ESPECIAL DE ANO NOVO

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  Corri como louco a procura de Ethan enquanto todos me olhavam como se eu estivesse equivocado demais. Não entendi o porquê, era dia de 31 de dezembro e em menos de 16 horas entrariamos em 2002. Foi quando encontrei meu melhor amigo cego comendo uma torta de morango.
  - Ethan! Ethan! - Chacoalhei ele e isso causou a queda do seu pedaço de torta. - Ah, foi mal.
  - Ai meu Deus, o que foi?
  - Não tá ligado que dia é hoje?
  - Feliz ano novo! - Gritou Nina enquanto abraçava nós dois.
  - Cedo demais, mana - falei.
  - É - concordou Ethan.
  Após a perca da visão e as visões do futuro Ethan havia ficado um pouco rancoroso mas de vez em quando nós conseguiamos animá-lo. Nada que um bom campo de tiro para ele brincar não resolvesse.
  - Agora que são oito da manhã, pessoal, vamos relaxar um pouco - disse ele.
  - Adeus ano velho, feliz ano novo - as gêmeas Sally e Sarah chegaram cantando e eu e Nina não conseguimos evitar a risada.
  - Sabe qual a única parte triste do dia de hoje? - Indagou Sally. - Nós não podemos beber pra virar o ano. Somos jovens demais.
  Soquei a mesa levemente tentando chamar atenção, até que todos olharam.
  - Gente, esqueceram que mês passado eu fiz aniversário e já tenho 16 anos.
  - Oh, Deus, já é um senhor - disse Nina com ironia.
  - Ainda sou mais velho - Ethan falou baixinho e riu no mesmo tom.
  - Own meu Deus ele já é quase um adulto - as gêmeas zombaram.
  - Ai, ai. Tá bom, pessoal. Não faz muita diferença - assumi. - Então de qualquer maneira ninguém aqui vai ingerir álcool.
  Nina sorriu com malicia e depois riu olhando para seus próprios pés.
  - O que foi, hein? - Perguntei.
  - Tem razão, não vamos ingerir álcool, mas algo parecido. Ou que tem o mesmo efeito, pelo menos.
  - Que seria...? - Todos nós perguntamos em uníssono.
  Nina fez aquela cara de quando ia nos explicar algo sobre plantas.
  - Digamos que a pequena Nina consegue fazer uma bebida derivada de ervas medicinais que além de fazer bem pra pele tem o mesmo efeito do álcool, a única diferença é que o álcool ou te deixa feliz ou triste, essa bebida sempre, mas sempre mesmo, vai te deixar feliz.
  Nós rimos.
  - Por que eu confiaria em beber algo de você, Nina? - Ethan perguntou.
  - Porque Chloe já bebeu - ela respondeu.
  Nos impressionamos, não achei que Chloe aceitaria beber algo com tanto verde no meio.
  - E ela gostou? - Perguntei.
  Minha irmã deu uma leve ajeitada na sua franja.
   - Digamos que nesse momento Chloe foi buscar mais das ervas porque adorou a bebida.
  Ethan franziu a testa.
  - Se a Chloe gostou, é porque a bebida não é fraca.
  - Chloe bebeu umas quatro vezes e caiu na cama com sono.
  Ethan em um impulso cuspiu a água que bebia.
  - Espera você conseguiu colocar a durona da Chloe pra dormir com essa bebida? Não é fraca mesmo.
  Sarah sorriu animada.
  - E aí, pessoal, quem tá afim?
  Nós apenas concordamos com a cabeça enquanto sorriamos ao pensar na ideia.

  Não pensem que eu esqueci de Liz, eu já havia feito uma carta para ela e entreguei de uma maneira peculiar, apareci lá na noite passada e a deixei em seu quarto.
  Quatro horas após o almoço reunimos um bom grupo de pessoas do acampamento para fazermos discursos e algumas brincadeiras bobas. Sabe aquele joguinho de celular dos dias de hoje, o Fruit Ninja. Digamos que a gente brincou disso.
  - Quero ver se ele é mesmo o Lobo Vermelho - gritou um amigo meu de outra cabana. - Toma essa, Kevin!
  Ele me lançou uma tangerina e eu a cortei no ar. O pessoal vibrou com meu corte de mestre. Já Nina e Ethan riram da minha idiotice.
  - Seu irmão é um idiota.
  - É, eu sei.
  Duas maçãs vieram de lados opostos em minha direção, fui rápido o suficiente e usei longinus para dividir as duas ao meio.
  O pessoal vibrou, de novo. Até que Chloe chegou, carregando uma mochila de pano nas costas e um facão na sua única mão.
