Dr. Rudolf era canadense. Ele tinha vindo para o Brasil por conta da implantação do Rio de Janeiro Tramway Ligth and Power Company , concessionária de energia elétrica canadense.
Senhor Otávio, pai de Egydinha, tinha sido apresentado ao Dr. Rudolf numa reunião de amigos no clube. Depois de alguns meses de convivência e jogatina, Sr. Otávio convidou Dr. Rudolf para um almoço beneficente na Paróquia do Bairro.
No princípio, Dr. Rudolf recusou, mas quando soube que iria conhecer a jovem filha do amigo, Egydia, e ela cantaria no Coral da Igreja, tratou de mudar de idéia.
- Meu caro amigo, já que se trata de tão importante evento, então não me farei de rogado. Irei sim! E darei minha contribuição para a Igreja. De quanto seria?
Ali, naquele momento, sob o olhar insinuoso do Dr. Rudolf, o Senhor Otávio começou a achar que o infeliz e rico amigo gostaria de casar outra vez. E apesar de ser ele tão mais velho que sua filha, a ideia não estava de todo descartada na sua cabeça.
- Isso Doutor é lá na hora com o Padre Firmino. Combinado?
O dia do almoço chegou e Senhor Otávio que já havia conversado com a família sobre o possível aparecimento do importante amigo, não o viu na Igreja na hora da Missa. Pensou consigo mesmo: "Será que ele não vem?". Já havia dito a esposa tudo que estava pensando daquele encontro entre a filha e o futuro pretendente. Estava decepcionado.
Acabada a missa, saíram todos para a Praça em frente à Igreja. Lá fora havia uma mesa grande, a principal, e outras mesas menores com menos cadeiras. O almoço seria servido em cada mesa pelos serviçais das senhoras patrocinadoras do almoço. O Padre e o Prefeito encabeçavam a mesa grande, cada um de um lado, bem longe um do outro. As outras pessoas iam sendo levadas, cada família para sua mesa.
Quando já estavam para sentar-se à mesa dos Mello, eis que chega Dr. Rudolf, muito bem trajado.
- Querido amigo, cheguei tarde, não? – disse ele.
- Ainda em tempo, ainda em tempo. Antes de sentarmos deixe lhe apresentar minha família: minha esposa Dona Inês...
- Encantado minha Senhora!
- Minha filha Egydia Silva Mello! – disse Senhor Otávio sem disfarçar o orgulho.
- Encantado senhorita!
Egydinha estava vestindo azul. O vestido de brocados lhe cinturava a cintura e no sutil decote disfarçado por uma gaze clarinha estava um grande camafeu de pedra rosa que chamava atenção para o par de seios fartos e eretos de sua mocidade.
Egydinha sorriu e no seu rosto apareceram as covinhas que davam um toque a mais de alegria no seu sorriso.
Senhor Otávio continuou as apresentações:
- Minha sobrinha Ruth Bastos Mello.
- Encantado Senhorita!
Ruth trajava um vestido rosa de mangas bufantes e usava uma gargantilha com uma medalha de Nossa Senhora do Carmo.
As primas sorriram do jeito igual de falar do Dr. Rudolf.
- Podemos sentar agora? – pergunta Egydinha.
A mãe olha para baixo um pouco envergonhada da pressa da filha, parecia não estar dando muito importância para as apresentações.
- Por favor, sente Senhorita! Damas primeiro. – disse Dr. Rudolf puxando a cadeira para Egydinha.
O almoço transcorreu animado nas mesas, mas no final foi proposto um brinde regado a vinho para os homens que se reuniram fora das mesas. Este era um momento esperado por eles que queriam falar de política com o Senhor Prefeito ou de doações com o Senhor Padre.
Uma Irmã de Caridade vem chamar as meninas na mesa.
- Padre Firmino mandou chamar as meninas do Coral. Todas devem ir para o Coreto.
- Com licença mamãe!
-Vá Egydinha! Vá Ruth! Vou ficar aqui torcendo por vocês, será uma bela apresentação!- Dona Inês abanava em leques seu calor e a ansiedade do esperado momento da ver a filha e a sobrinha cantar.
As meninas, que já haviam saído da mesa, aproveitaram para comentar:
- Dr. Rudolf não tirava os olhos de você! – disse Ruth.
- Eu percebi.
- Ele é... Ele é...
-Muito velho para mim, você quer dizer? Ah Ruth, os homens são tão... São tão...
- Velhos! - completou Ruth.
- Não sua tonta! Os homens são tão iguais! Pelo menos eu percebo assim. Vejam, os mais jovens falam muito e os mais velhos falam pausadamente. No final a conversa é a mesma coisa , isso é coisíssima nenhuma! – Egydinha falava isso rodopiando e rindo em volta da amiga.
- Assim você me deixa tonta! Para!Eu não entendi nada!
- Talvez seja uma questão de intimidade. Não temos intimidade com o sexo oposto.
- Se você diz isso... Vamos logo, não quero ser a última.
- Não seremos as últimas, fique certa disso.
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Egydinha
RomanceA história se passa no Rio de Janeiro no início do século XX. Com apenas dezessete anos, uma jovem é obrigada pelo pai a ficar noiva de um homem estrangeiro rico que veio trabalhar numa indústria no Brasil. Os negócios da família vão mal e ela sofr...