Voltei para a cabana mais cedo que todos os outros. Eu queria apenas ficar só, por alguns instantes. Entretanto, Chloe teve a mesma ideia. Não falou absolutamente nada, mas não olhar para ela era impossível já que sua cama ficava de frente à minha. Simplesmente, ignorou o fato de que eu estava ali e puxou um caderno de anotações da mochila. Olhando para o seu caderno começou a falar frases em uma outra língua. Pela expressão que fazia parecia estar estudando. De início pensei que fosse alguma coisa deles, como uma língua mágica ou algo do tipo. Mas ao ouvir bem percebi que era francês.
Não sei onde eu estava com a cabeça pra puxar assunto com aquela garota mas acabei sendo idiota o suficiente para o feito.
- Você estuda francês?
Ela tirou os olhos do caderno e os deixou em mim. Até ali eu não havia entendido o que era uma risada de ódio, mas ela demonstrou pra mim gratuitamente.
- Está falando sério? Quer mesmo falar comigo? Olha, sinto muito por tudo que está acontecendo com você, mas com ele foi do mesmo jeito. Não fale comigo e, assim como eu faço com você, ignore minha existência aqui, lá fora, ou em qualquer lugar. E sim, eu estudo francês.
Talvez no dia anterior, eu ficaria calado e magoado com aquelas palavras. Mas eu estava irritado. O fardo que eu carregava parecia ser enorme, saber que todos ali passaram uma parte de sua vida treinando para uma guerra e eu recebi um poder capaz de ajudá-los, ou melhor, salvá-los, só me deixava mais nervoso.
Saí de minha cama e fui com passos firmes até Chloe. Normalmente, eu era o cara que deixava pra lá, mas não naquele dia.
- Não sei o que você tem contra mim. Mas saiba que não pode me desprezar e ignorar como se eu não fosse um de vocês. Sim, eu sou, infelizmente eu sou. Não tem ideia de o quanto eu queria estar em casa agora e não aqui. Mas não vou falar isso para Ethan, porque diferente de você, eu não quero deixar ninguém magoado.
Ela apertou seu caderno com tanta força que uma boa porção de páginas foram amassadas. Uma reação inesperada - quer dizer, nem tanto - veio dela quando saltou da cama, me empurrou com força até encostar-me minhas costas na janela e colocou uma adaga em contato com meu pescoço.
- Não ouse falar assim comigo.
- Vai me matar? Sabe o que não me faz diferente de vocês?
Ela pressionou a lámina com mais força, como se mandasse eu me calar. Mas eu não concedi seu desejo.
- Eu matei e vi gente que eu gostava ser morta antes de chegar aqui. Suponho que tenha sido assim com muitos.
Ela colocou mais força na mão que segurava a adaga e eu podia sentir um pouco de sangue escorrendo pelo meu peito, mas não importava. Eu não iria me calar.
- Então me diga, Chloe. O que me faz diferente de você?
- A diferença, é que eu não estou morta.
Eu sabia o que ela iria fazer. Deslizar aquela adaga pelo meu pescoço e me matar ali mesmo. Mas algo foi mais rápido que ela. Uma flecha que passou zunindo por seu ouvido - levando então alguns fios de seu cabelo- e se enterrou na parede.
- Chloe. - A voz era de Ethan, mas parecia estar bem mais firme. - Abaixe essa arma. Ou eu terei que atirar em você.
Ethan armou mais uma flecha e direcionou às costas de Chloe.
- Atiraria em mim por conta do seu novo amigo? - Perguntou ela virando a cabeça para ele mas sem tirar a adaga do meu pescoço.
- Atiro em qualquer um que esteja tentando matar um inocente.
- Inocente? Você sabe o que ele fez.
- Eu sei que é difícil de você entender, mas eles não são a mesma pessoa. Kevin é inocente e se você não baixar essa adaga juro que terei que tomar medidas drásticas.
Ela olhou fixamente nos meu olhos ainda pressionando a adaga. Por mais alguns segundos senti aquele metal quente espremer minha garganta contra a parede e finalmente Chloe me soltou. Então saiu com passos pesados da cabana. Na saída propositalmente esbarrou em Ethan, que poderia tê-la impedido de sair, eu vi em seus olhos que era o que queria, mas não fez nada, apenas a deixou ir.
Correu até mim colocando o arco nas costas novamente.
- Você tá bem, cara?
- Só sangrou um pouco aqui mas...
- Vou te levar até Nina. - Me interrompeu brutalmente.
- Não! - Exclamei em um grito não muito alterado. - Não devemos perturbá-la com isso. Ela já fez demais por mim. Foi pouca coisa. Eu ficarei bem.
Ele parecia querer não concordar mas algo lhe fez mudar de ideia e eu pude perceber por sua expressão.
- Ok. Apenas limpe esse sangue e vamos para a fogueira central. Você sabe, a missão.
- É. A missão.
EI, SUAS DESGRAÇAS. 10 MINUTOS PARA A REUNIÃO NA FOGUEIRA CENTRAL. EU AVISEI, QUEM SE ATRASAR SE ACERTA COM O WIND, ENTENDIDO?
- Precisamos matar o cara do holofote. - Brinquei com Ethan e nós dois rimos.
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A Sexta Irmandade (Vol.1) - O Lobo Vermelho
AdventureE assim nasce o primeiro dos sete heróis.