CAPÍTULO 3 - Os protetores

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  Tudo indicava que era uma noite fria; fogueiras, agasalhos, alguns bebiam até chocolate quente. Mas eu não sentia esse frio, meu corpo ainda queimava por dentro, não tanto quanto na hora da luta contra os lobisomens mas a sensação de queimadura ainda pairava dentro de mim. Até o próprio Wind parecia sentir frio.
  - Vou te dar um tempo. - Disse ele. - É melhor você descansar a mente e tudo mais. Não quero complicar as coisas. Quando estiver pronto, me chame. Estarei próximo da sua cabana. - Wind olha mais uma vez para o lado de fora como se esperasse alguém. - Ah, quase esqueci.
  -  Ah, quase esqueci. - Ele então abriu um caixote que estava ao lado da cama. Tirou um conjunto de roupas de lá e as jogou no meu colo. - Vista essas roupas. Digamos que as suas... - Inclinou o pescoço para olhar pra mim. - São pequenas demais para você.
  Olhei para mim mesmo e percebi que ele falava a verdade. Ou melhor, percebi que eu estava diferente fisicamente. Meus bíceps haviam crescido um pouco; eu estava mais alto, talvez uns 10 centimetros; passei a mão pelo meu rosto e senti uma barba mal aparada.
  - Ah, merda. O que aconteceu? - Perguntei incredulo.
  - Descanse, Kevin. Quando estiver pronto, explicarei tudo.
  Não queria concordar em mais uma vez descansar mas meu corpo me obrigou, pois ele ainda estava esgotado fisicamente.
  - Tudo bem.
  - É melhor que se alimente antes de conversarmos. Não quero que passe mal quando lhe contar tudo. - Ele saiu da cabana. Poucos segundos depois voltou com uma cesta. - Aqui há pães, frutas e um suco de caixa. - Colocou a cesta no chão ao meu lado. - É isso, faça bom proveito.
  Ele saiu e me deixou só - com a excessão da cesta, claro -.
  Talvez 1 hora houvesse passado, eu não sabia, mas o treinamento de todos lá fora havia acabado. As únicas coisas que vi pela janela foram Wind conversando com um pequeno grupo de amigos - alguns um pouco mais velhos- e aquela mesma garota que eu havia visto quando acordei, ainda amassando plantas com um pilão.
  Certo. Estava na hora.
  Fui até a porta.
  - Wind! - Chamei.
  Ele olhou para mim e assentiu com a cabeça. Veio andando até chegar na cabana. Ao chegar, pegou outra cadeira e virou na direção contrária da minha, porém colocando na minha frente. Ficamos cara a cara.
  Ele tinha uma expressão de que já havia feito aquilo centenas de vezes. E ao lembrar o tanto de jovens que eu havia visto lá fora, talvez tivesse feito mesmo.
- Bom. Vamos começar. - Ele agia como se fosse apresentar uma peça de teatro. - Talvez sua mãe já tenha lhe contado a história dos protetores. Certo?
  Então ele fechou a cara e se tornou totalmente sério.
  - Aqueles 5 animais? - Perguntei.
  - Sim.
  - O que isso tudo tem a ver com eles? - Fiz um gesto tentano indicar todo o acampamento em que estava. - É só um mito.
  - Apenas me escute.
  - Desculpa.
  - Há muito tempo. A ordem não conseguia ser mantida pelos seres humanos, as coisas estavam fora de controle. Eles destruiam a si próprios e a natureza. Então, os Protetores nasceram.
  Eu não queria interromper mas uma pergunta ficou martelando em minha cabeça.
  - Parece algo bíblico. Está querendo dizer que Deus os mandou?
  - Nunca soubemos se Deus existe ou até se nos mandou para cá.
  - Nos? Está dizendo que...
  Não conseguia acreditar naquilo. Wind tinha uma aparência de 20 anos e não centenas.
  - Sim. Agora me deixe continuar.
