CAPÍTULO 14 - Oi. Eu sou o Jeff.

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  - Morram! - Uma pedra atravessou a janela acertando a cabeça de Ethan.
  - Ah, merda. O que eu vou dizer pros meus pais? - Liz se desesperou.
  Ethan disparou uma flecha certeira na cabeça de um baixinho.
  - Obviamente que um anão de seis braços apedrejou sua janela. Tem desculpa mais sensata?
  - Certo. - Chutei a porta dos fundos. Foi mal, Liz. - Vamos!
  Nós dois saímos simultaneamente enquanto dezenas de anões cinzentos avançavam para cima de nós. Após um golpe que tive a necessidade de me agachar, Ethan usou minha coxa como impulso para subir para o telhado da casa. Lá ele massacraria os anões com apenas algumas flechas. Eu e Nina ficamos no solo, Chloe no quarto junto à Liz - que queria porque queria lutar, mas obviamente não deixei. Alguns anões jogaram bombas de fumaça. O tempo todo tentei não me desaproximar de Nina para que não nos separássemos, mas isso acabou sendo feito. Aquelas miniaturas de seis braços apareciam de surpresa por conta da fumaça armados com adagas. Não sei como, mas Ethan ainda acertava flechadas mesmo sem ver nada. Até que um vento forte fez a fumaça ir para longe, Ethan havia solucionado o problema. Mentalmente agradeci. O pouco tempo que fiquei longe de Nina quase causou sua morte. Ao olhar para trás os anões estavam amontoados em cima dela. Tentavam lhe comer como zumbis. Ela gritou por ajuda:
  - Kevin!
  Corri como um louco para salvá-la. Um misto de desespero e raiva me dominou, não me importei se haveria inimigos nas minhas costas prontos para me atacar ou qualquer armadilha em minha frente, só queria salvar Nina. Matei aqueles anões cinzentos com tal brutalidade que às vezes prefiro esquecer. Meu desespero para salvá-la foi tão grande que não hesitei em jogar aquele pequeno monstros em cima de cercas de metal pontudas. E nem em fazer o que fiz com os outros. Quando terminei, levantei Nina e limpei seu rosto.
  - Você tá bem?
  - Me desculpa. Eu deixei com que me pegassem.
  - Não. Eu que deixei. - Me senti culpado - Fica perto de mim. Certo?
  Ethan continuou nos dando cobertura com as flechas. O poder da Águia era tão magnifíco. As flechas ziguezaguiavam por conta do vento. Algumas eram mágicas e explodiam ao primeiro contato.
  Ela fez que sim com a cabeça. O suor fazia seus cabelo estarem colados em sua testa e suas mãos agora tremiam com o peso da arma que empunhava. Ela devia ter sentido medo quando os malditos estavam lhe agarrando. Me sentia aliviado por ter chegado à tempo, mas também culpado por ter deixado acontecer. Se eu estivésse mais próximo a ela e não tão longe... Algo relativamente estranho era que os anões viraram pó após mortos. E com o tempo, a brisa os levava.
  Um vento pesado jogou mais anões para longe. Mais flechas flamejantes atearam fogo nos inimigos. Ethan esquivou de algumas pedras e se posicionou, seu corpo estava tão paralisado quanto uma estátua. Mas ainda pude sentir seu único suspiro.
  - Uma Águia - Puxou o ar para dentro. - Só precisa de uma flecha. - Ele a disparou com maestria e destreza. Ela passou por mais de cinco anões e se acoplou na parte inferior da árvore do quintal da casa de Liz. Ethan havia errado? Não. Claro que não. Em poucos segundos o forte ácido que se agrupava aos montes na ponta da flecha corroeu as raízes e a árvore caiu em cima de uma boa porção de anões. É importante ressaltar que Ethan gritou MADEIRAAA.
  Agora restara apenas um.
  - Não o mate. Precisamos de mais informações. - Chloe saiu do quarto. Liz tentou vir em seguida mas ela ordenou que minha amiga permanecesse lá, mas obviamente Liz não seguiu o comando.
  Atrás da casa de Liz havia uma pequena mata e por lá o anão fugia aos tropelos com a esperança de não acabar como seus amigos.
  O anão já estava à uma distancia que realmente só Ethan conseguia ver. Com um sorriso de canto estampando bo rosto Ethan Hall armou sua flecha apontando para o que para nós parecia ser o nada.
  - Ah, não, meu amiguinho. Você não pode fugir do vento. - Sua flecha saiu em alta velocidade.
