CAPÍTULO 17 - Carona explosiva

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  Wonderwood. Certamente lotada em um horário como aquele, 04:25 p.m, sim, o tempo corria tão rápido quando nós em meio aos becos de Londres. Saltamos por latas de lixo, escadarias acopladas na lateral das casas e até por cima dos carros estacionados. Por muita vezes tivemos que diminuir a velocidade, para não deixar Nina pra trás. Ethan nos informava, devido a sua visão, a distancia que estávamos da estação e quais os melhores becos para cortar caminho. A parte mais estranha, foi que em meio à corrida, senti muitas vezes um cheiro distante, algo não humano nos perseguia. Pelos Azuis que haviamos encontrado, eu pude destinguir os cheiros , os deles, eram uma fusão do aroma de monstros e humanos. E se pensar bem, eles eram isso. Apenas pareciam com humanos, mas na realidade, eram monstros sem coração. Isso poderia ser comprovado por todas as mentes que Jeff perturbou ou pelas mulheres que Hajick estuprou. Os dois estavam mortos e eu era o motivo.
  04:28, chegamos em Wonderwood. Para cada um de nós, havia 20 pessoas ali, no mínimo. A última vez que eu havia visto tanta gente em um local, havia sido quando os lobisomens atacaram minha rua, péssimas lembranças. Para ajudar, era o tipo de horário em que a lotação era recorrente em qualquer estação de trem ou parada de ônibus, o final do dia, para alguns, a volta do trabalho. Mas e agora? Como saber qual trem? Confesso, que perdi Nina por alguns segundos, havia tantas pessoas e ela era tão pequena...
  - Como vamos saber qual? - Perguntei, atônito.
  Chloe se aproximou de mim, pôs a mão atrás da minha cabeça e a jogou contra seu pescoço.
  - Esse é o cheiro de um humano. Quando for quatro e meia, tente procurar qualquer cheiro em movimento que seja diferente desse, há umas oitenta pessoas aqui, o que você vai sentir vindo de um Azul, será diferente do que sentiu de mim e dessas pessoas.
  - Você é esperta. - Afirmei.
  - Se concentre. - Levei um leve tapa na cabeça.
  Ethan não pareceu sentir ciúme. Era importante saber que ele estava dando prioridade à missão, e não ao ciúme bobo que só iria nos fazer perder mais tempo com discussões desnecessárias.
  Há cada segundo, nós só virávamos mais ainda alvos para as pessoas que transitavam na estação, foram tantos esbarrões que Ethan teve que pedir para Chloe se acalmar e não puxar suas facas para um cidadão anônimo.
  Houve até um jovem ( como se eu também não fosse um) que parou para nos perguntar se estávamos indo à uma festa fantasia logo assim tão cedo. Obviamente, tive que mentir e dizer que sim. Só que no caso, afirmei que era um evento para jogos de tabuleiro e RPG. Que em 2001, não eram tão realistas e revolucionários como são hoje. Que foi? Acha que meus amigos não me contam sobre Skyrim ou The Witcher?
    04:30. E onde estava o nosso trem? Chegando.
  Lá se vinha ele, mas com um pequeno detalhe incomum, suas portas estavam lacradas com fitas amarelas e uma enorme placa nas portas com um " FORA DE USO" escrito em letras escuras de forma maiuscula. Foi como Chloe disse, o cheiro que emanava de dentro, era altamente diferente do que eu sentia em um humano qualquer, lá estava lotado de Azuis.
  - É esse? - perguntou Nina.
  - Não tinha como ser outro - respondeu Ethan. - Eles não querem que ninguém entre e veja suas coisas sujas. Provavelmente, colocaram uma faca no pescoço do motorista e obrigaram-o a estampar na entrada essa placa de "fora de uso".
  - Então, como entrar? - Nina puxou a mochila com levesa, prestes a sacar seu facão.
  - Não será pela frente, será? - Contestei.
  - Claro que não - Ethan subiu seu capuz. - Vamos sair daqui e tentar achar outra maneira de entrar nesse trem.
  - Já sei, vai ser em movimento - palpitei.
  - Alguém já disse que você é muito bom em chutes? - Perguntou Ethan.
  - Sim. Ele morreu pegando fogo.
  - Temos que ir - ordenou minha amiga metade francesa.
  Corremos pelas escadas que nos fizeram chegar ao metrô e seguimos na direção pela qual o trem iria daqui a alguns minutos. No máximo, dois ou três. Até que achamos uma entrada para os trilhos, uma obra mal acabada na qual, por sorte, os operários deviam estar de folga. Nina já não conseguia mais nem falar devido ao cansaço.
  - E agora? Vamos esperá-lo?
  - E pegá-lo - confirmou Ethan.
  - Em movimento - falei - , não se pode esquecer esse detalhe.
  - Não esquenta - o arqueiro puxou uma flecha esverdiada e corroente - , eu tenho um plano. Mas para funcionar, vou precisar de vocês - ele analisou Nina da cabeça aos pés. - Inteiros. Teremos que dar... um pequeno salto.
  - Do que vamos precisar? - Chloe armou em cada mão uma adaga.
  - Da força do Kevin. Acha que consegue fazer um buraco no chão?
  Ainda não havia testado os limites da minha força, mas se isso fazia parte do nosso brilhante e único plano, tudo bem, eu faria um buraco no chão.
  - Só me diga o porquê.
  - Estamos em cima do subterrâneo de onde passa o trem, preciso que quebre essa parte so chão para eu atirar uma flecha especial de ácido  no teto da locomotiva antes que ela chegue aqui e abrir um enorme buraco para cairmos dentro. Nós estamos por cima, eles por baixo, esse é o truque. Uma flecha explosiva teria a mesma utilidade, mas eles saberiam que nós haviamos chegado pelo barulho.
  Sinceramente, Ethan era bom em trabalhar sob pressão. Mas não era hora de elogios, na verdade, não era hora de nada que não nos ajudasse. Por isso tomei o chão como um saco de pancadas.
    Caraca, como eu era forte. Era como se um terremoto em Londres estivésse chegando de surpresa. No sétimo, ou oitavo soco, uma pequena circuferência do chão desabou nos trilhos de metal. Era ali, a passagem na qual poucos segundos depois um trem lotado de inimigos passaria.
  - Bom trabalho, Grandão - Nina deu tapinhas em meu ombro.
  Ethan deitou-se de bruços próximo ao buraco, rastejou-se um pouco para passar metade de seu corpo por ele, até que ficasse apenas com o tronco de ponta cabeça.
  - Lá vem nossa carona - gritou ele.
  Não poderia negar o quanto o dom dado a Ethan era precioso. Uma flecha atirada com tal precisão quando se está de cabeça para baixo, é algo mais do que surreal. Ela foi voando por uma linha vertical até acertar o teto do trem em movimento, o ácido especial ( como ele havia dito) corroeu uma boa parte do teto de metal. Agora, sim. Lá estava nossa entrada.
  - Lá se vem ele. No três, nós pulamos.
  Todos nos aprontamos.
  - Um, dois, três!
  O trem explodiu abaixo de nós. Todo o chão em que estávamos foi levado ao subterrâneo e junto com destroços, nós caímos em meio a escuridão infinita.

A Sexta Irmandade (Vol.1) - O Lobo Vermelho Onde histórias criam vida. Descubra agora