CAPÍTULO 18 - Eu sou o Lobo Vermelho

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  O tunel, por onde passava a poucos segundos a locomotiva, agr estava reduzido em pedaços. Ethan tossiu com força, assim como os outros,  estava coberto de areia. Uma armadilha, tão bem implantada entre nós, talvez tudo fosse uma armação; Jeff, os anões, a carta; tudo fazia parte de uma armadilha, e nós tinhamos caído direitinho nela. Rapina era realmente despresível, sacrificar seus capangas para nos matar em uma armadilha, que suja.
  - Merda! Merda! Merda! - Ethan socou o chão protestando seu ódio. - Nós não deviamos ter vindo. Eu caí em uma droga de uma armadilha.
  - Nina. Você está bem? - Tentei reconfortá-la com um abraço.
  - Sim. Só acho que... - ela olhou para sua coxa com insegurança - estou com medo de olhar, por favor, me diga como está, dói tanto.
  Usando minha força, retirei os escombros de cima de sua perna. Eu nunca havia me desesperado tanto, um pedaço de sua coxa havia sido arrancado por um concreto e podia-se ver a carne viva espumando sangue. Eu não sabia o que fazer, ela era a curandeira. Mas não podia deixá-la assim.
  - Está muito mal - segurei sua mão para tentar tranquilizá-la. - Mas você deve saber como cuidar disso. Vai ficar tudo bem, só me diga o que fazer.
  - Tá doendo muito, Kevin - ela tentou, mas não foi capaz de segurar o choro.
  - Eu sei, querida - apoiei sua cabeça em meu peito. -  Eu sei que dói. Mas vou cuidar de você. Ok?
  A escuridão só piorava a situação, ter de fazer aquilo em meio a tal breu não seria um desafio no qual eu gostaria de me arriscar.
  - Ok - ela tentou se acalmar, seu rosto estava muito vermelho devido ao choro constante.
  - É melhor cuidar logo disso, tô sentindo o cheiro de problema - Ethan armou uma flecha especial. Ao atirá-la no teto, um feixe de luz foi feito e a luminosidade se manifestou por um raio de dez metros, ou mais.
  Isso ajudou a me fazer ver melhor o ferimento de Nina, meu Deus, como aquilo estava feio. Retirei a mochila de suas costas.
  - O que faço?
  - Está vendo algum alicate? - Suas palavras se pronunciaram como uma pontada em meu coração.
  - É. Tô vendo, sim.
  Chloe surgiu em meio aos escombros, seus cabelos haviam se tornado pretos devido a tal sujeira. Ethan não pensou duas vezes, a beijou sem se importar com nossa presença, e digamos que ela não pareceu se incomodar com a atitude dele.
  Voltei minha atenção novamente à perna de Nina.
  - Em um bolso reserva, terá um liquido roxo, derrame ele sobre o metal do alicate e tire os pedaços de concreto que ficaram na minha perna.
  - Tá de brincadeira, né?
  - Não - balançou sua cabeça negativando. - Infelizmente, não.
  - Ok - fiz o processo de limpesa do metal. - Tem alguns pedaços de ferro e concreto ainda aí dentro. Mas não sei se consigo...
  - Você só precisa retirar esses pedaços de metal e concreto. Eu aguento a dor. Já passei por coisa pior.
  Com delicadeza ( na qual nunca foi uma das minhas qualidades) , retirei-os de dentro. Ela mordeu a própria mão e com a outra segurou a minha para não gritar. Mas por fim, não aguentou.
  - Agora - ela havia voltado a falar com a respiração mais que ofegante. - Precisa passar as ervas vermelhas derretidas com azeite, elas são mágicas, irão acelerar o processo regenerativo.
  Aquilo devia queimar um pouco, pois Nina fez uma careta feia.
  - E agora?
  - Enrola minha perna em uma faixa, em alguns minutos a ferida irá se fechar.
  - Minutos? - Franzi a testa.
  - Ervas mágicas, baby - disse isso como se eu fizesse parte do seu esquadrão de curandeiros da terceira idade.
  - Você vai ficar bem? - Perguntei preocupado.
  - Não fui atendida pelo melhor curandeiro do mundo, mas vou sobreviver - riu para aliviar a dor.
  Realmente, as ervas mágicas de Nina tinha um efeito instantâneo. Ela já podia levantar, até mesmo andar - com estranhesa, aquela mancada de Dr. House, claro.
  - Valeu. - Agradeceu.
