As coisas corriam super bem, minha gravidez estava estabilizada, Vicente continuava o príncipe que sempre foi e Charlie estava cada dia mais radiante, agora era oficial , minha vida estava perfeita, mas como tudo que é bom dura pouco, eu com certeza não fugiria a regra.
Vicente havia chegado do trabalho e estava deitado na cama, eu me levantei para ir ao banheiro e ao voltar vi Charlie parado na porta de nosso quarto, ele estava chorando. Charlie dificilmente chorava, eu mesma pouca vezes presenciei isso, então, se ele estava chorando e ainda expondo algo de muito errado tinha acontecido. Com dificuldade caminhei até ele e me ajoelhei para ficar do seu tamanho, peguei uma de suas mãos e segurei firme, tentando mostrar que ele podia contar conosco, mas assim que a peguei ele se soltou e deu um passo para trás, confusa, sem entender muito a situação me levantei e o fitei, algo tinha mudado em seu olhar, algo estava diferente, meu coração disparou e enquanto mil e uma possibilidades passavam em minha mente.
- Filho?! O que aconteceu?
- Eu não sou seu filho, não me chama assim.
Quando assimilei as palavras de Charlie, senti um aperto no peito, senti como se estivessem enfiando várias facas em meu coração, olhei para Vicente que imediatamente se sentou na cama e tentou puxar assunto com Charlie..
- Ei, garotão, de onde tirou essa ideia?
- Você também sabia não sabia Vicente?
Vicente me olhou e ele parecia pedir ajuda, mas eu estava mais perdida que ele, como Charlie tinha descoberto isso? Como?
- Charlie? Quem disse essa barbaridade para você?
- Meu pai!
- Diego? Perguntei já com vontade de pegar o telefone e ligar para ele.
- Não. Pedro.
Pedro? Como? Como ele havia nos achado ainda mais depois de tanto tempo? Eu não podia acreditar que ele tinha feito aquilo, tirou Charlie de sua realidade por puro capricho, a dez anos ele sumiu e só agora voltou? O que ele estava querendo? Por que? Me sentia tonta, me sentia fraca e principalmente sem chão. Ele não tinha o direito de voltar para nossas vidas como um fantasma do passado e querer mudar tudo que eu havia construído para Charlie.
- Ele não é seu pai. Diego é. E eu sou sua mãe Charlie.
- Não! Charlie gritou, eu nunca havia o visto dessa maneira, ele sempre foi um garoto calmo e muito maduro para a própria idade. - Ele foi até a escola e enquanto esperava Vicente ele me chamou para conversar, me mostrou uma foto, onde minha verdadeira mãe estava com uma barriga maior que a sua e ele estava do lado, atrás da foto estava escrito gravidez do Charlie. Eu quero saber onde está minha mãe de verdade, eu quero saber agora.
Como se não bastasse Pedro ter feito toda a cachorrada de destruir o mundo em que Charlie vivia ele também como o bom merda que era não contou a história por completo e claro como era de se esperar deixou a parte mais difícil para mim, como contar a Charlie a verdade que venho omitindo a dez anos? Como contar que nossa mãe morreu e que foi por culpa de Pedro? Como? Como dizer a ele que o próprio pai havia traído a mãe enquanto ele ainda estava na barriga? Eram muitas perguntas feitas para poucas respostas elaboradas, eu não sabia por onde começar e muito menos se conseguia começar , era muita dor para um menino de apenas dez anos, sempre quis o poupar de toda a verdade porque eu mais do que ninguém sabia a dor que nasceria no coração de Charlie ao saber que nossa mãe estava morta, era uma realidade muito dura para uma criança de dez anos enfrentar, ok, muita das vezes subestimei Charlie, mas agora, agora era diferente ainda mais por vê-lo no estado que estava , lágrimas corriam pelo seu rostinho e eu estava de mão atadas sem saber o que fazer. Vicente se levantou da cama e me envolveu em um abraço por trás, me confortava até certo ponto tê-lo por perto em um momento como esse, mas mesmo com Vicente do lado meu problema agora era com Charlie e esse dificilmente se resolveria.
- Me responde! Cadê minha mãe de verdade?
Me soltei do abraço de Vicente e me sentei na cama, fiz sinal para que Charlie viesse se sentar ao meu lado e mesmo relutante ele assim o fez, procurava palavras em minha mente que tornassem a situação mais fácil de ser explicada, ou até mesmo que tornasse a situação mais fácil no modo geral, mas isso não foi possível , enquanto Charlie me olhava esperando uma resposta eu simplesmente não conseguia falar nada, nem um A, eu estava presa no passado sem passagem para o agora e aquilo estava me deixando ligeiramente preocupada.
- Me fala mamãe. Charlie me olhava enquanto segurava minha mão.- Você ainda vai ser minha mamãe, mas eu quero saber quem é ela de verdade.
A maturidade de Charlie me comovia, apesar de toda a situação ele continuava mais maduro do que eu, era incrível o modo como ele encarava as coisas e isso foi o que me deu forças para contar algo que tentei omitir, algo que na verdade eu precisava ter contado antes.
- Querido, antes de tudo quero que entenda que eu sou sua mãe, você é meu filho e nada disso vai mudar ok?
- Ok! Eu prometo mãe.
- Você na verdade é meu irmão, Pedro realmente é seu pai e nossa mãe realmente te deu a luz, mas infelizmente, nossa mãe, bom, ela, ela não..Charlie, eu amo você, quero que entenda que tudo que fiz até hoje foi para te proteger, essa situação é muito complicada, eu queria podr facilitar as coisas e acho que foi isso mesmo que tentei fazer, nossa mãe morreu Charlie, morreu assim que você nasceu, não foi sua culpa, longe disso, A culpa foi do Pedro, Pedro tinha outra mulher além de nossa mãe, ele a traiu e quando nossa mãe descobriu entrou em trabalho de parto para ter você, foi tudo muito rápido , na época eu morava com Felicia , não tive sequer chance de me despedir dela, acho que venho evitando que você descobrisse a verdade porque no fundo ainda me dói, ainda sinto culpa por não ter conseguido ajuda-la quando ela mais precisava de mim, talvez tenha sido por isso que eu tenha escondido a verdade, não porque te machucaria, mas porque ainda me dói filho.
Lágrimas corriam pelo meu rosto, a verdade era aquela, a verdade nua e crua, no fundo eu sabia que Charlie entenderia toda a situação se eu me sentasse e a explicasse para ele, mas eu não queria, eu não queria aceitar, mesmo depois de tanto tempo ainda me doía lembrar de tudo, lembrar que eu não estava lá.
Para minha surpresa Charlie me abraçou, eu o abracei de volta e me senti aliviada, como se um peso enorme fosse tirado de mim.
- Eu te entendo mamãe , obrigada por cuidar de mim, te amo.
- Também te amo meu filho.
Naquela noite Charlie dormiu comigo e com Vicente, ele realmente era meu filho, posso não ter gerado ele, mas o criei até aqui e continuarei o criando, ele foi o primeiro amor incondicional que tive em minha vida, meu primeiro filho e ninguém jamais ocuparia seu lugar.
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Insensatez
Romance- Você é o pior tipo de cafajeste que pode existir em toda a galáxia. Ela me disse com lágrimas nos olhos enquanto eu a segurava pela cintura. - E qual seria o pior tipo de cafajeste? Ela me olhou com lágrimas escorrendo pelo seu belo rosto e me di...