Acordei com batidas na porta.
- Ah, merda. - Soquei Ethan para que acordasse. - Acho que é o Dono.
- Jura? - Disse ele em tom de sarcasmo. - Pensei que fosse o cachorro dele.
As batidas na porta retornaram.
- Não há outra maneira de sair daqui. - Eu disse. - Vamos ter que contar a verdade.
Ethan chutou Nina levemente para que acordasse. Chloe despertou sozinha e puxou uma adaga de seu coldre.
- Relaxa. - Ethan colocou a mão sobre a dela abaixando sua adaga. - Não vamos matar o dono da fazenda.
- Quem te garante que é ele? - Ela o olhou com aquele olhar que causava medo em Ethan. Pelo menos era o que ele dizia.
- O que está acontecendo? - Perguntou Nina limpando o rosto.
- Longa história. - Eu disse. - Apenas vamos sair daqui.
Eu já estava pronto para abrir aquela porta e falar com o dono do local. Mas algo inusitado aconteceu. Raízes grossas de árvore sairam de baixo da terra. Elas se agarraram nas colunas que sustentavam o celeiro.
- Um monstro? - Perguntei.
- Quem dera. - Respondeu Nina.
As raízes se comprimiram sobre os sustentos do local. Era óbvio o que estava a acontecer, ele iria desabar.
- Corram!
Nós tentamos correr até o lado de fora. Consegui pegar minha armadura de peito na qual retirei do meu corpo na noite passada. Ethan foi rápido em meio a corrida, pois disparou uma flecha no cadeado. O teto desabou atrás de nós, e colunas teriam esmagado Nina se ela não tivesse se jogado para frente.
- Merda! Merda! Merda! - Gritou Ethan.
Nina estava caida ao chão, estendeu a mão para que a ajudassem. Chloe a puxou com brutalidade.
- Vamos logo, curandeira.
Tudo atrás de nós já havia desabado. Por fim, conseguimos chegar até a porta, que foi aberta por mim quando me joguei com o ombro nela. Antes mesmo que eu caísse, avistei o dono da fazenda e o puxei para que ele não fosse atingido pelos destroços. Caí agarrado a ele. Nós quatro estávamos bem, quer dizer, cinco contando com o fazendeiro.
- Estão todos bem? - Perguntei.
- A Chloe quase arrancou meu braço. - Protestou Nina.
- Devia ter te deixado lá. Mal agradecida.
- Tá. - Nina limpou o rosto sujo de terra. - Obrigada.
O fazendeiro me empurrou e saiu de perto da gente.
- Quem são vocês? E o que fazem no meu celeiro? - Imaginei que a qualquer momento puxaria uma espingarda.
- Primeiro que o senhor não tem mais celeiro. E segundo, meu nome é Ethan.
- Calma, não somos seus inimigos. - Levantei um pouco minhas mãos tentado mostrar que não havia nada nelas.
Então o senhor apagou. Seu desmaio foi tão rápido que não tive tempo de segurá-lo.
Mais raízes se aproximaram de nós. As árvores tomaram formas humanas e nos cercaram.
- Ainda bem que ele tá apagado. - Ethan afirmou apontando para o fazendeiro.
- Quem são vocês? - Disse uma voz seca. Ela parecia não vir de um só lugar, mas de todos.
Nós quatro ficamos em uma formação de losango. Nina e Chloe ficaram com as costas encostadas. Longinus apareceu novamente na minha mão direita. Ethan deu um passo para trás e armou uma flecha certeira na testa de um dos seres que nos cercavam.
- Se eles se aproximarem, eu atiro. - Disse Ethan friamente.
- Quem, ou o quê, é você? - Gritou Chloe.
- Eu sou a Voz da Floresta! - Respondeu secamente. - Vocês, Protetores. Não podem vir até aqui. São tão egocentricos a ponto de esquecerem o que Wind fez com minha floresta? - Após seus gritos mais formas de árvore humanoides se aproximaram.
- Vamos ter que matar árvores. Isso não é errado? - Perguntou Nina.
- Essa será a coisa menos errada que iremos fazer daqui pra frente. - Respondeu Ethan. E sinceramente, eu não duvidava.
- Então bem, queridos guerreiros. O que estão fazendo aqui? - A voz tremulou novamente por nossos ouvidos.
- Estamos apenas de passagem. - Ousei falar. - Não queremos interferir em nada que... é... que seja da senhora.
- Mas não posso deixar que passem. São Protetores, tem uma divida comigo.
- Olha aqui, nós não temos nada a ver com isso. - Chloe assumiu seu tom de voz normal, aquele mais bruto. - Esses dois apenas receberam os poderes dos antigos Protetores. Não são eles. E certamente não sabemos do que a senhora está falando.
- Como ousa falar em alto tom com a dona dessa floresta? - Ela devolveu.
- Chloe. - Nina a chamou parecendo preocupada. - Na verdade eu sei.
