Ainda a caminho de casa Ruth mostrou sua preocupação com o rumo daquele namoro que antes era secreto e agora já tão exposto naquela manhã.
- Egydinha eu quase não acreditei no que vi e ouvi naquele quarto. Você beijou o Arthur na nossa frente?
- Eu não sou hipócrita e tanto você quanto a Clara sabem do nosso romance.
- Mas era pra ser secreto. Esse romance não pode ser percebido por ninguém.
- Eu sei, eu sei...
- Mas não parece. Você não pode esquecer que é quase noiva do Doutor Rudolf.
- Quase. Ainda não sou.
- Daqui a sete dias será seu aniversário e festa do seu noivado.
- Eu sei, eu sei...
-Está certo prima, me desculpe. Ter de lembra-la de coisas tão realistas é chato, mas eu me preocupo com você e com o Arthur.
- Por que com o Arthur?
- Eu tive um pensamento ruim em relação ao Arthur. Pensei até que o assalto que ele diz ter sofrido pode ter sido outra coisa.
- Como outra coisa? Eu não estou entendendo Ruth.
- Pode ter sido um atentado contra a vida dele.
- Será? Bom, ele me disse que foi atacado por trás e que depois da briga o homem acabou fugindo. Mas quem faria isso?
- Doutor Rudolf!
- Meu Deus! Será?
Já estavam chegando em casa e viram Tito, o carteiro conversando com Ciça no portão.
- Boa tarde Tito! Tem carta pra mim? - perguntou Egydinha
Ciça entregou duas correspondências para Egydinha.
- Vamos entrar Ciça, mas você pode conversar mais um pouco com o Tito.
As moças entraram e dessa vez Dona Inês nada desconfiou.
No quarto Egydinha foi ver a correspondência.
O primeiro postal era do admirador anônimo que lhe mandava uma poesia de Antônio Valentim da Costa Magalhães
Íntimo
Esta alegria loura, corajosa,
Que é como um grande escudo, de ouro feito,
E faz que à Vida a escada pedregosa
Eu suba sem pavor, calmo e direito,
Me vem da tua boca perfumosa,
Arqueada, como um céu, sobre o meu peito:
Constelando-o de beijos cor de rosa,
Ungindo-o de um sorriso satisfeito...
A imaculada pomba da Ventura
Espreita-nos, o verde olhar abrindo,
Aninhada em teu cesto de costura;
Trina um canário na gaiola, inquieto;
A cambraia sutil feres, sorrindo,
E eu, sorrindo, desenho este soneto.
- Quem será esse admirador que lhe manda versos tão lindos? - disse Ruth
- Eu não faço ideia Ruth. São realmente lindos os postais e as poesias, mas não tem assinatura de ninguém.
- Estranho isso! Precisamos investigar.
- Investigar? Ora Ruth só você para pensar numa coisa dessas. Vamos almoçar!
- Desde quando você recebe esses postais? Você já tinha conhecido o Arthur?
- Sim foi bem antes. Arthur não é com certeza. Este é de Arthur, veja!
- Mas quando foi que começou então?
- Esse ano, logo depois do almoço beneficente em que cantamos, lembra?
- Sim, lembro. Foi naquele almoço que você conheceu Doutor Rudolf. Seria ele?
- Por que ele não assinaria os postais? Isso não faz sentido. Vamos almoçar, estou com fome.
- Depois de tantos beijos a fome vem! - Ruth ria e o seu sorriso contagiou Egydinha
- Só você para me fazer rir!

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Egydinha
RomanceA história se passa no Rio de Janeiro no início do século XX. Com apenas dezessete anos, uma jovem é obrigada pelo pai a ficar noiva de um homem estrangeiro rico que veio trabalhar numa indústria no Brasil. Os negócios da família vão mal e ela sofr...