CAPÍTULO 6 - Louis Blanche

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  Lutar contra aquele monstro foi cansativamente diferente. O dobro de velocidade dos lobisomens e ainda tinha sua cauda de crocodilo - Na qual usou para me atacar repentinas vezes. Então encontrei minha brecha: bem no momento em que ele atacou em um movimento horizontal com o braço e eu me agachei. Ali todo o seu tronco estava exposto ao meu ataque.
  - Certo. Assunto encerrado.
  Dei o golpe final: Um corte vertical que começava do abdome e terminava no meio de seu peito. Ele caiu com as costas no chão enquanto se debatia de dor devido ao enorme corte. Eu não estava muito satisfeito com meu feito. Certo, salvei a mim e Nina. Mas novamente matei, entretanto, sei que não há outra maneira de combatê-los. Me aproximei do Croc que ainda se debatia.
  - Kevin! - Chamou Nina. - O que irá fazer? - Ela parecia assustada.
  - Ninguém merece morrer assim. - Respondi.
  Eu não era lá dos mais espertos mas aprendi que um corte em toda a área frontal da garganta lhe mata instantaneamente. E foi assim com o homem crocodilo, dois ou três segundos depois que usei minha espada levemente para cortar sua garganta ele morreu. Permaneci um tempo ajoelhado ao lado do Croc.
  Nina se ajoelhou ao meu lado.
  - Como você sabia?
  - Sobre o quê? - Perguntei incrédulo.
  - Você nos jogou para trás antes mesmo que eu pudesse ver o monstro. Como fez?
  - Não sei. Acho que... eu senti o cheiro.
  Ela parecia estar um pouco aliviada.
  - Finalmente você adquiriu.
  - O que?
  - Faro de lobo. Vamos. - Nina me puxou pelo braço. - Temos que avisar ao meu pai. Um monstro não entra aqui há anos.
  O mesmo cheiro estranho que senti de Croc antes de nos atacar agora eu estava sentindo novamente. E a minha certeza momentânea se concretizou, a de que não havia apenas um monstro por ali. Mais três homens crocodilo pularam da água. Talvez houvessem usado seu coléga apenas como isca. Nós estávamos cercados. Eles não atacavam, e pelo contrário, andavam lentamente sobre a terra fofa. A boca de um deles transpirava sangue - Provavelmente de um peixe que virou seu almoço. Seus passos rastejantes espalhavam seu cheiro.
  Ainda empunhando a espada, me preparei para o combate. Me concentrei no inimigo à esquerda, mas bem do lado direito senti algo passar tão rápido por mim como uma flecha. Mas não, era uma adaga. Agora fincada no peito de um homem crocodilo, percebi que era aquela mesma adaga que estava pressionando meu pescoço hoje mais cedo.
  - Chloe. - Murmurei.
  Então sua silhueta feminina surgiu com um chute acrobático bem na cara do monstro à direita. Já do lado oposto, Ethan saltou de um tronco de árvore e antes que caísse ao chão disparou uma flecha nas costas do monstro à esquerda. Que avançou para cima dele, Ethan rolou o corpo para o lado, assim esquivando dos ataques, e por fim: uma sequência de três flechadas no réptil. Chloe sacou mais uma adaga de seu coldre - sim, era um coldre de armas como do velho oeste, mas adaptado a ela para carregar facas e adagas.
  O monstro segurou Chloe pelo pescoço. Entretanto, ela se livrou facilmente dele fazendo um risco em seu braço com a adaga. Assim que ele a soltou, nós dois atacamos juntos e por fim ela fez um corte que destruiu completamente sua faringe. O último homem crocodilo atacou com a cauda, mas eu interceptei seu ataque cortando-a. Ele soltou um berro devido a dor. Eu, mais uma vez, quis encerrar seu sofrimento. Enfiando minha espada onde devia ser seu coração.
Todos estavam mortos agora. E nós com as respirações ofegantes.
  - Ótimo. - Disse Ethan enquanto retirava as flechas fincadas em um réptil. - A turma toda reunida.
  Minha espada de pouco a pouco foi se dissolvendo e virando uma espécie de areia vermelha.
  - O que quer dizer com isso? - Perguntei.
  - A turma toda da missão. - Respondeu ele.
  - Então será nós quatro?
  - Sim. Escolhi Chloe para a missão. E provavelmente você escolheu Nina.
  Ela parecia estar um pouco assustada e se aproximou mais de nós.
  - Ainda temos que falar com meu pai. Esses... monstros. Eles não podem entrar aqui.
  - Deve haver alguma explicação. - Afirmou Chloe sem mudar o tom.
  Um punhado de pessoas chegou e logo após mais um comboio pelo outro lado. Todos olhavam para a gente tentando entender o que havia acontecido.
  - Tarde demais, gente. O show acabou. - Disse Ethan.
  Chloe parecia estar preocupada com o que acontecera mas não queria demonstrar isso.
  - Wind precisa saber. Ele nos dará uma explicação.
  - Espero. - Disse eu sem encarar Chloe.
  Fomos até a cabana de Wind. Era dez vezes maior que a nossa, mais bonita, no fundo uma chaminé, mais a frente um fogão a lenha e espera, aquilo era uma tevê?
  - Sério que você dorme aqui, Nina?
Ela assentiu.
  - Na última cama. Mas não pense que é tão bom assim, meu pai não deixa a tevê ligada depois das dez.
  - Pelo menos você tem uma tevê. - Protestou Ethan.
  Avistamos Wind sentado ao lado do fogão a lenha. Chloe, como sempre estava sem paciência e nos tirou da frente. Foi com passos firmes até Wind.
  - Dá licença, Protetor. Simples assim, quatro homens crocodilo entraram no acampamento pelo rio que fica na frente da nossa cabana. Queremos saber como isso é possível e se irá armar as defesas para caso aconteça algo assim novamente.
  Wind ficou calado e encarando Chloe. O Dragão Amarelo parecia ser um cara legal mas eu mesmo não teria coragem de falar assim com ele.
  - Chloe é sempre tão direta assim? - Perguntei em um sussurro a Ethan.
Ele assentiu sem tirar os olhos dela.
  - Homens crocodilo? - Wind quebrou o silêncio. - Não os vimos desde a primeira guerra. Talvez tenham sido ressucitados.
  - Mas como foi possivel que entrassem aqui, pai? - Disse Nina ainda assustada.
  - E o que impede isso? - Perguntei.
  - O acampamento é protegido pelos cinco protetores. Tente invadí-lo pelos céus, não conseguirá. A magia da Águia lhe impede. Assim é com as montanhas, cavernas, florestas e mares.
  - Mares? Mas eles entraram pelo rio. - Disse eu incrédulo.
  - Tudo da mesma família, Kevin. - Ele pareceu se aborrecer. - O que quero dizer: é que Travis nunca deixaria ninguém invadir nosso acampamento por suas águas. Algo errado aconteceu. Além do mais, como sabiam que teriam sucesso em entrar pelo rio? Isso está me deixando cabreiro.
  - Mas você está aqui e não nas montanhas. Como os impede? - Eu sei. Faço muita pergunta.
  - Apenas com a magia de um protetor. E um dia, Kevin Watson, essa magia será passada para vocês dois.
  - Ah, bom saber.
Ethan entrou na conversa após Wind citá-lo.
  - Então, deixe-me adivinhar: Descobrir como a magia do Tubarão Branco está desaparecendo agora é o objetivo secundário da nossa missão.
  - Exato. - Wind tacou sua mão na mesa em forma de comemoração. - Esse Ethan é um gênio.
  - Eu sei, Protetor. - Respondeu ele pegando da mesa de Wind uma caneca de chá.
Chloe parecia está incomodada com aquilo.
  - Voltando à minha pergunta: Irá armar as defesas?
  - Sim. - Respondeu Wind. - Colocarei alguns de vocês para que façam turnos à noite, eu e Sandra iremos alternar no comando dos turnos. Não queremos assustar ninguém, mas não podemos ficar sentados esperando algum crocodilo humano nos atacar.
  - Isso me lembra um vilão do Batman. - Murmurei.
  - O que disse? - Wind perguntou sem entender.
  - Nada.
  - Certo. Mais alguma objeção?
  - Nenhuma, Protetor Wind. - Falou educadamente Chloe.

