Ruth tentou guardar todas as perguntas que queria fazer a prima para o fim do dia. Mas não conseguiu disfarçar seu constrangimento, ficando muito calada, o que não era do seu temperamento. Isto acabou chamando a atenção de Dona Inês, que perguntou se elas tinham brigado?
- Claro que não mamãe. Que ideia?!
-Estou apenas com um pouco de dor de cabeça. - disse Ruth - Vou me deitar um pouco.
Egydinha foi para o quarto com a prima. Precisava se explicar. Mas sabia que não seria nada fácil.
Ruth iniciou a conversa:
- Egydia por mais complacente que eu possa ser com as suas atitudes, eu confesso que hoje você conseguiu me surpreender.
-Eu posso explicar Ruth. Na verdade só queríamos ficar um pouco juntos, mas o carinho dele tomou conta do meu corpo, da minha alma. Eu tive medo e tive vontade. Eu não queria pensar , eu queria sentir...
- Como irá noivar com Doutor Rudolf se já se entregou a outro homem?
- Por acaso Rudolf não teve outras mulheres antes de mim? Ele foi até casado! Eu segui o meu coração, apenas isso. Eu nem sei se vou ficar noiva!
- É bom que você saiba logo, porque dia 02 de agosto, seu aniversário, está bem próximo.
- Eu sei disso Ruth, mas não quero pensar nisso agora. Me deixe pensar no que eu vivi hoje, nessa tarde.
- Eu não falo mais nada.
- Não ia adiantar Ruth. Eu estou apaixonada e pessoas apaixonadas não ouvem ninguém. Acredite nisso.
- E como foi fazer amor? Dói muito?
-Ele foi tão delicado ...eu achei que não íamos até o final ,mas nossos corpos pareciam ter vida própria ...e aconteceu.
-Eu nunca pensei que você fosse tão ...
-O que? Diga Ruth. Se você que é minha prima , minha amiga, já está a me julgar. Imagina os outros ?
-Eu ia dizer ingênua, precipitada. Esse seu ato pode lhe trazer consequências.
-Eu não quero pensar nisso agora. Por favor prima ,esqueça por enquanto o que viu.
-Você sabe que pode contar comigo. Na verdade, eu só estou preocupada com você.
-Eu sei prima, eu sei...
Egydia e Ruth se abraçaram enquanto Champanhe, a cachorrinha, continuava deitada em seu tapetinho, alheia a tudo que a sua dona estava passando .
-Mudando de assunto. E você e Tobias? -disse Egydinha.
- O que é que tem? Eu não o vi hoje.
- Ah! Lembro que Ciça comentou que ele ficaria a noite toda de plantão no Sanatório.
- Então ele falou com ela isso e não falou comigo...
- Deixa de ser ciumenta e vamos dormir. Venha Champanhe, durma aqui nos meus pés. Preciso me esquentar.
Enquanto isso...
O sino do portão tocou e Das Dores foi atender, achava que podia ser o filho que retornava do Sanatório. Mas era o amigo do patrão, Senhor Cristovão. Ela o encaminhou para a sala onde ele foi recebido pelo Senhor Otávio.
- Desculpe o adiantado da hora mas estou muito preocupado porque meu filho Arthur não retornou para casa até agora.
- Ele não está no quartel hoje? - perguntou Senhor Otávio
- Não. Ele disse que iria na casa de Dona Doroteia e depois disto não foi mais visto. Poderia chamar sua esposa e sua filha. Quem sabe elas possam me dar alguma informação?
- Fique calmo meu amigo. Sente um pouco, eu vou chamar a Inês e as meninas para falar com você.
Dona Inês já tinha se recolhido para dormir, mas após ouvir do que se tratava, vestiu-se rapidamente e foi dar uma palavra com o amigo do marido, mas não admitiu que acordassem as meninas.
- Senhor Cristovão, eu compreendo sua preocupação porque seu filho não retornou para casa, mas ele é jovem. Quem sabe encontrou algum amigo no meio do caminho que o levou para essas casas noturnas?
- Arthur não é dado a esses ambientes Dona Inês, mas se a senhora me garante que sua filha está dormindo e que ela não o viu hoje na casa de Doroteia. Só me resta percorrer algumas dessas casas noturnas antes de ir a policia.
- Meu amigo você não está sozinho nessa empreitada. Conte comigo, eu vou com você! - disse Senhor Otávio.
Assim os dois saíram a procura de Arthur.
Dona Inês antes de ir para o quarto resolveu dar uma passada no quarto da filha. Queria se certificar que ela estava mesmo deitada e respirou aliviada ao ver que tanto ela quanto Ruth estavam dormindo.
Mas e o filho do Senhor Cristovão? O que teria acontecido com o rapaz?
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Egydinha
RomanceA história se passa no Rio de Janeiro no início do século XX. Com apenas dezessete anos, uma jovem é obrigada pelo pai a ficar noiva de um homem estrangeiro rico que veio trabalhar numa indústria no Brasil. Os negócios da família vão mal e ela sofr...