- Sabe o quê? - Perguntamos em um uníssono.
- O que aconteceu aqui. É conhecido como " O dia em que os Protetores foram contra as suas próprias leis". Houve uma batalha, contra centenas de lobisomens e grifos aqui. Eles não viram outra escolha a não ser incendiar toda a floresta para matá-los. Wind cuspiu fogo por toda a borda da floresta e Hanna, Águia do Vento, conduziu o próprio para alastrar as chamas por todo o local. Desde esse dia, os Protetores foram punidos a nunca mais destruir nada no qual defendiam. E nasceu um espirito para cuidar de cada floresta. Aquela que está a nossa frente, se chama Floresta Aurora.
- Por que Aurora? - Perguntou Ethan. Talvez o nome tenha sido o que mais lhe chamou atenção em toda a história.
- Porque é o nome da Guardiã da floresta. - Respondeu Nina.
- Bom saber que alguém aqui não é tão ignorante. - Disse Aurora com a voz seca.
- Ignorante é você, sua... - Coloquei o braço na frente de Chloe para que não falasse mais nada. Havia um pequeno exército de árvores em nossa volta conduzidos por Aurora, não seria nada bom irritá-la.
- Certo. Guardiã Aurora. - Tomei palavra. - Isso foi há muito tempo, nós estamos em uma missão para salvar não apenas sua floresta, mas como também boa parte da Inglaterra. O que lhe pedimos agora é um pouco de misericordia pelo o que nossos atencessores causaram ao seu lar. E que por favor, acorde esse fazendeiro.
- Sobre esse homem, o acordarei. Mas só depois que tudo aqui estiver resolvido, não é bom que veja meus bebês. - Se referiu as formas humanoides de árvore. - Em quanto a vocês, por que os deixaria passar sem uma demonstração do que podem fazer?
- O que quer dizer com isso? - Perguntei.
- Sobrevivam. - Foi sua última palavra em nossas cabeças.
Os homens de madeira nos atacaram. Chloe não avançou, esperou que eles se aproximassem, provavelmente para não sair da nossa formação. Nossos inimigos eram como árvores humanas, onde devia ser suas mãos, haviam pedaços pontudos de madeira, pontudos o suficiente para atravessar nossos corpos de um lado ao outro. Não conseguia reparar bem em o quê Ethan e Chloe faziam, eu estava limitado a proteger Nina. Ela até se saía bem com o facão de Hank, mas isso não a salvaria se estivesse só. Foi nesse momento em que descobri algo que me ajudaria futuramente. O real poder da espada Longinus. Apontei a espada para um grupo de inimigos, como se faz com uma escopeta de cano duplo, e dela saiu um jato de areia vermelha. Ele foi tão forte que derrubou todos para qual apontei a lámina, alguns deles até perderam alguns membros de madeira.
- Uou. - Disse eu olhando para a minha espada.
- Uou mesmo. - Concordou Ethan.
Pude avistar Chloe arrancando uma cabeça. E depois soltando uma sequência de facadas no abdome de um deles. Se no lugar de árvores, fossem humanos, eu a consideraria um tanto cruel. Ela deu um golpe com a perna em um deles, que caiu no chão e antes que podesse levantar, teve sua cabeça decepada pelo facão de Nina.
- É. - Chloe pareceu impressionada. - Tá ficando boa em decepar cabeças.
- Aprendi contigo. - Respondeu Nina.
Ethan disparou uma flecha para o lado direito. Ela fez uma curva e conseguiu levar três dos nossos inimigos. Ele apontou a flecha para um grupo deles que estava a minha frente, a disparou. Sua flecha era magica, de fato, pois quando se aproximou do grupo disparou uma grande rajada de vento que os jogou para longe. Me abaixei e cortei um deles ao meio. Outro se aproximou e atacou com seu braço pontudo, demorei para esquivar e quase tive metade do meu rosto levado por um galho de árvore. Mas graças a Deus tal fato não aconteceu. Ainda agachado finquei a espada no que quase me acertara. Por boa parte da luta, usei minha armadura como escudo já que não houve tempo para vestí-la. Ethan disparou dessa vez uma flecha de fogo, não achei uma ideia muito boa pois aquilo estava acontecendo por conta de um incêndio. Mas irrelevei o fato já ocorrido. Agora restara só um, ele veio correndo até mim mas o chutei com força. Quando foi jogado para trás, o facão pesado de Nina já o aguardava. Nossa luta havia terminado.
- Está bom pra você? - Gritou Chloe para o nada.
E consequentemente, o nada não nos respondeu.
- É. - Ethan recolheu algumas flechas caídas. - Acho que podemos ir.
- E ele? - Nina perguntou apontando para o fazendeiro.
Ethan se aproximou do homem caído.
- Nina. Você que é a curandeira do grupo, se aproxima aí, por favor.
