Egydia, na verdade, Egydinha como era chamada pelos amigos e parentes. Era uma pessoa de muito carisma. Por onde passava transformava o ambiente e roubava a cena. Era bela, não tenho dúvidas, mas o que encantava a todos era ela mesma. Seu jeito de falar, de andar, de conservar as amizades com carinho e ao mesmo tempo era tão discreta. Naquele tempo, início do século, a discrição era uma qualidade nas damas.
O ano era 1905. Egydinha completaria dezoito anos daqui a duas semanas, dia 02 de agosto. Sua mãe, Dona Inês, estava atarefada com os preparativos da festa. Queria que tudo fosse perfeito. Afinal seria nessa festa que Egydinha ficaria noiva do Dr. Rudolf Zweig.
Dona Inês entra na cozinha se abanando em leques.
- Meu Deus que calor! Nem parece que estamos no inverno. – ela continua a falar com Ciça e Das Dores as serviçais da família.
- Dona Inês a água acabou nas torneiras. Pedi pra Ciça pegar água no poço.
Ciça volta com um balde cheio de água e coloca nas vasilhas empilhadas próximo a pia.
- E ainda temos falta de água nas torneiras? É um transtorno só! Vamos meninas temos muito que fazer!
- Dona Inês, eu fico aqui pensando, será que atacaram os registros de água de novo? – disse Das Dores, uma mulher forte no auge dos seus quarenta anos.
- Claro que não! Isso foi em 1902 Das Dores. Agora o Senhor Prefeito tomou providências. Isso não acontece mais.
- É mesmo? E o Prefeito? Ele vem na festa de Egydinha? – disse Ciça , uma moça negra e linda, de corpo fino e sorriso largo, era quase uma menina com apenas vinte anos.
- Ele foi convidado, mas se vem mesmo, eu não sei.
Era assim que Dona Inês começava o dia.
Enquanto isso, sua filha Egydinha acordava devagar, esticando as pernas por entre os lençóis e se enroscando no travesseiro para sonhar mais um pouco. Ela gostava de ficar na cama. Só resolvia sair, quando sua cachorrinha de estimação, Champanhe, vinha acordá-la.
- Champanhe! Deixa-me dormir mais um pouco sua lambona!
A cachorrinha obedecia meio a contragosto e saía para se deitar aos pés da cama.
Ela assim já acordada, ficava a se ajeitar na cama e pensar nos últimos acontecimentos.
Então, lembrava-se de como a mãe a havia convencido a aceitar o namoro com o Senhor Rudolf, amigo de seu pai. Ela tinha relutado um pouco, queria ver mais coisas no mundo antes de se casar. Tinha as amigas, gostava de sair, ser livre. Olhar todos os rapazes e saber que seu coração ainda não tinha dono.
Havia a prima Ruth que sempre a acompanhava nos passeios e devaneios. Era muito nova para compromisso. Precisava dizer isso à mãe. Mas assim que tomou coragem e abriu seu coração. A resposta da mãe veio logo sem rodeios. A mãe sempre tão direta e eficiente disse para ela em bom tom:
- Seu pai está cansado e perdemos a loja de São Cristovão. Só temos essa casa e não podemos perder esse bom partido para seu futuro. Depois eu tenho experiência e sei que você será feliz, tenho certeza disso!
A mãe disse isso e saiu não dando chance para a filha replicar. Dona Inês não gostava de dialogar, isso era uma coisa que a mãe definitivamente não sabia fazer.
Egydinha dá um suspiro e levanta da cama. Como de costume vai para o banheiro e demora horas. Gosta de tomar banho logo que acorda. Na banheira já tem água morninha preparada por Ciça. São oito baldes d'água quentinha, até a hora de Egydia acordar a água já amornou. A mãe que já conhece os hábitos da filha espera o suficiente para um banho normal, mas logo vem à reclamação.
- Egydinha que demora é essa minha filha. O sol já está alto e você ainda não tomou café! - Dona Inês bate na porta do banheiro.
Era trabalhoso e demorado, mas Egydinha se arrumava como se fosse para a missa ou para casa de alguém. Também saía do quarto uma formosura! Ia para sala de refeições. A cachorrinha a seguia por todo o canto. A mãe aparece.
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Egydinha
RomanceA história se passa no Rio de Janeiro no início do século XX. Com apenas dezessete anos, uma jovem é obrigada pelo pai a ficar noiva de um homem estrangeiro rico que veio trabalhar numa indústria no Brasil. Os negócios da família vão mal e ela sofr...