CAPÍTULO 2 - Dragão Amarelo

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( Verdadeira forma de Wind na multimídia)
  Eu poderia ter caído em prantos ali mesmo no hospital. Mas não era hora de se lamentar. Ela ainda estava viva e precisava de mim. Mesmo que fosse impossível chegar a tempo de salvá-la, eu tinha que tentar.
  Corri para fora do hospital. Era muito longe de casa. Nos vinte primeiros passos já pude sentir a dor da facada crescer e arder por todo o meu corpo. Mas a vontade de salvar minha mãe era maior. Enxuguei as lágrimas, ignorei a dor e continuei a correr mais rápido.
  O caminho se revelou infinito. Parecia que a terra conspirava contra mim e se estendia para que eu nunca chegasse até ela.
  Mas então, eu cheguei.
  Ruínas, era em que se resumia aquele lugar. O sangue estava levando todos que eu conhecia e o fogo queimando tudo que restara.
  Os moradores fugiam da destruição, corriam sem parar em busca de salvar suas vidas.
  Indo mais longe, um punhado de homens, usando roupas nórdicas em um tom azul-marinho, comandavam os homens lobos.
  Medo, raiva, angústia, desespero, tudo se acumulava dentro de mim.
  Um homem bem mais velho ao meu lado - com certeza um bom pai - abraçou seu filho pela frente para servir de escudo. E foi exatamente para isso que ele serviu. Pois uma flecha foi disparada em sua costas e eu fechei os olhos como se pudesse impedir sua morte.
  Obriguei o garoto a correr em qualquer direção que não fosse a dos lobisomens. Para fugir. Ele chorando, assentiu e deixou o corpo de seu pai.
  Um alivio momentâneo pairou em mim quando consegui avistar minha mãe. Do mesmo jeito que a vi na tevê, ainda embaixo daquele carro clamando por ajuda. Todos fugiam o mais longe possível do ataque, mas eu não, eu estava indo na direção dele.
  Fui correndo até ela e dois lobisomens pularam para cima de mim.
  Mas então...
Meu braço queimou e dele começou a surgir uma forma desenhada, como uma tatuagem. Já na outra mão uma pequena luz se iluminou e surgiu uma espada - longa de listras vermelhas e ferro chamuscado.
  Quando então a razão foi embora e meu sentimento de raiva me dominou. Pois em vez de esquivar do ataque dos lobisomens, eu me joguei em cima deles. Caímos sobre o chão. Enquanto rolávamos na terra as unhas longas do lobisomem deslizaram-se com força pelo meu peito. Até que paramos, estando em cima dele, eu tinha total vantagem. Ele se debateu por uma última vez quando lhe apertei forte pelo pescoço e com a outra mão cravei minha recém espada em seu peito. Eu não fazia a mínima ideia de como ela havia aparecido, mas pouco me importava, tinha de salvar minha mãe.
  Levantei a cabeça e a avistei - estava perplexa com a cena, ela parecia não acreditar no que havia acabado de ver - mas realmente, nem eu entendia o que estava acontecendo.
  Me apoiando na espada, como se usasse um cajado, levantei e tentei seguir rumo à mulher mais importante da minha vida. Foi então que o segundo lobisomen - no qual eu já havia esquecido - cravou suas unhas nos dois lados do meu pescoço e me puxou ao chão.
  Era estranho, mas parecia que o sangue que jorrava de mim só me deixava mais forte.
  Enquanto isso, os homens de azul apenas assistiam a luta. Não me atacavam e muito menos minha mãe. Como se quisessem que eu estivesse ali. Como se soubessem quem eu era e dos meus recentes poderes - se é que posso chamar sangue frio para matar de poder.
  O lobisomem avançou fazendo um arco com as garras.
  Eu interceptei seu ataque com minha espada e o deixei vulnerável. Então me joguei como uma lança até ele. Senti suas unhas cravarem meu abdome mas foi seu último ato após eu enterrar minha espada bem no centro de seu crânio.
- É ele? - Perguntou um dos homens de azul ao seu parceiro mais próximo.
- Com certeza é ele. - O que respondeu a pergunta sorriu como se eu fosse sua presa.
  Segui até minha mãe. Os dois homens me atacaram e eu entrei em combate. Seus movimentos eram rápidos, diferente dos meus que eram brutais e pesados. Como se a espada pesasse no mínimo cem quilos.
Pensei que poderia detê-los, só ilusão minha. Me acertaram com golpes rápidos e eu recuei, meus olhos se movimentavam rapidamente à procura de algum caminho para cruzar aquele obstáculo.
  Mas por que os outros não me atacavam? Havia dezenas deles lá.
Avistei uma brecha na esquerda, talvez eu conseguiria cruzar por ali. Corri com as forças que me restaram mas minha última esperança se esvaiu quando uma bola de fogo - envolvida em outra chama meio azulada - explodiu abaixo de mim. Eu caí o mais longe possível de minha mãe. Em um beco. Mas ainda podia vê-la. Tentei levantar mas não tinha mais forças. Meu corpo todo estava quebrado.
- Mãe!  - Consegui falar.
  Mas ela não me escutava. Quando então, a morte levou tudo que eu amava em apenas um instante. O instante em que aqueles dois miseráveis cravaram suas espadas nas costas de minha mãe.
- Eu te amo, meu filho. - Foi o que consegui ouvir de sua boca ensanguentada.
  Gritando e tentei me levantar. Mas caí e tentei levatar-me novamente. Então caí de novo, e a segunda queda foi inevitável.
  - Por favor. Não façam isso, eu só tenho ela... - O choro engoliu o resto de minhas palavras.
- Own. A mamãezinha dele morreu. - Zombou um deles.
- Chega de brincadeiras. - Bufou outro. - O que vamos fazer com ele?
- Evitar que o Lobo Vermelho renasça. - Afirmou.
- Certo. Lobisomens! - Ele gritou e apontou para mim como um comando de ataque.
Um bom punhado de lobisomens uivou e avançou. Minha força se esvaiu por completo, dei uma última olhada para o corpo de minha mãe e aceitei minha morte. É como dizem, ela é inevitável.
  Meus olhos já se fechavam. Mas então uma figura surgiu em minha frente. Um homem usando uma roupa de couro com traços amarelos, não carregava nenhuma arma mas atacou os lobisomens. Surgiram mais três junto a ele, já esses armados com espadas e o terceiro tinha um grande facão. Uma pequena batalha se formou em minha frente e quando meu corpo já não se aguentava mais, eu desmaiei.
 
