Minha mente rodava só de pensar na possibilidade de ter transformado um garoto bom em um perfeito babaca. Meu Deus, como você consegue ser tão idiota assim Eliza? Eu precisava de uma luz, alguém que me ajudasse a chegar em uma conclusão, mas quem? A única pessoa que conhecia, que realmente podia me ajudar era Vicente, não esse Vicente, mas aquele que a dez anos atrás dizia me amar, dizia estar do meu lado. Merda!
Estava sentada em um banco na praça ,observando as crianças brincarem na areia com suas mães enlouquecendo com toda a sujeira que faziam, por mais que tentasse esquecer o que fiz, eu não conseguia. Abaixei a cabeça e apoiei meus braços em minhas pernas, fiquei por um momento olhando o chão, estava ansiosamente esperando que uma resposta caísse do céu quando sinto que estou acompanhada e ao levantar a cabeça tive uma pequena surpresa.
- Precisando conversar?
- O que?
- Conversar Liza, apenas conversar.
Vicente estava sentado ao meu lado encarando o horizonte,eu realmente precisava conversar e saber que mesmo depois de anos ele ainda me conhecia bem o suficiente para saber que precisava dele me confortava. Eu havia chego em São Paulo a apenas uma semana e já estava ficando louca,louca por estar desesperadamente me sentindo uma culpada,por estar procurando um apartamento onde Charlie e eu pudéssemos morar e por Vicente estar me causando algo que a dez anos atrás ele não causava.
- Eu não sei..só
- Só é muito estranho estar de volta?
- É! Fiz uma careta ao ouvir as palavras de Vicente, Como ele sabia disso?
- Relaxa eu não li seu diário. E se te conforta é estranho te ter de volta.
- Como sabe que tenho um diário?
- Você tem? Eu não sabia, mas obrigado pela informação,quando sair para o trabalho eu irei procurar e ler.
- Não!
Dei um grito alto o suficiente para chamar a atenção das mães das crianças que estavam sentadas em bancos perto dos brinquedos.
- Calma pijaminha,calma. Eu não vou ler nada . Ele sorriu e eu senti uma espécie de arrepio dentro de mim.Suspirei,Vicente estava um tanto mais irônico do que costumava ser,a verdade é que eu não o conhecia mais,aquele era o Vicente, mas não o que eu conheci,não o cara de dezoito anos por quem me interessei até saber sua verdadeira idade.
- Ok!
- Bom, eu vou indo pra casa, caso queira me acompanhar .
- Ok!
- É só isso que sabe dizer? ok?
- É, quer dizer, não, espera você me confunde.
- É bom saber que mesmo depois de anos eu ainda te causo algum tipo de sentimento.
- Você não precisa fazer isso tá?
- Isso o quê?
- Fingir que quer se aproximar, sabe , você vai ser pai e negou seu filho, não precisa fingir que está tudo bem e que você me perdoa pela grande idiota que eu fui a dez anos atrás, sério, não preciso , não preciso do seu perdão ok?
- Aé? É isso que acha que estou fazendo? Eu quero conversar com você mais toda vez que tento você automaticamente ergue uma muralha em volta tornando impossível minha aproximação, eu não estou te dando perdão até mesmo porque eu não te perdoei! Você acha mesmo que foi fácil aceitar que do dia pra noite você quis ir embora e nem pensou em como ficaria? Acha que é fácil te ver de volta e saber que agora você é mãe e que até casada você já foi? Acha que isso tá sendo fácil pra mim Liza?
Eu não conseguia pronunciar qualquer palavra que fosse, por menor que ela fosse, mas toda aquela confusão que estava me atormentando desapareceu e eu soube quase que instantaneamente o que fazer.
- Tem razão, eu não mereço seu perdão, não mereço nem mesmo ter voltado, aceito toda sua raiva por mim e querendo ou não eu vou aprender a conviver com ela.
- Ah, Deus, pijaminha, eu não sinto raiva de você!
- Não?
- Não!
- Então sente o que?
- Raiva!
- Mas, você acabou..
- Eu sinto raiva de mim mesmo por não conseguir te odiar Liza, dez anos se passaram, eu estava vivendo como um verdadeiro cafajeste, mas a uma semana eu não tenho dormido fora, eu não tenho atendido as ligações de várias mulher, que, Deus, são muito gostosas. Eu sinto raiva por mesmo depois de saber que você é mãe continuar sentindo sua falta. Eu achei, que depois de todos esses anos eu realmente tivesse te esquecido, mas foi só eu te ver, merda, Liza, merda!
Vicente voltou a se sentar no banco e eu o acompanhei.
- Eu, não sei o que dizer ..
- Não fala nada, não fala. Eu sou o idiota da história, depositei toda minha confiança em alguém que não merecia e até hoje pago o preço.
- Não fala assim.. Se , se eu pudesse te reconquistar, reconquistar sua confiança saiba que eu faria.
- Eu quero muito acreditar em você, mas, eu já acreditei um dia e você me despedaçou .
- Me desculpa.
Finalmente tive coragem de dizer o que venho escondendo a uma semana.
- Eu tive medo, fui embora por ser uma covarde, nunca fui feliz, minhas histórias sempre terminaram comigo chorando no quarto porque um babaca tinha me deixado. Eu sempre fui usada.
Vicente se levantou deu dois passos e me olhou com tristeza.
- Parabéns ,me parece que de tanto você ser usada,aprendeu a usar também.
Fiquei chocada com suas palavras,mas algo me deu esperanças, eu podia resgatar aquele Vicente, depois dessa conversa tive certeza de que ele ainda existia, só estava com medo e eu iria ajuda-lo, sei exatamente como ele estava se sentindo no momento ,pois eu sempre me sentia assim, desconfiava de tudo e todos que quisessem me causar um sorriso. Mas em minha insensatez total eu necessitava recuperar a única coisa que me foi sensata até os dias de hoje : Vicente! E é exatamente isso que eu farei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Insensatez
Romance- Você é o pior tipo de cafajeste que pode existir em toda a galáxia. Ela me disse com lágrimas nos olhos enquanto eu a segurava pela cintura. - E qual seria o pior tipo de cafajeste? Ela me olhou com lágrimas escorrendo pelo seu belo rosto e me di...