  - Ah, mas eu espero mesmo que alguém esteja apanhando essas frutas do chão - disse ela no seu velho tom que nos dava medo.
  - Tem, sim - esperei que alguém entendesse meu sinal e apanhassem logo. Ainda bem que Wallace foi esperto.
  - Trouxe as ervas? - Nina perguntou preocupada.
  Chloe sacou sua mochila e a abriu na mesa, lá estavam metade de um bosque.
  - Uau, da pra fazer pro acampamento todo - Nina disse e todos comemoraram.
  Wind e Sandra chegaram caminhando lentamente e todos se calaram.
   Os dois se posicionaram no meio do espaço em que haviam deixado para eu brincar de Fruit Ninja e Wind tomou palavra.
  - Irei poupar minha voz, afinal o homem do holofote já irá falar em alguns segundos.
  Nos entreolhamos, nada aconteceu.
  - Certo, certo, ele se atrasou.
  TODOS DEVEM ESTAR FORA DAS CABANAS DEPOIS DAS OITO, IREMOS COMEÇAR NOSSA FESTA ATÉ A VIRADA DO ANO, SEUS ANIMAIS.
  E mais uma vez senti vontade de matar o homem do holofote, meus ouvidos estavam doendo.
  - E tem mais - afirmou Sandra - , eu sei que estão planejando ingerir bebida alcóolica hoje à noite mas isso é contra as regras do nosso acampamento.
  Eu ri tentando acalmá-los.
  - Não, não, Sandrinha. Não é bebida alcóolica.
  - Então por que alguém passou em frente a minha cabana e gritou "hoje eu vou ficar doidão!"?
  Ethan riu baixando o rosto para que ninguém visse.
   - Desculpa, pessoal. Foi eu - assumiu Hank.
  - Que droga, Hank - reclamamos.
  - Ai, foi mal.
  Nina tomou minha frente e ousou falar antes de seu pai.
  - Calma, papai. Fui eu quem tive a ideia, é apenas uma bebida feita com algumas ervas que tem um pequeno efeito parecido com o do álcool, ninguém vai ficar bêbado de verdade.
  Wind olhou para a cara de cada um de nós, pensou bem, coçou a garganta e falou:
  - Sendo assim, tudo bem.
  Todos comemoraram e Nina agradeceu ao seu pai.
  Então voltamos às nossas cabanas e no meio do caminho Lena Stokes me puxou para me dar um abraço, eu ainda não a habia visto hoje. Esqueci de mencionar que nos últimos dois meses eu estava muito próximo dela. Não sei se você lembra, ela era aquela garota morena, alta e apaixonada por games.
  - Eu ainda não havia te visto hoje - falou ela sem me soltar.
  - Se eu soubesse antes que me daria um abraço por isso, sumiria por alguns dias - falei.
  Ela riu e enfim me soltou. Confesso que eu estava confortável em seus braços. Desde que nós quatro salvamos a Inglaterra tivemos mais tempo livre no acampamento. Mais tempo para interagir com o pessoal e isso me fez me aproximar de Lena, ou melhor, Elena. A conheci de verdade com as conversas que tivemos enquanto jogávamos antes de dormir, a ajudei a treinar com sua espada e servi de travesseiro no natal quando ela encheu a barriga na ceia e dormiu no meu ombro enquanto estávamos jogando. Ela me falou de seu passado, de como havia perdido sua mãe e por um lado eu me identifiquei com ela. A cada loading do jogo ou pausa nos conheciamos melhor, e isso me deixava mais interessado em tê-la como amiga.
  - Bom - ela parecia envergonhada - , eu quero te confessar algo.
  - Pode dizer.
  - Eu tenho um presente pra você.
  Logo me animei, mas aquilo parecia estranho.
  - Certo, cadê?
  Ela riu e segurou minha mão.
  - Não, seu bobo. Só vou poder te dar depois que a gente virar o ano.
  - Não acredito que você vai me deixar curioso até o próximo ano, Elena Stokes.
  - Vou, Kevin Watson.
  Sorri olhando para os seus olhos que me deixavam hipnotizado.
  - Então, certo. Eu espero até 2002 para o grande presente de Elena.
  Ela franziu a testa enquanto sorria.
  - Você é o único que me chama pelo meu nome verdadeiro.
  - Isso é ruim? - Perguntei preocupado.
  - Não... é legal.
  Ficamos calados por alguns segundos e então decidimos seguir à cabana.
  Nina apareceu como o Batman na minha frente, Lena decidiu ir na frente.
  - O que foi? Do que você tá rindo? - Perguntei à minha irmã.