   Acordei em uma cabana. Como se tivesse saído de um sonho terrível minha respiração estava ofegante e eu estava com medo. Mas não era um sonho, infelizmente, tudo era real.
- Minha mãe, preciso... preciso buscá-la. Tenho que ir. - Tirei as cobertas que estavam sobre mim e me levantei da cama.
  Um homem surgiu na minha frente, possivelmente estava ali mas eu não havia visto.
  Ele pôs a mão com força sobre o meu peito e apenas balançou a cabeça negativamente. Como se quisesse dizer: Não dá mais, garoto.
  Ao encarar seu rosto o reconheci. Era o homem que havia me salvado dos lobos.
Seu rosto era jovem, mas algo me dizia que ele era mais que experiente. Tinha pouca barba - aparada - , seu corpo era meio esguio, cabelos um pouco encaracolados e olhos amarelos, como os de um dragão que de certa forma me ordenavam a recuar e descansar.
- Sente-se. Seu corpo desacostumou a andar, irá cair se tentar.
- Me deixa ir. - Retirei sua mão de meu peito.
  E como ele havia dito, meu corpo se desequilibrou e eu fui perdendo o controle. Estaria no chão se ele não tivesse me segurado.
- Acalme-se. Sou seu amigo. Meu nome é Wind. Dragão Amarelo. O Primeiro Protetor. O Protetor das montanhas.
- Você... você me salvou. - Consegui dizer.
- Sim. Mas infelizmente, falhei em salvar quem mais importava pra você. - Não entendi o porquê, mas em seus olhos não pareciam ter tristeza por mim, e sim, por ele.
- Era meu dever salvá-la e eu falhei. - Pensei em tirar sua mão de mim mas sabia que iria cair novamente se fizesse isso.
- Você lutou bem. - Me olhou como se estivesse orgulhoso. - O Lobo já renasceu em você, Kevin.
- Oh, meu Deus. Mais uma vez isso. - Coloquei as mãos sobre a cabeça. - O que é esse Lobo? Por que atacaram minha rua? E o como... como eu tenho essa... - Olhei para a tatuagem com uma cara de repugnância. - essa coisa?
- Eu irei lhe explicar tudo. Mas primeiro. Quero que saiba que tudo muda a partir daqui. Que esse - Ele abriu a porta da cabana. Havia imensos campos com agricultores, espadachins de idades diversas treinando uns com os outros, arqueiros brincando de tiro ao alvo e uma garota baixinha amassando com um pilão em uma tábua diversos tipos de plantas com algums senhores mais velhos. - é o seu novo lar.
- Você não acha que tem muita coisa pra me explicar? - Pergunto.
Wind baixa o olhar e começa a pensar em algo
- É. Tenho sim.
  Ele me solta e sigo seu conselho de sentar. Quando desabei sobre a cadeira, não pude deixar de reparar no porta retratos que tinha em cima de um caixote de madeira. Parecia uma foto de amigos mas em um tom preto e branco e com a aparência bem antiga. No retrato havia um cara pardo de cabelos curtos sorrindo alegremente, abraçando o pescoço de uma loira que também sorria mas tinha um olhar penetrante, logo ao lado um sujeito mais sério de cabelos lisos mas que já estava calvo, seguido por uma mulher negra de cabelos até os ombros e por último... espera, Wind?
- Como você está nessa foto? Isso deve ter sido tirado há uns cem anos...
- Cento e vinte, pra ser mais exato. - Me interrompeu
- E você... está aqui, do mesmo jeito... ainda vivo.
  Ele sorriu de canto, mas apenas um sorriso breve de quem tinha uma velha história para contar.
- Como eu disse: Ainda tem muita coisa para ser explicada.

A Sexta Irmandade (Vol.1) - O Lobo Vermelho Onde histórias criam vida. Descubra agora