Capítulo 7

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Sr. Otávio recebeu seus convidados para o jantar, Dr. Rudolf, seu futuro genro, Sr. Cristovão Aguiar, um amigo comerciante e seus filhos Arthur e Clara, Dorotéia e Emília, tia e prima de sua esposa. Assim a mesa de dez lugares ficou quase completa

Havia uma segunda intenção da dona da casa, Dona Inês, quando fez a lista dos convidados daquela noite. Sua prima Emília já estava com trinta e dois anos e continuava solteira, então quando soube da viuvez do amigo do marido, Sr. Cristovão, pensou em aproximar os dois para como dizia ela mesma "dar um empurrãozinho no destino".

Egydinha já tinha ouvido o pai falar do amigo Cristovão, mas ainda não o conhecia pessoalmente, assim também como os filhos dele.

Imagina a surpresa dela quando reconheceu ser Arthur o soldado que montado a cavalo lhe havia dirigido um gracejo.

- Enchanté Mademoiselle! – Arthur fazia uma reverência à Egydinha.

Os que assistiam esse gesto do rapaz ficaram na dúvida se era o jeito natural dele ou se era um pouco de graça exagerada para quem acabara de conhecer Egydinha.

Sr. Otávio percebendo que Dr. Rudolf parecia enciumado, foi logo falando:

- Rapaz minha filha já está comprometida com Dr. Rudolf. Vão ficar noivos daqui a duas semanas.

Arthur deu um lindo sorriso e não se sentiu intimidado. Seu espírito parecia estar descrente desse noivado da filha do dono da casa.

Egydia foi apresentada a Clara Aguiar e sentiu grande empatia pela moça. Ela estudava no Colégio Nossa Senhora Imaculada em Botafogo e conhecia sua amiga Cândida que estava em Juiz de Fora.

Dona Inês serviu um vinho do porto antes do jantar enquanto isso já aproveitava a ocasião para iniciar uma conversa entre a prima Emília e o Sr. Cristovão e no intuito de deixar os dois mais a vontade, levou a tia Dorotéia para a cozinha com um pretexto qualquer.

Dr. Rudolf ficou todo o tempo ao lado de Egydinha como a guardar território. Ela estava sem graça e perdera a espontaneidade de sempre. Tentava disfarçar, mas sentia que o futuro noivo percebia seu estado de ânimo.

- Pareces inquieta esta noite. Aconteceu alguma coisa? Perguntou Rudolf.

- A proximidade do nosso noivado me deixa um pouco nervosa. – tentava disfarçar Egydinha.

- Com o que te preocupas? – insistia ele.

- O senhor não entenderia. – Egydinha baixava o olhar, sentia-se pequena diante daquele homem grande e mais velho que logo seria seu esposo.

- E por que achas que não te entenderia?

- Porque é coisa de mulher. É isso! – Egydinha segurou a saia e saiu sem pedir licença da sala.

Passado alguns minutos, Dona Inês voltou à sala de estar e convidou a todos para irem para a sala de jantar.

- Onde está Egydinha? – disse Dona Inês.

- Estou aqui mamãe! – Egydia voltava à sala de estar a tempo de se juntar aos outros para o jantar.

O jantar transcorreu normal e falou-se um pouco de economia e política. Alguns elogiavam a nova Avenida Central, que estava sendo construída pelo Prefeito Pereira Passos e deveria ser inaugurada daqui a poucos meses e outros reclamavam dos entulhos dessa obra e do crescimento dos cortiços que infestavam a Cidade.

 Até que Ciça entrou para retirar as travessas do prato principal e deu de cara com o jovem Arthur e reconhecendo ser ele o soldado que alegrara à tarde da sinhazinha, deu um grito sem querer:

- Jesus!

- Que foi Ciça? Diga o que houve? – Dona Inês estava espantada.

Egydinha olhava Ciça tentando dizer para ela disfarçar a surpresa e nada falar sobre a tarde que tiveram. A ama parece ter entendido esse olhar.

- Nada não sinhá, fui eu que esqueci de trazer a bandeja. – Ciça voltou à cozinha e trouxe uma bandeja grande, mas as mãos da serviçal tremiam um pouco a retirar as travessas da mesa, não teve como Dr. Rudolf não notar que algo ali estava errado.

Depois do jantar Dona Inês pediu a Egydia que tocasse um pouco o piano. Logo depois Clara foi convidada a tocar também.

Sr. Otávio chamou Dr. Rudolf e Sr. Cristovão para irem até a Biblioteca, queria mostrar essa parte da casa para o amigo Cristovão e fumar um charuto longe das mulheres.

Arthur aproveitou o momento para tentar se aproximar de Egydinha.

- O destino é mais forte do que as convenções sociais. A senhorita compartilha da mesma idéia?

Ele olhava para Egydinha e seu olhar era um misto de alegria e satisfação.

- Se o que está falando é do nosso casual encontro hoje à tarde e a vossa presença no jantar desta noite eu diria que foi apenas uma coincidência. – Egydia não queria se deixar impressionar mais do que já estava.

- Coincidências não existem. Eu chamo de destino e digo mais essa quinta-feira, 20 de julho de 1905 ficará marcada como a data que conheci minha mulher. Não vai me perguntar quem é ela?

Egydia ia responder mais viu Dr. Rudolf entrar na sala naquela hora e saiu de perto de Arthur antes que aquele jantar não terminasse bem.

Dona Inês tinha ganhado um ponto na pretensão de juntar a prima e o amigo do esposo, Senhor Cristovão, porque o mesmo antes de sair convidara a todos para no domingo irem almoçar num restaurante por conta dele, seria como um agradecimento pela ótima noite que passara ali na residência do amigo.

A tia Dorotéia e a prima Emília agradeceram o jantar. Dr. Rudolf iria levá-las até em casa.

Egydynha pode se recolher até o seu quarto e ficar a sós com sua cachorrinha Champanhe. Estava se sentindo estranha desde que conhecera Arthur. Ela nunca poderia imaginar que o soldado galanteador daquela tarde seria apresentado como o filho do amigo do seu pai na mesma noite. Isto a abalara como mulher. Se antes não tinha certeza de seus sentimentos pelo Dr. Rudolf, esta noite tinha ficado claro para ela que seu casamento seria um desastre. Achava o futuro noivo um homem inconveniente para não dizer chato mesmo.

- Vamos dormir Champanhe, não quero mais pensar sobre isso.

Egydia se entregava ao cansaço daquele dia e finalmente conseguia dormir.


EgydinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora