Capítulo 24

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Dormir era a única coisa que eu queria fazer e a única coisa que eu não conseguia fazer, pelo menos não no momento. Fazia mais de uma hora que eu tinha acordado, o suposto médico que viria conversar comigo e com Vicente não aparecia, comecei a ficar irritada, era horrível  não saber o que  esperar de uma conversa como essa. O que mais me  assustava era que todos estavam ali, estavam ali comigo, por mim. Vicente andava de um lado para o outro dentro do quarto e aquilo me deixava ainda mais ansiosa, Felicia  estava sentada com aquele barrigão na poltrona do meu lado e Vinícius não parava de sair do quarto, sempre que saía voltava com algo diferente nas mãos, era evidente que todos ali estavam nervosos, estavam ansiosos assim como eu para saber o que tinha acontecido.

Nunca fui otimista e talvez isso tenha me ajudado em situações ruins, mas desta vez, um nó se formou em minha garganta e a cada minuto que se passava ele só aumentava, por mais  que eu tentasse lembrar que na vida nós devemos estar preparados para o não, isso não me acalmava, eu não sabia o que esperar e isso era o que mais me incomodava, não tinha nada, nem uma base, nada que eu pudesse me dar esperanças ou acabar com  elas de vez. Minha mãe dizia que em várias situações o melhor  a se fazer era visualizar o final que você queria viver, fechei os olhos com força e tentei visualizar, visualizei meus filhos ainda dentro de mim , bem, saudáveis , visualizei uma família grande e feliz, os gêmeos correndo pela casa e Charlie já adolescente, visualizei , com todas as minhas forças, com tudo que fui capaz, nos mínimos detalhes e isso foi o bastante para abrir os olhos e ver todos que ali estavam me olhando, foi então que notei que lagrimas  escorriam pelo meu rosto, eu estava chorando, chorando por acreditar que aquilo tudo era possível , ou então, por no fundo saber que aquilo jamais aconteceria, por mais que visualizasse  eu não acreditava, não de verdade como devia ser.

Depois de duas horas me remoendo por dentro, me deitei na cama hospitalar  esperando que o sono me levasse para uma realidade completamente diferente da que estava vivendo, mas assim que fechei os olhos as batidas na porta fizeram meu coração parar de bater por míseros segundos. Tinha chegando o momento, o momento de saber que rumo minha vida tomaria e eu não podia estar  mais psicologicamente abalada, me sentei na cama e quando Vicente abriu a porta vi um homem de branco, seus cabelos eram grisalhos, aparentava ter seus cinquenta anos , fiquei pensando em quantas notícias ruins ele já havia dado em toda sua vida profissional, provavelmente essa seria só mais uma, eu seria só mais um caso de aborto espontâneo , por mais  que Vicente, Felicia e Vinícius falassem que não, que ainda tinha esperanças eu sabia o que tinha acontecido, afinal, aconteceu dentro de mim, no meu corpo, ou me conhecia muito mal ou estava com a razão.

- Bom, eu gostaria de falar só com a mamãe e com o papai dos bebês.

Felicia fez cara de choro e Vinícius saiu do quarto a arrastando, eu sabia que ela melhor do que ninguém me entendia nessa situação, claro, não tanto, pois seu bebê estava bem e estava vivo dentro dela. Thiago, Henrique, enfim, ele estava bem, já meus filhos algo me dizia que nem mais comigo  estavam, esse pensamento me fez  sentir vontade de chorar, o nó que antes  crescia em minha garganta agora mal me dava passagem para respirar.

- Eu esperei que você acordasse e mandei os outros saírem do quarto porque o que eu tenho para falar com vocês é realmente algo que a medicina não consegue explicar. Dona Eliza, em casos como o seu é comum que a mãe após sofrer uma hemorragia perca o bebê, o que no seu caso foi ainda mais intrigante porque não era apenas um bebê, são dois. Revi várias e várias vezes seus exames antes de termos essa conversa, eu em trintas anos de medicina , nunca havia presenciado  um milagre tão grande como esse. Seus filhos estão bem, estão por incrível que pareça mais saudáveis do que antes , a senhora teve uma hemorragia que foi controlada, se demorasse mais cinco minutos para chegar nesse hospital daria entrada a um início de aborto , o que com certeza acabaria  com a vida dos bebês, é claro que seu útero se mostrou fraco, o que é normal ainda mais por serem gêmeos , mas o que te peço é que fique em repouso absoluto nos próximos três meses, é bom tomarmos as seguintes precauções , acredito que queira esses bebês tanto quanto viver. Ficará em observação está noite e pela manhã passarei aqui novamente para examina-la e dar uma possível alta . Passar bem. Boa tarde.

Assim que o médico saiu pela porta um alivio grande me invadiu e fiquei imensamente grata por entre  me conhecer muito mal e ter razão, me conhecer muito mal era a real alternativa. Meus bebês  estavam ali , ainda estavam comigo e isso não podia me deixar mais feliz, Vicente chorava e tremia ao mesmo tempo, procurei palavras para acalma-lo mais percebi  que estava tão nervosa  quanto ele e que cada um tinha um jeito de expressar sua forma de agradecimento, com certeza a de Vicente era chorando. Depois da conversa com o médico, Vicente ficou ao meu lado o resto da tarde, Felicia e Vinícius foram embora para casa , até porque Felicia precisava descansar , muita adrelina não faz bem nem para um adulto, quem dirá para um bebê. Durante a noite fui muito mimada por Vicente que não dormiu um segundo sequer, me contou histórias de quando era criança, me contou o que fez durante os dez anos em que nos mantivemos afastados, me contou tudo que eu não sabia e mais um pouco, para muitos uma coisa boba, para mim, aquilo tudo era sinal de que eu havia reconquistado sua confiança por completo e que finalmente ele me amava tanto quanto eu o amava.

O dia amanheceu e Vicente pegou no sono sentado na cadeira com a  cabeça na cama, ele estava todo desajeitado, mas continuava lindo, enquanto ele dormia me coloquei a observa-lo, ele não aparentava ser mais novo, não aparentava ter passado por metade do que já havia passado, mas algo que pude notar e fiquei muito feliz por isso foi que entre tantas coisas que ele não aparentava ser ou fazer pude notar que ele aparentava ser feliz, mesmo dormindo, parecia estra feliz e não tive dúvidas de que nós três erámos o motivo dessa felicidade, sem mais demora me ajeitei ao seu lado de forma que minha cebeça tocasse a dele e ali, naquele pequeno espaço adormeci, adormeci com a certeza de que quando eu acordar tudo vai estar extamente como sempre esteve. Tudo sob controle.

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