  - Acertou? - Perguntei pois não tinha a visão necessária para saber o resultado.
  - E quando eu errei? - Guardou o arco nas costas.
  - Exibido. - Bufou Chloe.
  Liz que estava até então calada urrou com intensidade.
  - Que loucura, Kevin. - Disse ela com animação. - Eu sabia que tinha mudado, mas como fez tudo isso? Parecia aqueles personagens de videogame. Acho que seria um legal para jogar no Mortal Kombat. Pensa bem O Lobo Vermelho e a Águia do Vento - Fez um movimento com a mão como se estivesse me mostrando o pôr do sol. - Ia ser demais. Pelo visto, deve ser muito legal ter os poderes de um Protetor. Um dia vou querer ser uma.
  - Quando esse dia chegar espero que eu tenha morrido. - Murmurou Chloe.
  - Melhor não, Liz. - Me preocupei com o destino da terra ao pensar em Liz como uma Protetora.
  - Então, pessoal! - Liz falou com entusiasmo. - Vamos botar pra quebrar com o baixinho?
  Era impressão minha ou ela estava tentando ser uma de nós? Não que há algo de especial nisso. Nós não éramos uma equipe ou time, e sim um grupo de pessoas que perderam coisas... perderam pessoas. Não puderam viver suas vidas e agora tentam impedir o fim de outras muitas.
  - Nina. - A cutuquei com a parte inferior do cabo da espada. - Por que essas coisas quando morreram viraram pó?
  - Demônios Cinzentos são assim. Monstros morrem e suas almas vão para debaixo da terra. Já eles só viram pó e nós não sabemos direito para onde vão. Talvez renascem algum dia ou simplesmente seguem o mesmo caminho dos monstros.
  - Eles nos causaram problemas. - Disse eu em um suspiro cansado. - Suponho que haja outros tipos de Demônios Cinzentos.
  - Acredite, existem piores.
  - Bom saber. - Resmunguei.
  Seguimos andando até o anão caído na mata, inclusive Liz. De acordo com Ethan ele rastejava pela terra seca e cheia de folhas caídas do outono agarrado em raízes de árvores nas quais serviam para lhe trazer impulso. Era verdade, pois eu podia sentir seu cheiro ao rastejar pela terra.
  Andando ou correndo, chegariamos até ele e o teimoso com certeza não seria capaz de fugir. Usei minhas narinas para sentir alguma aproximação diferente, mas nada ocorreu. Era apenas nós e o anão. Chloe apressava o passo e eu tinha receio do que ela faria, mas era Chloe. Qualquer tentativa de conversa ou de acalmá-la seria inútil. Mas não custava tentar, não é mesmo?
  - Chloe. O que vai fazer?
  - Ele falar. - Ela puxou uma de suas adagas de seu coldre.
  A lámina foi lançada e passou rápido como uma bala de raspão na orelha do anão cinzento.
  - Pensei que ia me matar sua vaca. - Gritou com Chloe. E sinceramente, não era nada sensato a fazer com aquela menina.
  - Na verdade, eu errei. - Ela o agarrou e o jogou com toda força em uma árvore.
  Senti seus ossos estalarem ao impacto com a madeira.
  - AI! - Gritou ele em dor. - Ei, ei. Eu não fiz nada de errado.
  - Não fez? - Chloe chutou seu rosto. - Tentou matar a mim e meus amigos. - Soltou um soco enquanto o segurava pelo colarinho. - Mas a mando de quem? Anões imundos como você não fazem nada sem que tenha uma boa recompensa. Então me diga, seu monte de merda, quem mandou você aqui?
  Chloe falava com tanta firmeza que mesmo Nina parecia assustada e não reconhecendo sua amiga. A última vez que eu havia visto ela falar daquele jeito foi no meu segundo dia no acampamento quando colocou uma faca no meu pescoço e me ameaçou de morte. Coisa que amigo faz de vez em quando com o outro, bem normal.
  - Nós vinhemos pela recompensa. - Confessou o anão.
  - Que recompensa? - Gritou Chloe com firmeza.
  - Você não sabe? - Ele riu o suficiente para tossir sangue. - Quem vencer o jogo vai ficar rico e poderoso.
  Eu estava tentando entender. Jogo? Do que ele estava falando. O resto de nós parecia também não compreender. E isso só deixou minha amiga Chloe mais irritada. Eu não estava me divertindo com aquilo, mas era necessário para que a gente podesse seguir em frente.
