Capítulo 11

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Eu peguei o carro de Felicia e fui para casa, ela não sentiria falta, certeza que dormiria no apartamento dos meninos. Meu Deus, dezoito anos, onde eu estava com dezoito anos? Terminando o ensino médio?
Entrei no prédio e segui em completo silêncio até a porta do meu apartamento, joguei minha bolsa no sofá a fazendo companhia logo em seguida, a secretária eletrônica apitava sem parar.
- Merda, barulho infernal!
Apertei o botão para ouvir as mensagens.
- Alô?! Aqui é a Liza e a Felicia, no momentos estamos ocupadas, ligaremos assim que possível, se não esquecermos, claro.
- Aqui é a Sabrina da faculdade, pensei que poderíamos sair, as três juntas, essa noite o que acham?
Coitada. Eu já detestava sair a noite, mas essa em especial estava horrível, péssimo dia para um convite.
- Filha?! Filha?! Sou eu Lorena, filha eu descobri umas coisas aqui que, ah, meu Deus, o bebê, Socorro!
O grito de Socorro me paralisou, peguei o telefone e disque o número de minha mãe, ninguém atendia, liguei para Pedro e a caixa postal apareceu nas três tentativas, liguei mais duas vezes sem sucesso. O terror tomou conta do meu pensamento, o que tinha acontecido? Por que minha mãe não me atendia? Tentei mais uma vez, quinto toquei e uma voz me atendeu.
- Alô? Mãe?
- Alô, Boa noite, sua mãe é Lorena Almeida dos Santos?
- Sim, é ela, onde ela está?
- Ela está em um hospital senhora.
- Hospital? Mas, o que aconteceu?
- Eu sinto muito não podemos passar informações de pacientes por Telefone, sugiro que a senhora venha até o hospital.
Depois de anotar o endereço, não pensei duas vezes, peguei minha bolsa, coloquei algumas roupas, dinheiro, documentos, peguei o carro de Felicia e segui rumo ao interior de São Paulo, deixei apenas uma mensagem avisando a loira.
" Amiga, aconteceu alguma coisa com a minha mãe, ela está hospitalizada, peguei seu carro emprestado, espero que não se importe. Não venha atrás de mim, nem você nem ninguém."
Eu dirigi o mais rápido que pude, depois de duas horas cheguei a São José dos Campos, minha mãe mora com Pedro aqui desde que me lembro, eles são felizes aqui.
Entrei correndo na recepção e quase caí de cara no chão, uma das faxineiras que passava o pano gritou Jesus, misericórdia, colocando a mão na boca logo em seguida, assim que consegui me equilibrar novamente, respirei fundo e fui até a enfermeira que se encontrava ali.
- Boa noite, não sei se foi com você que eu falei, sou filha de Lorena Almeidas dos Santos, eu vim vê-la, me disseram que não era permitido passar informações por Telefone.
A tal enfermeira arregalou os olhos e fez uma cara de pena, eu não entendi nada, mas estava aflita demais para pensar em qualquer coisa além de minha mãe.
- Vou te levar até o médico responsável, venha.
Caminhei seguindo a enfermeira até uma sala que continha a porta aberta, assim que o médico me viu se levantou e veio em minha direção.
- Boa noite, me chama Diego Tavares,eu era o médico responsável pelo caso da sua mãe.
- Era? Quem é o médico responsável agora? Eu preciso saber exatamente como ela está.
- Sua mãe veio a óbito, eu sinto lhe dizer dessa forma.
Eu parei de ouvir assim que escutei a palavra óbito, morta, minha mãe estava morta?! Me sentei sentindo minhas pernas falharem em seu trabalho de me manterem em pé, minha mão tremia e eu não conseguia controla-las.
- Óbito? Me explica tudo! Meu Deus, Charlie, cadê o Charlie? Pedro? Onde eles estão?
Minhas lágrimas corriam pelo rosto, o que estava acontecendo? Era demais pra mim.
- Antes de sua mãe entrar na sala de parto, Centro cirúrgico, como queira chamar, ela nos contou uma história, repetiu várias e várias vezes que você precisava saber, ela entrou perfeitamente bem na sala, mas, no decorrer do parto ela sofreu de algo que não é muito comum durante os partos, mas pode ocorrer e ocorreu com ela, eclâmpsia, não sei se você sabe, mas eclâmpsia é a ocorrência de convulsões..
- Eu não quero saber o que é eclâmpsia, eu só quero saber, como vocês deixaram isso acontecer com minha mãe.
- Nós fizemos o que podíamos, mas, no final, conseguimos salvar apenas seu irmão, ele está na maternidade. Sinto pela perda da sua mãe, acompanhei a gravidez, ela não tinha sinais de que teria eclâmpsia, talvez tenha sido o trauma que tenha desencadeado.
- Trauma, que trauma?
- Sua mãe, nos contou que, ela encontrou Pedro a traindo, foi o que adiantou o parto, ela ficou muito nervosa e talvez Charlie tenha recebido essa onda de nervosismo entendendo como um sinal de que era hora dele nascer.
- Cadê o Pedro?
- Nós não sabemos, não apareceu aqui. Eu não sabia o que sentia primeiro, raiva por Pedro, dor por perder minha mãe, medo de ser o mais próximo de família para Charlie, o que seria de nós agora? O que seria de mim?
Passei os dois dias que se seguiram no hospital esperando que Charlie tivesse alta, apesar de tudo o que ele passou durante o parto, Diego disse que ele era forte e saudável e que logo ia poder ir embora para casa. Felicia me ligou algumas vezes e chorou feito criança quando soube o ocorrido, pedi para que ela não comentasse com ninguém e que se ela quisesse conhecer Charlie teria de vir sozinha. Eu ainda estava com seu carro, não tinha nada além de dinheiro, na manhã em que Charlie saiu do hospital, me peguei com uma realidade de vida totalmente alternativa. Quem cuidaria de Charlie? O que seria de mim agora?
Peguei os pertences de minha mãe e fui para a casa que costumava ser dela, assim que cheguei encontrei Pedro saindo, com Charlie no colo eu não pude bater nele, mas disse o que ele merecia ouvir no momento.
-Filha? Eu estava indo ao hospital buscar sua mãe e Charlie, esse é meu bebê? Cadê sua mãe? Eu não liguei para ela nos últimos dias, sabe, ela estava meio nervosa comigo.
- Cala a boca! Cala a boca agora! Eu sei de tudo, você a traiu, você era como um pai para mim, era! Eu quero que suma daqui e não nos procure nunca mais, sabe onde minha mãe está agora? Morta! Ela está morta! Tudo isso graças a você, da próxima vez, aprenda a ser homem e largue a mão de ser esse lixo de ser humano no qual você se tornou.
- Morta?! Para de brincar comigo desse jeito Liza, cadê Lorena?
- Morta, ela está morta, suma daqui agora, essas suas lágrimas não me comovem, seu ridículo.
- Mais e o meu Charlie?
- Você quis dizer o meu Charlie, ele vai ficar comigo, não quero que ele conheça o monstro que um dia ele poderia ter chamado de pai.
- Eu vou entrar na justiça! Ele é meu.
- Entra! Experimenta entrar pra ver se eu não acabo com essa merda de vida que você tem. Some daqui. Agora!
Pedro saiu e não olhou para trás, Charlie começou a chorar e eu sem jeito algum comecei a balançar de um lado para o outro, acabei me sentando no degrau da porta, olhei para Charlie que dormia, em meio aos seus resmungos apenas uma pergunta pairava em minha mente : E agora?

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