Capítulo 21

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Minha cabeça girava só de pensar que tanto eu quanto Vicente precisamos contar o ocorrido para Felicia, Charlie e Vinícius, assim que descobrimos decidimos manter segredo pelo menos até que Charlie voltasse para casa. Vicente não saía do meu lado e o casal que antes agia como gato e rato estava agindo como um casal  recém casados , isso despertou a desconfiança de Felicia e nós precisamos simular algumas brigas, nada muito sério, brigamos pela xícara de café que Vicente deixou na pia, brigamos pela toalha que Vicente deixou em cima da minha e claro a briga mais clássica , briga pelo lugar para se sentar no sofá. Depois de muito brigarmos conseguimos despistar Felicia ,que voltou toda sua atenção para o chá de bebê que estava preparando . Alguns dias depois da descoberta fomos ao hospital para marcarmos um ultrassom, seria a primeira vez que escutaríamos  coraçãozinho do nosso bebê, de início estava com medo, medo de não ser uma boa mãe, medo de Vicente não ser um bom pai , medo de não ter planejado essa criança, mas assim que marcamos o ultrassom uma ansiedade sem tamanho cresceu dentro de mim, eu queria ouvir aquele coraçãozinho tão pequeno batendo freneticamente dentro de mim, pela primeira vez quis realmente fazer algo, algo que eu não tinha ideia de como seria. Apesar de sempre ter sido insensata, sempre fui muito organizada, claro, até voltar para capital e deixar Vicente entrar novamente em minha vida, o que ocasionou a bagunça em que me encontro hoje.

Vicente estava mais ansioso que eu e aquilo era particularmente bem engraçado, ele ficava bobo quando falava do bebê , em sua cabeça ele se via sendo pai de um menino que segundo ele seria o maior gato de toda a cidade. Eu por outro lado discordava, me imaginava sendo mãe de uma menina, uma menina linda e completamente idêntica a Vicente. O tão esperado dia do ultrassom havia chego, nós parecíamos duas crianças esperando na fila de um brinquedo, enquanto esperávamos para sermos atendidos Vicente balançava a perna sem parar e eu não conseguia me concentrar em nada, nem mesmo na matéria da revista que havia pego para ler.

Depois de meia hora esperando ouvi uma enfermeira chamando meu nome, Vicente deu um pulo da cadeira e foi rumo a porta o que me fez pensar que ele havia esquecido que para entrar precisava de mim, o segui, rindo comigo mesma, rindo de Vicente, rindo da situação em que me encontrava e rindo simplesmente por não poder estar mais feliz do que estava naquele exato momento. A médica responsável pelo ultrassom não havia chego, o que fez a enfermeira nos encaminhar para a pequena sala do ultrassom para que pudéssemos esperar. O silêncio logo invadiu aquele pequeno ambiente escuro, Vicente segurava minha mão e aquilo me deu forças , até mesmo me acalmou, apesar de estar calma eu não gostava de silêncio qualquer que fosse a situação então me coloquei a pensar em qualquer assunto para quebra-lo .

-  Aposto que vai chorar quando ouvir o coração do bebê.

- Eu aposto que você chora primeiro.

- Duvido , você é muito manteiga derretida Vicente , claro que vai chorar primeiro.

- Então, fechado. Se eu chorar primeiro cumpro um desafio que você escolher, mas se você chorar primeiro vai ter que cumprir o que eu escolher sem reclamar e nem dar para trás .

- Fechado. Apertei a mão de Vicente na  esperança de ganhar aquela aposta ridícula. Não demorou muito tempo para a tal médica chegar, ela me mandou deitar e erguer a blusa, fiz como ela havia me pedido e logo depois ela passou em minha barriga uma espécie de gel gelado que me fez estremecer . Durante todo o processo Vicente segurava minha mão, nunca me imaginei voltando para a capital , muito menos que Vicente se tornaria tão importante em minha vida e como consequência se tornasse pai do meu filho. Alguns segundos se passaram e começamos a ouvir batidas rápidas na tela do computador, antes mesmo que eu notasse lágrimas traidoras escorreram pelo meu rosto me fazendo perder a aposta feita minutos antes, outros segundos se passaram e uma segunda batida invadiu aquele ambiente, o choque foi , claro, de início, o que me fez parar  e olhar para a médica.