  À noite tudo estava mais calmo. Alguns murmuravam sobre o grupo da missão com repugnância. Admito que ouvi um comentário " A Curandeira e a Descontrolada" e rezei para que Chloe não tivesse escutado aquilo. Nina estava sentada junto de seu pai e Sandra. Nós três: Eu, Ethan e Chloe estávamos em uma mesa mais afastada.
  - O que acham disso? - Disse Chloe inclinando seu corpo para comer.
Era estranho ela falar tão normalmente assim comigo. Ainda mais depois do que havia ocorrido mais cedo, antes dos crocodilos.
  - Acho que algo está drenando a magia do Tubarão. - Ethan parecia pensativo.
  - Como uma força obscura. - Completei.
  Ethan riu.
  - É. Você aprende rápido.
  Chloe acabou sua refeição.
  - Isso explica muita coisa.
  O ÚLTIMO PRATO DE COMIDA FOI SERVIDO. QUEM NÃO COMEU, NÃO COMERÁ MAIS HOJE. RECADO DADO, ENERGÚMENOS.
  Eu já havia até esquecido desse cara. Chloe foi na frente para a cabana. Eu e Ethan acabamos a janta e seguimos em sua mesma direção.
  Ethan foi deixando seus passos cada vez mais lentos, até que eles pararam e sua expressão tentava me indicar a fazer o mesmo, ficando bem mais atrás de Chloe.
  - Espere. - Ordenou ele. - Deixe ela ir.
  - Por que paramos?
  - Por que preciso te mostrar uma coisa. Mas não aqui. Venha!
  O segui para uma área até então desconhecida por mim. Ficava atrás da Floresta da fogueira central. E parecia ser um cemitério.
  - O que estamos fazendo aqui?
  - Espere. Você já irá ver.
  Ele se ajoelhou de frente a um túmulo e limpou a poeira que cobria o nome escrito na lápide. Era algo como Lou Blan. Não, não era. Era Louis Blanche.
  - Isso parece ser francês. - Afirmei.
  - Apenas de origem. - Explicou Ethan.
  - Mas por que me trouxe aqui?
  - Porque esse - Ele soltou dois soquinhos na lápide. - É o motivo pelo qual Chloe não gosta de você.

A Sexta Irmandade (Vol.1) - O Lobo Vermelho Onde histórias criam vida. Descubra agora