENTEM MUITO E VOTEM.
Me amem.-Olá - a garota de sempre, enfiada em um óculos de grau enorme me sorri de forma mais familiar - posso falar com a Bonie?
-Ah, ela está em uma reunião mas se quiser esperar na sala dela, tudo bem - eu afirmo e aceno agradecendo enquanto passo pelo corredor do escritório da BBC.
A sala de Bonie está vazia e há um buquê de flores em cima da mesa. Fecho a porta atrás de mim e procuro por um cartão mas não há nenhum aqui. Quem mandou essa merda? A sala está cheirando a gente morta e já consigo ver algumas flores murchas. Quem mandou essa merda? Sento na cadeira em frente a mesa de Bonie e jogo meu chiclete fora, sentindo meu maxilar doer de tanto mascar essa merda.
Quem mandou esse buquê?
Giro a cadeira e fico encarando cada um dos exemplares clássicos aqui. Jane Eyre, A Morte do Coração, Vanity Fair, O Coração das Trevas, Uma Janela Para O Amor, Grandes Esperanças, Alice No País das Maravilhas, Razão e Sensibilidade, Laranja Mecânica... nada disso me distrai das flores em cima da mesa. Grande merda, um buquê, todo mundo pode sair e comprar isso, não quer dizer nada.
Não quer dizer nada, certo? Ela pode ter ganhado uma promoção no emprego, talvez seja apenas isso.
Por um momento penso que talvez Noah tenha desistido de ser um covarde e entregá-la para mim mas parece uma ideia tão remota que acabo desistindo de pensar assim. Onde é que ela está? Confiro as horas e giro novamente a cadeira. Há um exemplar de Middlemarch de George Eliot em sua mesa e o marcador está em um pouco mais da metade do livro.
Pego meu telefone e vejo duas chamadas não atendidas da minha mãe. Os dramas de seu casamento tardio podem esperar até que eu resolva as minhas coisas. Giro novamente a cadeira e analiso a sala de Bonie, deve ter uns 10m² e é bem simples. Todo o ambiente é tão branco que quase me incomoda. Na verdade acho que agora qualquer coisa me incomodaria.
Depois do que parece uma vida e meia Bonie abre a porta sorrindo enquanto fala com alguém no corredor. Ela só vê que estou na sala quando fecha a porta e dá de frente comigo.
-Harry - ela parece subitamente tensa - Eu não estava esperando você aqui.
-É, eu sei - olho para ela e para buquê enquanto ela se senta do outro lado da mesa em sua cadeira grande e acolchoada.
-Você está bem? - ela diz de forma calma, eu franzo o cenho e limpo e garganta.
-Sim, quem enviou isso? - aponto para o buquê e ela dá de ombros, tentando não responder - Alguém bem óbvio, claro.
-Isso é um buquê de peônias, e é muito bonito, se quer saber.
-Não, não quero saber - respondo seco e ela abaixa o rosto mas consigo ver que revirou os olhos antes.
-O que é que você quer? Estou trabalhando - diz ríspida quando volta a me olhar e eu me mexo inquieto na cadeira.
-Precisamos conversar.
-Sobre o que?
Tiro meu celular do bolso e abro nas mensagens que ela me enviou na noite anterior antes de jogá-lo em sua mesa. Ela engole seco quando o celular faz um barulho alto contra o vidro da mesa e respira fundo logo depois.
-Você quem disse que queria falar comigo.
-Eu disse, ontem - ela empurra com a mão o meu celular e eu ignoro - E você me ignorou por completo.
-Não te ignorei, eu só não estava com o meu celular. Na verdade estava com ele, mas não estava ligado.
-Onde você estava? - lembro de como Liam me avisou para não dizer que fui ao The Box mas ao mesmo tempo não quero mentir.
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Things I Can | H.S.
FanfictionO sorriso que ela abre enquanto a observo de longe me faz lembrar o babaca que sou. É o sorriso que ela insiste em abrir aos outros, mas nunca mais o abriu para mim. O gelo do whisky congela a ponta dos meus dedos e parece um alívio sentir alguma do...