- Aconteceu alguma coisa?

A médica ria olhando para a tela do computador, olhei para Vicente que chorava muito, só eu parecia não entender o que estava acontecendo ali.

- É seu primeiro filho?

- Sim, nós temos um adotado, mas nosso mesmo é o primeiro. Disse olhando assustada para a médica que continuava a olhar a bendita tela do computador.

- Então, meus parabéns, vocês serão pais de gêmeos .

- O que?

Senti minha respiração ficar acelerada, olhei para Vicente que continuava a chorar, olhei para minha barriga que mal parecia e a cutuquei umas duas vezes, aquilo não podia ser verdade, senti meu rosto queimar e só então notei que chorava igual a Vicente. Eu, mãe, de, gêmeos .

Saí da sala mais uma vez sendo carregada por Vicente, eu não conseguia raciocinar, dois, se um já havia me deixado em choque imagine dois, seria tudo dobrado, tudo. Como dizer a Felicia? Como encarar Charlie com essa notícia , Vicente dirigiu todo o trajeto quieto, ele não disse sequer uma palavra, pensei estar voltando para o apartamento, mas assim que paramos em um conjunto de prédios no centro da cidade comecei a imaginar um milhão de coisas, inclusive que Vicente me internaria em algum tipo de clínica.

- O que estamos fazendo aqui?

- Você vai ver.

Ao entrarmos em um dos prédios, vi Vicente pegando uma chave, seguimos para o elevador e subimos até o quarto andar, segui Vicente em silêncio, depois de pararmos em frente uma porta branca com o número duzentos e quatro, Vicente finalmente disse algo.

- Abra a porta.

Eu abri a porta já esperando uma clínica de repouso ou algo do tipo quando me depare com um sala, uma sala como qualquer outra, televisão, sofás , luminárias , me virei para Vicente que sorriu e me puxou para dentro do apartamento.

- O que você está fazendo?

- Bom, antes de saber que são dois bebês, eu , se me lembro bem , fiz uma aposta com você, quem ganhou mesmo?

- Você . Revirei os olhos me amaldiçoando por dentro por ter feito aquela aposta ridícula.

- Isso mesmo, e quem perdesse ia fazer o que mesmo?

- Ia cumprir um desafio , sem negar e nem dar para trás.

- Meu desafio é o seguinte  Eliza.  Vicente se ajoelhou na minha frente e tirou uma caixinha vermelha do bolso, as lágrimas me envolveram ao ponto de borrarem todo meu rímel.

- Eliza, quer casar comigo? Eu sei, era para ser surpresa, uma surpresa feita na noite em que você foi embora a dez anos atrás, mas fazer o que, não era o tempo certo, era para acontecer, agora, assim, desse jeitinho que está acontecendo.

Eu mais uma vez fui pega de surpresa, casar? Eu já tinha feito isso antes, mas não assim, não com alguém que me amasse de verdade, queria ser capaz de responder mais as lágrimas me impediam de falar, o nó que se formou em minha garganta foi tão forte que só as lágrimas eram capazes de expressar o que sentia naquele momento. Depois de um tempo chorando , tentado me recuperar por tudo que de uma hora para outra a vida jogou em meu colo, consegui sorrir, um sorriso fraco, mas que serviu como resposta para a pergunta de Vicente.

Ele me abraçou , eu o abracei , ficamos abraçados e depois de um longo tempo em forma de sussurro a resposta foi realmente convincente .

- Eu aceito. Mas agora me fala, por que fazer o pedido em um apartamento?

- Porque esse apartamento é nossa casa agora, comprei assim que voltei de Portugal, mobilhei , mas não vim morar aqui.

- E por que não?

- Porque você estava morando com a Felicia, acho que no fundo eu tinha esperanças de que nós  íamos ficar juntos de novo.

- Juntos e com filhos, quem diria.

- É meu amor, quem diria.

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