CAPÍTULO 24 - Coragem e poder

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Sally e Sarah tentavam de toda maneira sair daquela jaula, usavam grampos e até facas que haviam sido deixadas com elas, mas de nada adiantava. Aquilo deveria ser mágico, ou algo assim. Eu tinha que salvá-las, éramos três contra dois e talvez um de nós podesse fazer algo enquanto os outros dois lutavam. Mas era quase impossivel acharmos uma oportunidade.
- Nos tirem daqui, por favor! - O clamor delas doeu em meu coração.
Ethan com certeza estava enfrentando problemas, mas nós estávamos ocupados demais com nosso inimigo em comum, Jason.
A batalha de meu amigo era diferente da que eu e Chloe participavamos: ele estava na zona fechada da floresta, disfarçando-se entre plantas e tentando achar brechas para uma flechada certeira. Mas de que adiantava tentar? Ethan controlava os ventos através das flechas, já sua inimiga tinha total domínio sobre ele. Era como tentar atirar pedras em um furacão. Rapina havia sido uma boa aprendiz de Hanna. Mas não tinha sido escolhida. Já Ethan, sim. E isso devia significar alguma coisa, mas só o próprio saberia.
Eu tinha uma preocupação maior. E ela veio em forma de machado descendo rápido pela ponta de meu nariz.
- Você esquiva bem - admitiu Jason. - Mas não o suficiente!
Seus ataques foram repentinos, eu não conseguia achar uma brecha para reagir. Eram incontáveis as vezes em que eu escapava por um triz de levar um golpe fatal e acabar levando uma corte profundo.
Então achei o momento certo para revidar, após uma interceptação imediata de Longinus, arrastei as unhas afiadas pela base do seu peito. Nada que gerou muito efeito ou consequência pois ele pareceu não se importar e atacou novamente por cima com força. Eu era tão forte quanto Longinus, e nos defendemos dos ataques.
Chloe pulou como um leopardo para socá-lo e teria dado certo se Jason não houvesse esquivado no último segundo com dois passos atrás. Ela caiu ao chão por ter exercido tanta força e não acertado nada. O traidor aproveitou a oportunidade e correu até ela para golpeá-la pelas costas, mas eu cuspi fogo em sua frente e criei uma barreira flamejante entre os dois. Logo então, Chloe levantou-se do chão para prosseguir lutando.
- Hum, quer dizer que você cospe fogo mesmo sendo o Lobo? - Suspirou ele. - Vou te deixar vivo para contarme como.
O vento emanado de dentro da floresta apagou o fogaréu. Deus, a batalha lá estava sendo destruidora. Algumas rajadas de vento me traziam medo. Ethan tinha de sobreviver.
- Rapina não consegue fazer nada sem chamar atenção - resmungou Jason.
Chloe e eu resolvemos atacá-lo simultaneamente.
Após esquivar do meu primeiro ataque, fez um corte vertical em meu abdômen. Senti o quanto foi profundo mas não recuei e permaneci atacando. Fui esmurrado repetitivas vezes na cara, enquanto ele chutava Chloe com força. Ela lançou duas facas após de desaproximar, mas elas de nada serviram.
Eu era o Lobo Vermelho, droga. Não podia ficar caído assim. Tinha de fazer algo.
- Foi isso que Kirish encontrou para me substituir? Por Deus, sério que na Europa inteira não tinha nada melhor?
Chloe aproveitou a principal vantagem de sermos dois e ele apenas um, o golpeou quando estava distraído comigo - usando a manopla ainda por cima. Ele caiu alguns metros distante, o suficiente para me dar tempo para levantar e brandir minha espada.
- Pelos flancos? - Perguntou Chloe com a voz cansada.
- Sim. Pelos flancos - confirmei.
Um ataque tolo de duas crianças, foi o que fez parecer. Novamente estávamos apanhando, por sorte consegui desarmá-lo em meio a luta corporal e isso parecia ser uma vantagem. Bem, só parecia.
Em um movimento descuidado de Chloe, ele a puxou pelos cabelos e acertou uma joelhada em seu rosto. O ódio cresceu em mim e me joguei com um soco colocando sobre meu braço todo o peso do meu corpo. Caí agachado, puxei minha parceira pelo pulso e dei-lhe impulso a jogando em cima de nosso inimigo para acertá-lo com um soco usando a Manopla da Fúria. Pude escutar os ossos da cabeça de Jason rangendo, mas ainda não era o bastante.
Uma flecha veio de longe para nos ajudar. Ethan ainda arranjou tempo.
Jason esquivou do que foi disparado e esse era o momento certo, acertei um corte horizontal e levei uma pequena parte de seu ombro junto com a ponta de minha espada.
Eu e Chloe cessamos nossos movimentos, ficamos próximos, ainda brandindo nossas armas.
- Certo - Jason passou a mão sobre seu ombro sangrento. - Está na hora de parar de dançar e lutar de verdade.
Ele estendeu os braços, abrindo-os como se fosse demonstrar seu poder ou esperar um abraço.
- KEVIN! - A voz de Sally, ou talvez tenha sido Sarah, sibilou meu nome em um engasgo.
Então me toquei que ela queria nos alertar e me virei tentando olhar para trás, em nossas costas, estava se formando uma enorme onda gigante. Mas como isso era possível? Água? Desde quando os poderes do Tubarão estavam com Jason? Isso me fez lembrar de um dos principais objetivos de nossa missão: saber o que realmente aconteceu com a magia das águas do nosso Quinto Protetor. Aconteceram tantas coisas que eu... havia esquecido.
O exército se afastou o máximo que podia - pelo menos eles não eram tolos.