  - Nada - mas ela não conseguia se conter.
  - Vamos, Nina. Fale!
  - Você e Lena ficam tão bem juntos.
  - Não tá rolando nada entre a gente.
  - Hum.
  - Mas, hipoteticamente falando, se estivesse você não ficaria... sabe, um pouco mal?
  - Não, a gente não pode fingir que rolou algo entre nós mas agora somos irmãos e agradeço muito termos descoberto isso antes de... você sabe, termos nos beijado ou gostado totalmente um do outro. Sei que o assunto incomoda mas nós devemos falar e...
  - Eu sei, mana. Tá tudo bem, mesmo?
  - Sim - ela assentiu duas vezes com a cabeça enquanto sorria. Pela sua cara de felicidade, ela havia mesmo seguido em frente a peracia já estar gostando de outra pessoa.
  Ao anoitecer já estávamos todos arrumados para a virada do ano. Após muitas músicas proporcionadas pelo pessoal do acampamento e muita bebida que Nina havia feito, já havia dado dez e meia. Todos nós estávamos foras das cabanas e curtindo juntos aquele dia tão especial. Chloe beijou Ethan umas dez vezes, essas foram só as que contei. Wind arriscou beber a bebida de sua filha, Sandra não teve tal coragem.
  - Nossa, filha. É muito bom - admitiu ele - , mas precisamos de um nome.
  - Que tal ervas da selva? - Arriscou Sarah.
  - Não - falou Wind.
  - Não mesmo - confirmou Chloe. - Uma bebida como essa merece um bom nome.
  - Certo, irei pensar em um melhor - Sarah tomou mais um gole.
  - Te dou até 2002 pra isso - Chloe brincou e todos riram.
  - Deixa comigo - a irmã de Sally aceitou o desafio.
  Eu estava escorado em um poste de madeira e Sandra chegou para falar comigo. Ela não parecia muito à vontade mas mesmo assim teve coragem de vir.
  - Sei que já faz trê meses, mas só hoje criei coragem para agradecer a você e aos outros por terem salvado nosso país e concluído sua missão com sucesso. Não tive oportunidade nem coragem para agradecer antes, então... muito obrigado.
  Sorri sem mostrar os dentes e brindei com nossa velha Protetora.
  - Eu que devo agradecer, por tudo que fizeram desde que cheguei aqui.
  - Você foi um bom aprendiz.
  Rimos. Mas eu parei assim que que vi Elena passar entre meus amigos. Ela estava tão linda, de uma forma que até hoje eu não consigo descrever. Juntos, nós dançamos até próximo da meia-noite. Já eram onze e cinquenta, dez minutos para a virada do ano.
  O homem do holofote anunciou isso, mas dessa vez ele não foi rude, e sim legal e nos desejou feliz ano novo.
  Mais alguns minutos se passaram e já iria começar a contagem regressiva.
  - Daqui vamos ver os fogos de artifício da cidade - gritou Wind e todos ficaram felizes. - Hora da contagem regressiva.
  Então todos do acampamento começaram o maior uníssono que já ouvi:
  Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um!
  Os fogos de artifício explodiram nos ares, todos se abraçaram e foi a maior festa. Nina deu seu maior abraço em seu pai, Ethan beijou Chloe mais uma vez, assim como Sally fez com Hank. Então todos nós nos abraçamos, Wallace por ser o maior aconchegou todos em seu abraço. Ao término desse abraço o quarteto fantástico - eu, Nina, Ethan e Chloe - nos sustentamos em um grande abraço coletivo. Até que Elena me puxou pela mão.
  - O que foi, Lena?
  Ela sorria enquanto me levava pra longe.
  - Seu presente, esqueceu?
  Até que paramos naquela velha lagoa em que ficava na frente de nossa cabana. Onde um dia enfrentei crocodilos humanos, onde um dia treinei com Chloe. Ela admirou os fogos de artifício e sorriu, seus olhos brilharam.
  - Então, o que era o presente que você queria...
  Fui interrompido pois ela supreendentemente... me abraçou pelo pescoço e me beijou. E foi o melhor beijo que eu recebi em toda a minha vida, o corpo de Lena espantou meu frio e arrepiou o meu ao menor toque. Era como se o sabor mais gostoso do mundo estivésse na minha boca: o da boca de Elena. Então ela parou, pensou e baixou a cabeça rindo, beijei sua testa e ela me agarrou com mais força enquanto explosões aconteciam no céu.
  - Feliz ano novo, Kevin.
  - Feliz ano novo, Elena.
 

A Sexta Irmandade (Vol.1) - O Lobo Vermelho Onde histórias criam vida. Descubra agora