Dona Inês estava pensativa a caminho de casa. Ruth percebeu e estranhou o humor da tia. Egydinha só tinha pesamentos para Arthur. Queria vê-lo! Falar com ele! Como?
Na Casa dos Mello
As meninas resolveram ir para cozinha tomar um chá antes de dormir e aproveitaram para contar as novidades para Ciça que as servia. Das Dores já estava dormindo.
Enquanto conversavam e pensavam que estavam a sós, Dona Inês tentava escutar atrás da porta. Apesar de não ter ouvido muita coisa com clareza, ela pode deduzir que Egydia e Arthur estavam se encontrando de alguma maneira.
Dona Inês resolveu não falar nada aquela noite com a filha, já estava bem tarde. Precisava pensar antes de ter essa conversa com a filha e de preferência longe de Ruth. Ela não confiava no jeito livre de pensar da sobrinha. Era avançada demais para uma moça da idade dela, inteligente demais também. Egydinha era mais maleável, deixava-se influenciar com mais facilidade, já Ruth parecia bem intransigente quando se tratava de suas idéias.
Dia 24 de julho de 1905 - segunda-feira
Das Dores estava ajudando as meninas na arrumação do sótão para receber Tobias. Acabara de forrar a cama dobrável de ferro com todo carinho e por cima colocara a colcha de crochê que Egydinha trouxe do quarto.
- Está lindo Das Dores! Tobias vai adorar todo esse cuidado que você está tendo com ele. - disse Ruth.
Ciça subiu as escadas para chama Egydinha.
- Sua mãe tá chamando! Ela pediu pra falar a sós com a sinhazinha.
Egydia e Ruth se olharam, mas nada disseram porque Das Dores estava lá.
Egydia desceu para falar com a mãe.
Na sala
- Egydia falta uma semana para o seu noivado e eu me sinto constrangida de voltar a falar com você sobre seu comportamento minha filha.
Dona Inês estava calma, pelo menos aparentava estar.
-Eu não compreendo mamãe...
- Você me prometeu que faria tudo para salvar nossa família do infortúnio e as portas do seu noivado resolve arranjar um namorado? É isso mesmo Egydia? Você está se encontrando com o filho do Senhor Cristovão?
Egydia estava desconcertada. A maneira que a mãe lhe falara era como se soubesse de tudo. E agora?
- Foi uma coincidência mãe. Eu conheci o Arthur antes dele vir aqui em casa. Nós ficamos amigos é só.
- Como você o conheceu?
- Ele estava fazendo a ronda dos soldados no Centro e eu e Ciça comíamos doces próximo a eles, na rua... Depois aqui em casa ele conversou comigo e queria conversar mais e...
- Eu já entendi e não quero ouvir mais nada. Você tem um compromisso com Doutor Rudolf e eu exijo que não veja mais esse rapaz, pelo menos a sós. Quero que me prometa isso agora!
Dona Inês já falava um pouco mais alto e parecia bem alterada, a calma já não existia mais.
Passos foram ouvidos descendo as escadas. Era Ruth que se aproximava antes que Egydinha conseguisse responder a mãe.
- Tia estou tão feliz que me deixou ajudar no sótão. Precisa ver como ficou. Só falta as flores para recebê-lo, mas vamos deixar para o dia que ele vai chegar. Tomara que seja logo, não acha prima? - Ruth de forma inteligente interrompia o diálogo de mãe e filha, tentando proteger a prima de dizer uma promessa que fatalmente não iria cumprir.
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Egydinha
RomantizmA história se passa no Rio de Janeiro no início do século XX. Com apenas dezessete anos, uma jovem é obrigada pelo pai a ficar noiva de um homem estrangeiro rico que veio trabalhar numa indústria no Brasil. Os negócios da família vão mal e ela sofr...