Capítulo 24

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Ainda a caminho de casa Ruth mostrou sua preocupação com o rumo daquele namoro que antes era secreto e agora já tão exposto naquela manhã.

- Egydinha eu quase não acreditei no que vi e ouvi naquele quarto. Você beijou o Arthur na nossa frente?

- Eu não sou hipócrita e tanto você quanto a Clara sabem do nosso romance.

- Mas era pra ser secreto. Esse romance não pode ser percebido por ninguém.

- Eu sei, eu sei...

- Mas não parece. Você não pode esquecer que é quase noiva do Doutor Rudolf. 

- Quase. Ainda não sou.

- Daqui a sete dias será seu aniversário e festa do seu noivado. 

- Eu sei, eu sei...

-Está certo prima, me desculpe. Ter de lembra-la de coisas tão realistas é chato, mas eu me preocupo com você e com o Arthur.

- Por que com o Arthur?

- Eu tive um pensamento ruim em relação ao Arthur. Pensei até que o assalto que ele diz ter sofrido pode ter sido outra coisa. 

- Como outra coisa? Eu não estou entendendo Ruth.

- Pode ter sido um atentado contra a vida dele.

- Será? Bom, ele me disse que foi atacado por trás e que depois da briga o homem acabou fugindo. Mas  quem faria isso?

- Doutor Rudolf! 

- Meu Deus! Será?

Já estavam chegando em casa e viram Tito, o carteiro conversando com Ciça no portão.

- Boa tarde Tito! Tem carta pra mim? - perguntou Egydinha

Ciça entregou duas correspondências para Egydinha.

- Vamos entrar Ciça, mas você pode conversar mais um pouco com o Tito.

As moças entraram e dessa vez Dona Inês nada desconfiou.

No quarto Egydinha foi ver a correspondência.

O primeiro postal era do admirador anônimo que lhe mandava uma poesia de Antônio Valentim da Costa Magalhães

Íntimo

Esta alegria loura, corajosa,

Que é como um grande escudo, de ouro feito,

E faz que à Vida a escada pedregosa

Eu suba sem pavor, calmo e direito,

Me vem da tua boca perfumosa,

Arqueada, como um céu, sobre o meu peito:

Constelando-o de beijos cor de rosa,

Ungindo-o de um sorriso satisfeito...

A imaculada pomba da Ventura

Espreita-nos, o verde olhar abrindo,

Aninhada em teu cesto de costura;

Trina um canário na gaiola, inquieto;

A cambraia sutil feres, sorrindo,

E eu, sorrindo, desenho este soneto.

- Quem será esse admirador que lhe manda versos tão lindos? - disse Ruth

- Eu não faço ideia Ruth. São realmente lindos os postais e as poesias, mas não tem assinatura de ninguém.

- Estranho isso! Precisamos investigar.

- Investigar? Ora Ruth só você para pensar numa coisa dessas. Vamos almoçar!

- Desde quando você recebe esses postais? Você já tinha conhecido o Arthur?

- Sim foi bem antes. Arthur não é com certeza. Este é de Arthur, veja!

- Mas quando foi que começou então?

- Esse ano, logo depois do almoço beneficente em que cantamos, lembra?

- Sim, lembro. Foi naquele almoço que você conheceu Doutor Rudolf. Seria ele?

- Por que ele não assinaria os postais? Isso não faz sentido. Vamos almoçar, estou com fome.

- Depois de tantos beijos a fome vem! - Ruth ria e o seu sorriso contagiou Egydinha 

- Só você para me fazer rir!




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