  - Só fiz o que você mandou.
    Nós precisávamos voltar ao centro da estação, onde antes havia inúmeras pessoas, agora poderia ser um canto reduzido em escombros e de pessoas que precisariam da nossa ajuda.
  Seguimos correndo até lá. Havia alguns sobreviventes que saíam em meio à escuridão para fora e outros que ainda estavam embaixo de escombros. Eu, agora mais forte, retirei-os de cima dos civis. A prioridade era salvar o maior número de pessoas. Ethan usou mais uma flecha de luminosidade e os guiou para a rua, a estação Wonderwood estava reduzida em pedaços.
   Senti o cheiro de mais uma pessoa, ela estava um pouco mais distante e isolada abaixo de escombros. Era dificil não confundir o cheiro, afinal, havia um bom número de pessoas mortas e soterradas. Esse, no qual o cheiro era distante, consegui encontrá-lo. Pra ser mais específico, era uma senhora de idade. Achei que ela não poderia andar, sua perna estava machucada. A carreguei nos braços até o lado de fora.
  - Obrigado, meu jovem. - Disse ela com dificuldade.
  - Vamos sair daqui, certo? - Tentei ser positivo.
  A deixei com outras pessoas, que lá fora estavam, não feridas e recém chegadas na estação Wonderwood.
  Chloe se aproximou de um vagão de trem, ela estava servindo de apoio para Nina. Que já conseguia andar, mas uma ajuda a ela, nas circunstâncias em que sua perna estava, era algo bom e útil. Poderia se ouvir barulho de dentro do vagão caído.
  - Ethan. Dê um jeito nessa porta - Chloe apontou com a cabeça.
  Ele armou uma flecha especial.
  - Afastem-se!
  A flecha explodiu a entrada. Chloe tomou certeza de que Nina já poderia andar e a soltou, as duas foram tirando com calma as pessoas de dentro do vagão caído.
  Algo ainda me incomodava, aquele cheiro estranho e incomum, não havia cessado. Algo diferente estava ali. As chances de uma batalha vitoriosa para o nosso lado eram menores - como sempre - , estávamos com um integrante machucado, sem contar que apenas eu conseguiria indentificar os inimigos por conta da luzes apagadas devido ao incidente, talvez Ethan também podesse com sua visão.
  Um grupo de repórteres chegou ao local. Como sempre, a imprensa foi mais rápida do que os bombeiros. Nós não podiamos aparecer na tevê, nem se quer nos mostrar para civis. Só estávamos lá porque seria egoísmo e crueldade deixar as pessoas em meio aos escombros por um acidente que foi causado para nos matar. A responsabilidade era nossa. Como já havia dito um certo tio: Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades.
   - Temos que ir! - Chloe me puxou pelo braço com força. - Os repórteres.
  De repente, um esquadrão de monstros saíram debaixo da terra, como zumbis em um filme antigo de terror. Talvez, aquilo fosse o plano b da armadilha, caso a explosão não nos matasse. Ou era apenas um ataque com os monstros que haviam sobrado do atentado ao meu bairro. O lobisomem central, parecia ser o líder, partiu para cima de um dos repórteres. Uma flecha ácida o golpeou no peito, impedindo que ele conseguisse chegar à um cinegrafista. Assim que caiu, desci Longinus sobre seu pescoço e o decepei. Tudo isso aconteceu rápido demais, entretanto, minha invocação de Longinus era tão rápida quanto, como algo instantâneo. Chloe atirou facas nos bebês dragões que vinham de não-sei-aonde e lutou com mais mortos vivos que tentavam agarrar os civis, tirados do vagão, que ela ainda protegia. Admirei sua coragem em não recuar em nenhum momento, mesmo em uma posição de batalha não favorável, e em desvantagem contra uma horda de inimigos avançando à todo instante, ela não fraquejou. Ethan lhe dava suporte ao atirar inúmeras flechas em monstros que corriam para atacá-la. Outro lobisomem - tão grande quanto o líder - lançou um enorme pedaço de concreto contra alguns civis, entretanto, fui rápido o suficiente para surgir na frente deles e cortar o concreto ao meio com minha espada. Um punhado de mortos-vivos me atacaram, pude dar conta, mas eles eram muitos e por isso causaram um pequeno dano à minha armadura de peito com suas espadas velhas e mal acabadas.
  O importante era que eu não tinha deixado eles triscarem um dedo no grupo de civis, os agarrei e puxei com força para não machucarem aqueles que estavam escondidos atrás de mim com medo. Logo então, quebrei alguns pescoços que já estavam mortos.
