CAPÍTULO 19 - Problemas com química

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- CO2 é dióxido de cálcio - afirmei.
- Dióxido de carbono - Liz protestou.
- Não é tudo a mesma coisa? - Tentei convencê-la.
- Nem fudendo! Se não souber diferenciar ao menos isso, sua nota não chegará nem ao três.
- Olha o palavreado - alertei. - A senhora da biblioteca vai reclamar.
E assim foi feito. Dona Dollores pediu silêncio e fuzilou Liz com o olhar por conta do palavrão.
- Desculpa - Liz revirou os olhos repugnando Dollores. - A gente não pode nem tentar ajudar o colega que a mulher da biblioteca reclama.
- O nome dela é Dollores.
- Foda-se...
- Liz! Olha a língua.
- Por favor, Kevin. Falta um dia para a prova e você ainda não sabe nem diferenciar cálcio e carbono.
Liz estava exaltada, eu sei. Conhecia a garota desde os dez anos, sabia que quando ela ficava desse jeito, só significava preocupação. Ela não estava com raiva de mim, só preocupada com a bendita prova de química - matéria na qual ela sempre foi melhor do que eu.
- Nossa mano... só me deixa tentar fazer por merecer, certo? Você tá tentando me ajudar e eu não sei de nada sobre... é... essas coisas que tem aqui.
- É, a parte inexplorada por você da apostila, chamada química.
- Pois é. Olha - segurei sua mão - , vamos pra casa. Eu estudo mais um pouco e você vai descansar. Tá quase escurecendo, Liz.
- Acha que consegue fazer alguma coisa sem mim? - Puxou seu braço com força. - Você não vai aprender toda essa matéria sozinho, é muita coisa pra decorar em uma noite e...
- Mas eu consigo - interrompi. - Isso se formos logo, não é?
Liz ficou me encarando até esperar que eu mudasse de ideia, só que não aconteceu.
- Certo. Vamos pra casa.
Um fim de tarde como qualquer outro, caminhar com Liz pelos cantos inabitáveis de Londres sem se importar quando chegaria a noite. Quer dizer, eu até tinha um pouco de consciência de quando já era tarde demais, já ela nunca teve.
Compramos batata frita no caminho. Eu só tinha dinheiro para um pratinho, então nós dividimos. Obviamente, ela foi mais malandra e comeu mais do que - é engraçado porque só dei conta quando já havíamos acabado. Mesmo o dinheiro sendo meu, eu não era do tipo que brigava por algo assim. Na verdade, até me senti melhor, afinal ela estava com mais fome. Sei disso porque percebi sua decepção ao avessar os bolsos e perceber que eles estavam secos. Próximo de casa, senti uma palmada em minha bunda.
- Liz! - Protestei.
- O que foi? O que eu fiz? - Suas palavras soaram tão ingênuas que outros acreditariam nelas.
- Você bateu na minha bunda.
- Eu sei. Mas faz parte das Leis dos Melhores Amigos.
- O que? - Disse eu incrédulo. - Quem inventou isso?
- Você - ela riu.
- Ei, eu tinha dez anos. E com certeza, não teria colocado isso nas leis.
- Mas algumas leis são alteradas, não? - Ela soltou aquele sorriso no qual eu tinha vontade de estrangulá-la. - Já vai pra casa ou vamos jogar um pouco na minha?

Naquele dia, eu decidi ir para casa. Se eu soubesse no que a minha vida se tornaria, eu teria escolhido a opção contrária. Teria escolhido passar o mais tempo possível com ela. Se eu podesse ter me divertido mais, abraçado minha mãe mais vezes, estudado mais para aquelas provas difíceis, escolhido mais vezes aquilo que era melhor pra mim... minha vida como humano teria valido mais a pena. Não há nada pior do que um dia você chorar pelo tempo perdido que nunca poderá ser recuperado, se lamentar pelo o que fez e deixou de fazer. Mas sabe de uma coisa, esse foi o meu passado, ele não pode mais ser alterado. O meu futuro, sim. Podemos mudar nosso futuro a cada instante, a cada escolha que fazemos certa ou errada, a cada não que decidimos para uma pessoa ou por cada vez que deixamos elas irem. Use seu presente para alterar o futuro, e só assim poderá recompensar o seu passado. Eu sei que não é fácil se levantar e partir para o ataque depois de tanto tempo caído, mas a vida é uma só, e o único representante dela nessa terra é você.
Então eu consegui não me afogar nesse mar de lembranças. Senti o fogo vivo em minha garganta e o escarlate dos meus olhos.
- Você tá bem? - Perguntou Nina.
- Sim... eu só... só tava lembrando de umas coisas. Nada importante.
Me dei conta de que estávamos caminhando até Liverpool. Sim, já anoitecia, dois dia apenas para eles terem toral poder da Lámina e nós tinhamos que caminhar de Londres à Liverpool.
- Acho que acabou - concluiu Chloe.
Ela estava certa. O que mais faríamos? Eram tantos quilômetros para andar. Obviamente, não poderiámos pegar um avião ou algo do tipo, eles não tinham identidade e eu era um homem morto. Foi quando então aquela voz ecoou em minha mente, Aurora.
Acho que não conseguiram muita coisa.
- Não - afirmei com sinceridade.
- Como assim não acabou, Kevin? - Protestou Chloe.
- Eu tô falando com Aurora.
Ethan logo se alertou, possivelmente pensou o mesmo que eu.
- Lembra do portal que ela fez de Briston até aqui? Aquele buraco no chão da floresta.
- Sim. Você seria capaz de refazê-lo?
Sou. Porém, estarão me devendo um favor em troca.
- Salvar nosso mundo de exércitos de monstros já não é o bastante? - Perguntou Chloe com raiva.
Fiz um sinal com a mão para pedir que ela se calasse, mesmo sendo um pouco injusto a atitude de Aurora, não teríamos outra opção para chegar em Liverpool.
Vão para alguma floresta - Ordenou ela. - Meu poderes se limitam até elas.
Fomos à mais próxima correndo como loucos.
- Estamos aqui.
Own, que fofos vocês. Escolheram a floresta de minha melhor amiga. Floresta de Dafne.
- Você pode por favor fazer um portal para Liverpool e outro para a entrada do acampamento.
- Para que você quer uma entrada para a entrada do acampamento? - Perguntou Nina sem entender.
Os dois buracos/portais surgiram em nossa frente.
- Obrigado, Aurora.
- Para que o outro portal? - Meus amigos continuaram contestando.
- Aurora, tem certeza de que esse nos leva de volta ao acampamento?
Juro por todas as florestas nas quais sou detentora. Acredita, pode confiar em mim. Kirish, o grande Lobo Vermelho, implantou em mim uma mágia que me torvana um espírito do bem, por isso não posso mentir.
- Certo - resolvi confiar.
Talvez você me julgue pelo o que fiz. Mas eu não podia deixá-la morrer em uma guerra que estava próxima, se Rapina conseguisse, seria nós contra monstros - inúmeros monstros. Não como foi na estação de trem ou no quintal de Liz, mas um exército. Eu não poderia deixar que ela morresse por minha causa.
- Desculpa, Nina.
Empurrei ela dentro do buraco que ia ao acampamento mais rápido do que sua percepção de contra-ataque. E então, Nina estava de volta em casa.

A Sexta Irmandade (Vol.1) - O Lobo Vermelho Onde histórias criam vida. Descubra agora