  Chloe agarrou o anão pelo pescoço e foi arrastando seu corpo pela árvore até que ele ficasse em uma altura maior que ela.
  - Vamos! - Socou sua costela. - Seu tempo está acabando.
  Ela apertava mais seu pescoço e ele perdia mais fôlego. Mas mesmo assim parecia querer nos fazer perder tempo.
  - O jogo, princesa. Quem matar Ethan Hall até esse final de semana ganha o prêmio.
  Chloe estava perdendo a paciência que ela já não tinha.
  - Que prêmio? - Em sintonia com suas palavras, as costas do anão se chocaram com a madeira novamente.
  Ele ria mesmo com dor. E pelo seu estado, com certeza o esforço era tamanho para soltar tal risada.
  - E isso importa? Nós não éramos os únicos a querer pegar Ethan Hall. - Lambeu seus próprios lábios ensanguentado. - Além do mais, ele já está aqui.
  - Ele quem? - Chloe fincou a faca na madeira à poucos centimetros da orelha dele.
  - Bom. - Sorria como se soubesse algo à mais do que nós, na verdade, ele sabia mesmo. - Tampem os ouvidos.
  Nina foi rápida o bastante para tampar os meus. Mas ela não se preocupou com os seus. Os deixo expostos mesmo sem saber as consequências. Na verdade, talvez ela soubesse e por isso foi tão rápida em tampar os meus. Quase tão rápido quanto Nina, Ethan tentou fazer o mesmo com os seus mas na metade do caminho ele paralisou. Olhei para frente, Chloe também estava paralisada, ainda despejava a força de seus braços no anão cinzento mas sua mente parecia morta, seus olhos não piscavam. Liz olhava para o chão, a terra molhava à medida que suas lágrimas caíam. Mas ela não se mexia, exatamente ninguém se mexia.
  - Liz! - Retirei as mãos de Nina da minha cabeça e corri até minha amiga. - Por que você está...
  - Você não vai voltar, Kevin. Vai morrer lá. Eu vejo você morrendo. Não tem escapatória. É uma missão suicida. - Liz me agarrou forte pela minha jaqueta. Seu choro continuava.
  - O que? Do que você está... - Liz sumiu, assim como meus amigos em minha volta. - O que tá acontecendo?
  Medo. Eu estava com medo. Mas por que? Nós estávamos juntos e nada estava acontecendo. Mas eu tinha sensação de que eu deveria parar. Desistir e aceitar a morte. Mas o que isso tinha a ver?
  Então tudo escureceu. O dia virou noite e o mundo se inverteu. As folhas da floresta ressecaram e a lua perdeu seu brilho. Eu estava em um mundo escuro, mas esse parecia ser o meu mundo. Por que não ficar ali? Para que me matar em algo estúpido. Preferia morrer ali do que morrer tentando salvar Sally e Sarah. Ou aquele acampamento.
  - Você está certo. - Chloe me abraçou por trás. - Essa merda não importa nada. Mas espera, você também não. Os Protetores estavam desesperados para trazer alguém tão fraco até nós. Alguém que irá nos trair assim como o canalha que matou meu irmão.
  As mãos quentes de Chloe que apalpavam meu peito me agarraram com mais força e eu fui jogado ao chão. Quando olhei para cima. Já não era mais ela. Agora Ethan estava apontando seu arco para mim. Como se ainda estivésse decidindo se soltaria aquele fio e deixaria a flecha voar até mim ou não.
  - Pensei que fosse me ajudar. Mas você me deixou na mão. Roubou minha garota e meus amigos. Só porque matou Hajick acha que pode levar todo o crédito pela missão. Não é um herói. É só um órfão perdido na floresta.
  Sua flecha foi disparada e acertou meu peito. Por algum motivo, eu já não usava mais armadura de peito. Eu estava com roupas normais. Como antes de ir para naquele hospital há 4 dias atrás. Ela parecia estar envenenada porque um ácido verde corroeu minha carne.
  Ethan sumiu. Nina se ajoelhou ao meu lado e tentava me salvar da flecha envenenada.
  - Eu vou te curar, Kevin. - Ela sorria para tentar me acalmar. - É isso que faço, sou uma curandeira. Você disse que eu era mais que isso, só que... eu não fiz nada até aqui. - Sua expressão mudou. - Você mentiu pra mim. Eu não posso te salvar. - Nina socou a flecha e ela entrou mais em meu peito.