Ela se ajoelhou perto dele. Pôs a mão sobre seu peito, os dedos da outra próximos ao nariz e por fim nos informou da situação.
- Ele está vivo. Apenas desmaiado. Aurora fez isso com ele para que não visse o que iria acontecer.
- Tem certeza de que irá acordar? - Admito que me preocupei com ele.
- Sim. - Nina sorriu pra mim.
- Certo. Vamos? - Perguntou Chloe.
- A gente não vai nem comer? Nina trouxe muita comida nessa mochila. - Disse Ethan.
- Trouxe sim. - Confirmei.
Nina riu para nós.
- Certo. - Chloe colocou a mão sobre a testa tentando se acalmar. - Nós vamos comer, mas não aqui. Vamo procurar um canto melhor, e longe de qualquer floresta imunda. - Chloe falou um pouco mais alto, como se quisesse que Aurora escutasse.
Enquanto iamos embora, Aurora falou mais uma vez em nossas mentes. Ou melhor, na minha mente.
- Não conte aos outros, Kevin. Isso é apenas para você.
- Odeio quando dizem isso. - Sussurrei. - E ah, obrigado por quase nos matar com seu pequeno exército.
- Me escute! - Ela alterou o tom de voz.
- Certo.
- Quando a hora certa chegar, saiba que a selva precisará do seu sangue.
- O que isso quer dizer? - Não me importei se os outros pensariam que eu estava falando sozinho.
- Você saberá. - Senti a força de Aurora sair de minha mente.
- Ei! Espera. - Tive uma ideia boba. - Vocês nos deu uma prova de sobrevivência. Nós passamos. Mas não pedimos nada em troca. Não poderia arranjar uma maneira de nos levar até Londres? É que... a gente tem só 3 dias agora.
- Como ousa pedir algo tão...
- Aurora. - A interrompi. - Quando desabou aquele celeiro, quase matou o fazendeiro que era dono dele. Eu o salvei, não quer que todos por aí saibam que a Guardiã Aurora quase matou um homem, quer? - Eu sei que era loucura tentar chantagear alguém capaz de conduzir um exército de árvores, mas eu queria nos dar mais tempo até acharmos Sally, Sarah e a Lámina da Ressurreição.
- Seu moleque, insolente, mal agradecido...
- Aurora. - A interrompi novamente.
- Certo! Certo! Traga seus amigos até a floresta. Os colocarei em outra, a mais próximo possível de Londres.
- Valeu, Aurora.
- Vai logo!
- Tá. Relaxa.
Avisei a todos a situação. Chloe não pareceu concordar muito mas ela disse que caso fosse uma armadilha, não se importava em lutar de novo. Nina não foi capaz de opinar. Ethan deixou ser tomado pela indecisão.
- Como podemos confiar nela? - Perguntou Chloe indignada.
- Aurora! - Gritei. - Se nos trair, nos mandar para o lugar errado, nos meter em encrenca, ou até mesmo causar um arranhão em nós, a Inglaterra morre junto com a gente. Somos a única esperança de deter os Azuis. Caso nos traia, Wind virá atrás de você.
- Certo, Lobo. - A voz de Aurora agora falava na cabeça de todos nós. - Londres?
- Sim. - Respondi.
Um buraco se abriu no chão. Como se aquela parte da terra fosse de areia movediça. Era um buraco aparentemente não tão fundo. E lá havia uma imagem, que refletia outra floresta como se fosse uma poça d'água.
- Pulamos? - Perguntei.
- O plano é seu, cara. - Falou Ethan.
- No 3. Certo?
- Deixa de frescura. - Chloe me empurrou e eu caí no buraco.
- Merda, Chloe! - Gritei antes de chegar ao que parecia ser o portal do buraco.
Então caí na terra fofa, era uma floresta de frente a um mar. E no outro lado desse mar, estava Londres. Aquela Londres às 6 da manhã. Na qual eu era acostumado a ver toda vez que ia ao colégio. Logo então meu amigos caíram na terra fofa, assim como eu.
- Uau. - Ethan se limpou por conta da areia. - Chegamos?
Sorri ao olhar para o porto da minha cidade.
- Sim.
- Eu disse para deixar de frescura e pular logo. - Resmungou Chloe.
- Então. Vamos? - Ethan perguntou.
- Não, ainda não. - Nina parecia querer impor sua voz. - Temos que comer. E eu... - Ela segurou meu braço, a mordida do Caláioppe ainda estava lá. - Tenho que cuidar disso. E disso. - Ela passou os dedos levemente pela testa de Chloe. Lá estava um corte causado por sei-lá-o-quê.
- Comida! - Gritei em uníssono com Ethan.
- Mas depois, ferimentos. - Afirmou Nina.
- Certo. Certo. - Eu disse
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A Sexta Irmandade (Vol.1) - O Lobo Vermelho
PrzygodoweE assim nasce o primeiro dos sete heróis.