  - Certo.
  - Eles mantinham a paz e harmonia no nosso planeta. O Tubarão, cuidava dos mares. A Águia, protegia o vento e os céus. O Lobo, dominava a selva. A Ursa, era protetora das grutas e cavernas. O Dragão, cuidava das montanhas. Eles podiam manter tanto sua forma humana quanto animal e isso foi o que deu a um deles mais um dever. Então um dia as forças maiores encarregaram o Dragão de proteger mais uma coisa: os humanos. Ele não entendia o porquê, os humanos protegiam a própria espécie sem precisar de ajuda. Mas enquanto existir o bem, sempre existirá o mal. E das forças obscuras nasceram os Azuis. Eles queriam dominar os humanos, dominar todo o planeta e consumí-lo da pior forma, através da morte. Então os protetores entenderam. Assumindo suas formas humanas, eles lutaram ao lado do humanos. Venceram. Foram idolatrados por eles. Mas com o tempo, esquecidos. Centenas de anos se passaram, até que chegou o século XIX. 1881, a segunda guerra contras as forças obscuras. Mas dessa vez os Azuis não queriam mais saber dos humanos, queriam se vingar dos 5 protetores.
  - E os protetores venceram? - Perguntei
  - Sim. Mas houve baixas. O mal retornou mais forte. A Águia, o Tubarão e o Lobo morreram. - Ele baixou a cabeça e eu podia ver que em seus olhos amarelados havia tristeza. - Restando apenas o Dragão e a Ursa. Eu e Sandra.
  A incredulidade havia me dominado no momento, eu não podia acreditar que a enfermeira Sandra era uma protetora. Então olhei para aquele porta retratos que eu já encarava há muito tempo, não havia percebido mas nele, a mulher loira era Sandra. Uma aparência mais nova e radianta de alegria, mas ainda era a enfermeira.
  - Está me dizendo que...
  - Sim.
  Coloquei as mãos sobre a cabeça enquanto tentava respirar.
  - Acalme-se. - Disse Wind colocando a mão sobre o meu ombro. - Posso prosseguir?
  - Espera. Só é um pouco difícil de digerir, sabe?
  - Entendo.
  Passaram-se alguns segundos, me acalmei e pedi para que continuasse.
  - Certo. Nos 20 anos que se passaram depois da segunda guerra a Ursa e o Dragão permaneceram juntos. Então eles perceberam que de uns tempos para cá a situação dos humanos havia piorado. Eles dois concordaram em fundar um acampamento, para abrigar jovens desamparados e lhes treinar caso houvesse uma terceira guerra. No topo da montanha desse acampamento foram feitas 3 estátuas.
  - Dos 3 protetores mortos. - Deduzi.
Ele assentiu
  - Sim. As almas dos protetotes mortos tomaram consciência da situação, não podiam fazer nada por conta de não estarem mais em vida. Mas poderiam assegurar outros de seus poderes. Então, a Águia fez sua parte. Escolheu um jovem para prosseguir com sua força. Ethan Hall. E o Lobo, escolheu...
  - Eu sei. - Tentei conter a tristeza. - Ele escolheu a mim.
  - Exatamente.
  Mil coisas passavam pela minha cabeça. A morte de minha mãe, a destruição daquela pequena rua, a história dos protetores, e claro, a minha nomeação como o novo Lobo.
  - Você está bem? - Perguntou Wind e só então percebi como eu estava.
  - Já estive melhor. - Falei na sinceridade.
  - Sei que é muita coisa para você. Mas eu tinha que lhe contar a principal parte.
  - Principal parte? Quer dizer que ainda tem mais?
  - Vamos sair daqui. Já é hora do jantar e eu não vou lhe servir aqui na cabana. É melhor que já conheça o seu novo lar.

A Sexta Irmandade (Vol.1) - O Lobo Vermelho Onde histórias criam vida. Descubra agora