A casa que era de minha mãe me serviu como lar, até eu decidir o que fazer da minha vida agora que tudo virou de cabeça para baixo. Minha mãe era arquiteta e urbanista, a empresa para qual ela trabalhava fez questão de nos dar pensão, dinheiro não seria o problema, lugar para morar também não, mas a faculdade, minha vida na capital, o que seria da Eliza que a dois anos foi mora e em um micro apartamento com sua amiga? Eu sinceramente não sei.
Felicia veio como eu disse, sem acompanhante, ela me deu a ideia de voltar para a capital e criar Charlie lá, mas não parecia certo o tirar do único lugar que tem lembranças da minha mãe. Ela até prometeu ajudar a cuidar de Charlie, mas aquela opção era completamente fora de mão pra mim, foi então que tomei a decisão mais difícil da minha vida, eu larguei mão de minha vida na capital, me mudei por completo para o interior, tranquei a faculdade, quando eu pudesse voltaria a fazer. Felicia chorou, gritou, fez até uma espécie de greve para que eu voltasse para a capital e não a deixasse sozinha por lá, mas eu não podia, Charlie merecia crescer no ambiente onde nossa mãe sonhou.
Os primeiros dias foram horríveis, Charlie chorava, gritava e eu o acompanhava, chorava, gritava, estava sendo muito difícil, eu não tinha experiência nenhuma com crianças, mas aos poucos eu fui o entendendo e ele pareceu cooperar também.
Vicente me ligava dia e noite, mas eu não atendia, não tinha o que dizer a ele, na verdade eu não sabia como dizer o que queria dizer, dias se passaram e ele não desistia, antes já não tinha espaço para um cara de dezoito anos, agora muito menos.Era três horas da manhã quando levantei para dar mama a Charlie, ouvi o celulae tocar e era Vicente. Eu decidi atender e por logo um fim nessa história que nem teve um começo.
- Alô?!
- Alô?! Liza o que aconteceu? Eu soube o ocorrido com sua mãe, sinto muito, mas, você sumir e não querer voltar para capital?
Pedi a Felicia que não contasse para ninguém sobre Charlie, quanto menos pessoas souberem melhor para nós dois.
- Eu decidi que vou ficar por aqui, aqui é o lugar onde tenho as lembranças de minha mãe. Eu não vou voltar, se era isso que queria saber.
- Mas, mas.. e a gente?
- Nunca existiu a gente Vicente, eu não quero você ao meu lado, estou bem, bem melhor sozinha. Obrigada e Boa noite.
Assim que desliguei o celulae um vazio me invadiu por inteira, aquilo que eu havia acabado de dizer tinha realmente se tornado verdade, eu estava agora definitivamente sozinha.
Com o tempo autorizei que Felicia trouxesse Vinícius, mas pedi sigilo total sobre Charlie, eu segui minha vida sem Vicente, com o tempo notei que aquilo que sentia por ele morreu, eu não gostava, não era amor. Felicia e Vinícius estavam namorando firme, fiquei feliz por eles, alguém tinha que dar certo na vida.
Eles sempre vinham em datas comemorativas, Natal ano novo, aniversário do Charlie, eu os escolhi como padrinhos para Charlie, eles com certeza foram minha melhor escolha.Eu estava noiva, achei um cara legal, com um emprego bacana e claro, que gosta do Charlie, Diego, o médico, ele era dez anos mais velho, mas dane-se. Tudo que eu não queria era um pirralho então, escolhi um velho. Ele sabia da história de Charlie e prometeu não contar nada quando ele fosse grande o suficiente para entender. Nos casamos, nada chique, na verdade tudo muito simples, eu só queria que Charlie tivesse uma visão de família. Em uma das conversas que tivemos eu e Diego decidimos omitir a verdade de Charlie, nós seríamos seus pais, sei que não é muito certo, mas eu conheço a dor de se perder a mãe e não podia deixar Charlie crescer assim, com essa mesma dor. Era o mínimo que eu podia fazer por ele. Pedro sumiu no mundo assim como meu pai fez quando eu nasci, minha mãe tinha um dedo pode para escolher homens, devo ter herdado isso dela. Diego e eu éramos mais amigos do que um casal, conversávamos, riamos, ele se causou por não ser brasileiro e por estar precisando do visto de permanência, eu me casei por querer ser o melhor para Charlie, não existia amor, só interesses e objetivos que precisavam serem alcançados.
Cada dia que se passava eu via minha mãe em Charlie, ele me lembrava ela, era apenas um bebê de cinco meses, mas o sorriso era idêntico ao dela.
Conviver com a morte de minha mãe era ruim, mas Charlie me confortava sempre que a saudade batia, as vezes penso que isso tudo foi plano dela.
Felicia e Vinícius estavam em um namoro muito sério, eles nos visitavam final de semana sim e final de semana não, depois que voltei para o interior, Vinícius foi morar com Felicia. Eles as vezes deixavam escapar notícias sobre Vicente, mas ele já não me afetava mais, então, eu pouco ligava, soube que Vicente terminou a faculdade e foi para Inglaterra se aprimorar em seus estudos, não mandava notícia a meses, fiquei me imaginando em uma janela a espera de qualquer notícia dele, graças a Deus me livrei antes que fosse tarde o bastante para estar ferrada.
Ele era só um menino, talvez tenha sido bem melhor assim, ele não teria aguentado toda a pressão de se tornar um pai aos dezoito de uma criança que nem dele era. Eu estava com Diego e Charlie estava crescendo feliz, isso era o que realmente me importava, minha prioridade se chamava Charlie e não Vicente.
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Insensatez
Romance- Você é o pior tipo de cafajeste que pode existir em toda a galáxia. Ela me disse com lágrimas nos olhos enquanto eu a segurava pela cintura. - E qual seria o pior tipo de cafajeste? Ela me olhou com lágrimas escorrendo pelo seu belo rosto e me di...