Eu e Chloe corremos para tentar libertar Sally e Sarah antes que a onda chegasse.
- Isso, corram com medo de mim! - Jason disse tais palavras com tanto gosto.
- Saiam de perto do cadeado! - Gritei a elas duas.
Em um corte vertical acabei com o cadeado, a porta, o aço da jaula e o resto todo.
As gêmeas pularam para fora.
- O que fazemos para escapar disso?
A onda estava à poucos metros da gente e eu não tinha muita escolha.
- Vão ter que confiar em mim - expliquei. - Fiquem juntas, atrás.
Elas três não desaprovaram meu "plano" e digamos que não tinham muita escolha.
Com toda a fé que tinha sobre meu poder, invoquei a magia de Longinus ao fincá-la no chão, e de pouco a pouco uma barreira de areia vermelha foi se formando em nossa frente.
- Acha que vai funcionar? - Sarah olhou para mim.
Devolvi o olhar, mas nada respondi.
A onda veio, a força que exerci na espada talvez tenha me dolorido tanto quanto na batalha. Era como se eu segurasse um escudo enquanto trezentos homens o empurrassem contra mim. Só que era isso multiplicado à força da água em uma correnteza.
É estranho tudo isso ter acontecido em média de 15 à 30 segundos, mas fazer o que né, minha vida era assim, acelerada.
- Uau, você progrediu, hein - Sally deu dois tapinhas em meu braço após a onda ter passado.
Olhei pra ela com um sorriso cansado.
- Digamos que aconteceu muita coisa nos últimos quatro dias.
- Como...? - Sarah indagou ao arregalar os olhos para a barreira de areia vermelha.
- Pra ser sincero, eu não sei - respondi.
Chloe se virou com raiva para Jason, ajeitou sua manopla e rangeu os dentes.
- Como você pode controlar a água?
Jason levantou seu facão que estava caído ao chão, o girou umas três vezes para demonstrar habilidade.
- Longa história, Blanche.
- Desista, Jason - Firmei minha voz. - Nós somos quatro, você é apenas um.
Ele nos analisou bem.
- Na verdade - contou nossa quantidade com os dedos - , vocês ainda são dois. As gêmeas não fazem tanta diferença. Além do mais, eu não sou apenas um. - Sorriu ao olhar para o exército.
Esse era o fato, nós não estávamos lutando contra mil ou mais guerreiros Azuis porque Jason e Rapina não queriam.
Chloe usando a mão detentora da manopla limpou o suor de sua testa.
- Elas irão para casa, você querendo ou não!
- Sim. Irão sim - após falar isso um buraco se abriu atrás de nós e empurrei as gêmeas dentro.
Chloe olhou para mim com estranheza.
- Por que você ama fazer isso com as pessoas?
- Elas foram ao acampamento, eu havia combinado com Aurora. Ela deu a mim o poder de fazer três portais para onde eu quisesse - fiz uma breve pausa para descansar minha voz. - Uma parte de nossa missão foi cumprida, Sally e Sarah estão em casa.
- Podem ser úteis. Um já foi.
Jason pareceu estar entediado.
- Vão ficar falando o dia todo, ou vamos lutar?
Nesse momento lançei a magia vermelha de Longinus sobre ele. Lá íamos nós, mais uma vez.
Era impossível acertá-lo, mas nós tentávamos. Inúmeras vezes, tentávamos. Até que ele passou o facão horizontalmente de baixo para cima, esquivei rapidamente do ataque mas isso não impediu de futuramente nascer uma cicatriz feia de baixo do meu olho à minha sobrancelha.
Não sei de onde eu e Chloe tiramos tanta sincronia mas nossos golpes eram desferidos nos momentos certos para confundí-lo - ou ao menos tentar.
Mas no fim, ele usou água para nos derrubar. Sei que isso parece idiota, mas imagine muita água exercendo pressão sobre sua garganta.
Mais uma rajada de vento derrubou árvores. Que droga, Ethan. Sobrevive, seu idiota.
Chloe caiu, e dessa vez a queda foi definitiva, ela havia apanhado muito para poder levantar. Ela era valente, bem mais do que eu. Pois em mim havia poderes, nela havia coragem.
Jason mandou uma onda em sua direção, novamente me prostei em sua frente e fiz nascer uma barreira. Após as águas se esvairem, levantei Chloe.
- Vamos, amiga. Ainda não acabou.
- Para ela, acabou - Jason surgiu em nossa frente.
Ele foi rápido, tentei interceptá-lo mas fui incapaz. Fui chutado para longe, Chloe tentou empunhar sua adaga contra ele, mas aí aconteceu algo trágico: Jason a desarmou e com a sua própria adaga decepou e arrancou fora sua mão. Chloe gritou de dor, seu pulso jorrava sangue e sua mão estava caída. Não sei dizer o que senti. Raiva, angústia, desespero, todas essas palavras juntas me definiam.
Eu tinha que fazer algo, ele estava à poucos segundo de matar Chloe. Então me levantei e corri até eles. Mas... mas eu fui lento. Jason... ele atravessou seu facão em Chloe. Ele saiu pelo outro lado e ela ficou imóvel. Meu mundo parou, mais uma vez eu havia visto uma pessoa que eu amava morrer. Por que? Por que isso precisava acontecer? Qual o problema de o bem vencer no final sem consequências?
Chloe não se mexeu, não caiu e nem demonstrou fraquejar. Se fosse para morrer, morreria de pé.
Jason sorriu olhando nos olhos dela, sem soltar o cabo do facão.
- E mais uma vez, atravesso uma lámina pela barriga de um Blanche.

A Sexta Irmandade (Vol.1) - O Lobo Vermelho Onde histórias criam vida. Descubra agora