  - Aaah! - Gritei eu declarando dor.
  Por que? Por que isso estava acontecendo? Eu queria morrer. Mas para que passar por tudo isso? Eu já sabia da verdade. Minha visão embaçou-se devido as lágrimas.
  - Por que chora, meu filho?
  Tudo parou. A dor. O medo. A sensação da morte. Aquela voz era conhecida por mim. Eu a ouvia todos os dias quando dizia " bom dia" , " te amo" ou até mesmo " volte cedo para casa, não vai dormir na Liz, hein " .
  Aquela voz... minha mãe...
  - Chorando de novo? Foi o que fez quando eu estava morrendo. E foi apenas isso. Não tentou me salvar. Não... não tentou. Ficou paralisado de medo enquanto via sua própria mãe morrer. Não é um herói, é o filho mais inútil que uma mãe poderia ter.
   Ela estava certa. Talvez tivesse vindo do mundo do além apenas para me contar isso. Algo que eu já deveria saber. Fui um inútil até agora. Deixei minha mãe morrer. Não estava protegendo Nina. Não ajudei Ethan em nada. Estava deixando Liz. E... uma mulher morreu porque não impedi Hajick à tempo, a pior parte é que eu nem soube seu nome.
  Espera. Era claro o que estava acontecendo. Alguém estava mexendo com minha mente. Eu estava deixando ele acabar comigo de dentro pra fora. Eu não podia. Ter lutado tanto para perder para as minhas emoções? Não. Eu não iria fazer isso.
  - Você não é minha mãe. - Olhei para aquele rosto no qual nunca me esqueceria. - E você também não é nenhum dos meus amigos. - Quebrei a flecha que estava enterrada em meu peito. - Meus amigos não diriam isso de mim. Minha mãe não diria isso de mim.
  Minha atitude de se levantar fez minha mãe sumir.
  - Esse não é meu mundo. Meu mundo não é feito de escuridão. - Soquei o chão com força e ele rachou como vidro. Talvez a saída daquela ilusão. - O meu mundo é feito de coragem. Feito de bondade. - Soquei novamente o chão e ele se rachou mais. - Meu mundo é feito de luz.
  O vidro então se quebrou. Eu caí e minha mente apagou. Acordei novamente junto a meus amigos na mesma floresta. Agora eu parecia estar no mundo real novamente. Era dia, e todos estavam lá. O anão havia fugido e meus amigos estavam se recompondo de um desmaio.
  - Aconteceu com vocês também? - Perguntei.
  - Sim. Eu desmaiei. - Respondeu Nina com a mão na cabeça. - Ai, que enxaqueca.
  - Não aconteceu mais nada? - Perguntei incrédulo.
  - Não.
  - Chloe?
  - O que deveria ter acontecido? Talvez o anão deveria ter alguma bomba de sono ou algo assim.
  - Não foi isso. - Disse Ethan. Seus olhos estavam vidrados. Ele estava assustado. Será que havia passado pelo o mesmo que eu? - Ele se chama Jeff. Ele entra na sua mente. Lhe pertuba das piores maneiras. Graças a Deus não pegou vocês. Mas ele me pegou. Me destroçou e por algum motivo, ele foi embora.
  - Porque eu o expulsei, Ethan. - Afirmei. - Saí do mundo da escuridão.
  - Eu não consegui. - Se lamentou. - Enquanto estava lá, fui fraco demais.
  Nunca havia visto ele tão assustado e com medo. Talvez com ele tenha sido pior, e pela sua cara, bem pior.
  Me levantei e saí correndo aos tropelos assim que percebi o estado de Liz. Ela estava deitada com a nuca escorada em um tronco caído de árvore chorando. Seu rosto estava completamente sujo de terra e seu cabelo também.
  - Liz! Liz!
Ela não me respondeu.
  - Precisamos fazer algo. Temos que levar ela para casa e...
  - Não tão cedo, Kevin. - Uma voz palpitou em nossos ouvidos.
  Uma figura jovem saiu detrás das árvores. Seus cabelos eram longos e negros, eles se estendiam até seus olhos e quase os cobriam, na verdade. Seu corpo, magro. Ele era tão branco quanto as paredes de um hospital e seus olhos arregalados em nossa direção.
  - Oi. Eu sou o Jeff.
 
 
 
 
 
 
 

A Sexta Irmandade (Vol.1) - O Lobo Vermelho Onde histórias criam vida. Descubra agora