  - Saiam daqui! Agora! - Ordenei aos civis.
  Aquilo era meio inacreditável, mas Chloe e Nina estavam montadas em um bebê dragão, o fazendo cuspir fogo contra os mortos vivos. Ah, sim. Elas me fizeram lembrar de minha nova habilidade especial. Cuspi uma enorme rajada de fogo constante em um lobisomem com o dobro do tamanho de seu líder. A maestria de Ethan com o arco, até hoje, ainda considero indescritível. Ele não errava uma, alternava entre vários tipos de flechas mágicas e causava um dano enorme aos inimigos mais fracos. Um punhado, dessa vez bem maior, de mortos-vivos apareceu na nossa frente. Todos eram arqueiros e suas flechas já estavam armadas. Eu poderia me defender de todas usando apenas Longinus, mas havia os repórteres - os únicos que ainda estavam ali. Seria uma morte na certa para eles e possivelmente Nina e Chloe, mas Ethan teve uma ideia.
  - Todos! Aos repórteres!
  Chloe - após degolar o bebê dragão no qual estava montada - e Nina não hesitaram em partir até eles, muito menos eu. Confiamos em Ethan, ficando na frente dos repórteres, e esperamos para ver o que ele faria.
  De sua aljava, o arqueiro puxou uma flecha dourada e atirou ela no chão, um pouco mais para frente de onde estávamos. Era inacreditável, mas uma aura protetora dourada se criou em nossa volta, protegendo a nós e aos repórteres das flechas que agora ricochetiavam no nosso escudo de proteção.
  - É uma flecha protetora - limpou o suor de sua testa com suas luvas de couro. - Uma das 5 flechas raras que Hanna deixou.
  - Ainda tem alguma? - Perguntei por curiosidade.
  - A flecha da tempestade - ele sorriu com malícia.
  - Espero vê-la em ação algum dia - assim que terminei de falar a aura protetora se esvaiu.
  Os mortos-vivos armaram suas flechas novamente, seria mais uma saraivada.
  - Kevin, agora! - Gritou Ethan.
  Invoquei o poder da magia de Longinus e aquela areia vermelha lançou-se contra eles. Foi tão rápido, mas ao mesmo tempo tão forte que o impacto fez os ossos atrofiados deles quebrarem e seus corpos mortos cairem ao chão.
  Havia terminado. Todos os monstros estavam mortos. As duas tentativas de atentado dos Azuis tinham falhado. Há cinco dias atrás, ela tinha funcionado, matado dezenas de pessoas e a mais uma que era tão especial para mim. Mas isso não iria acontecer de novo, porque agora nós estávamos lá. Éramos os Protetores.
  - Temos que ir! - Chloe disse novamente, mas dessa vez não surgiu mais nenhum esquadrão de monstros.
  Meus amigos correram na frente, fiquei um pouco mais para trás. A situação, definitivamente, estava mais complicada. Não tinhamos mais nossa carona até Liverpool, restara menos de dois dias para a Lámina da Ressurreição ser carregada e usada novamente para ressuscitar um exército de monstros, maiores e mais fortes. E ainda tinha... Sally e Sarah. Não havia como saber se elas ainda estavam vivas, e isso só me deixava mais preocupado. As probabilidades eram irreconhecíveis. Eu não fazia a mínima ideia de como chegariamos lá e tão pouco tempo se teriamos tempo, por isso comecei a achar que tudo estava perdido.
  - Esperem! Esperem, por favor - clamou a repórter.
  Meus amigos, obviamente, não pararam de correr. Não podiamos ser vistos pelas pessoas comuns. Mas poderia ser minha chance de avisar à Rapina que nós estávamos por aí, que estávamos resistindo aos seus monstros e que não iriamos parar até achá-la, então eu parei de correr e esperei a repórter chegar até mim. Não havia nenhuma câmera, apenas gravadores de áudio, e eu só precisava de uma frase.
  - Vocês nos salvou - afirmou a repórter em um tom de agradecimento. - Então por que não me diz quem é você?
  Havia uma dezena de gravadores de áudio apontados para mim. A repórter que acabara de me perguntar aproximou mais o seu em busca da resposta, e ela veio com firmeza:
  - Eu sou o Lobo Vermelho.

A Sexta Irmandade (Vol.1) - O Lobo Vermelho Onde histórias criam vida. Descubra agora