O almoço na casa dos Mello estava animado. Egydinha e Ruth tagarelavam sobre planos futuros. Ruth dizia:
- Então tia Inês, como eu estava dizendo, Egydinha deve retornar comigo à Petrópolis. É por conta da escola. A senhora sabe, não seria justo ela perder o ano só porque vai se casar.
- Eu não sei quando será o casamento. O noivo ficou de marcar no noivado. E se ainda for esse ano? – retrucou Dona Inês.
- Esse ano "pás question" mamãe. Eu me casarei o ano que vem nesta mesma data do noivado, quem sabe? – disse Egydinha.
- Meninas eu vou ter que me retirar, pois ainda tenho que trabalhar, mas minha palavra se é que vale de alguma coisa nessa casa é para Egydinha continuar os estudos no Sion. Rudolf pode esperar. – disse Senhor Otávio.
- Obrigada papai! Sabia que podia contar com o senhor! – Egydia sai da mesa e abraça o pai antes que ele saia. Depois retorna para a sobremesa, morangos açucarados, sua preferida.
Assim que Ciça sai da sala, Dona Inês inicia uma conversa.
- Egydia o filho de Das Dores ficará um tempo aqui nessa casa. Ele dormirá nos aposentos da mãe. É só por um tempo, ele está vendo um trabalho.
- O Tobias no Rio? Que maravilha! - Egydinha se empolgava.
- Mas o quarto de Das Dores mal dá pra ela mamãe. Acho inconveniente. A senhora pode colocá-lo no quarto do sótão. É uma saleta, mas pode servir perfeitamente de quarto e depois eu o conheço desde pequena, não seria justo.
- Lá vem você misturando as coisas. É verdade que ele apesar da cor, estudou com mérito e sempre teve boa educação, mas hospedá-lo aqui na casa conosco não sei se seria o caso.
- Tia a cor das pessoas pouco importa. A escravidão já acabou, ficou no século passado. Em Paris há muitos homens de cor como a senhora diz com carreira e casando-se com mulheres brancas. - retrucou Ruth
- Por favor, mamãe. Eu sempre cedo quando a senhora pede alguma coisa... Pense na Das Dores sempre lhe servindo e nunca ficando com o filho. - Egydinha se importava realmente com Tobias e Das Dores.
- Certamente não será agradável aos olhos de Deus termos diferenças entre nós. Não acha tia?
A prima Ruth ajudava no que podia, era muito ligada as causas sociais.
Dona Inês pensou um pouco antes de responder, mas acabou cedendo.
- Está bem, mas vocês é que irão arrumar esse sótão para o rapaz e nada de se meterem lá em cima com ele. Já não são mais crianças.
Ruth e Egydinha se olharam sorrindo. O olhar das duas era um olhar de vitória, haviam convencido Dona Inês a mudar de ideia, tanto nas férias de Egydia quanto na hospedagem de Tobias.
- Eu mesma vou falar com Das Dores da mudança de lugar para o filho dormir. – disse Dona Inês antes de se retirar da mesa.
Assim que Dona Inês se retirou, Ruth disse
- Agora podemos ir pro quarto, quero que você me conte todas as novidades!
- Aqui não, precisamos sair. Vou dar uma desculpa e vou te levar pra ver a ronda dos soldados da cavalariça.
- Mas hoje é sábado, vai haver ronda?
- É por conta das obras do Prefeito, todos os dias menos no domingo há ronda dos soldados no Centro da cidade
- E por que eu gostaria de ver os soldados?
- Já já você vai saber, sua curiosa!

VOCÊ ESTÁ LENDO
Egydinha
RomanceA história se passa no Rio de Janeiro no início do século XX. Com apenas dezessete anos, uma jovem é obrigada pelo pai a ficar noiva de um homem estrangeiro rico que veio trabalhar numa indústria no Brasil. Os negócios da família vão mal e ela sofr...