Capítulo 4

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    As meninas subiram para o Coreto e foram colocadas destacadamente na frente das outras mocinhas. A Irmã disse que elas tinham postura. Mas a beleza e os trajes das moças chamavam à atenção e devem ter pesado na escolha do lugar de apresentação.

    Egydinha, mesmo jovem, já percebia isso, como a aparência contava para viver em sociedade. Lembrou de Ciça, sua ama e serviçal, que já ouvira cantar tantas vezes e que nunca tinha tido a oportunidade de cantar assim num Coreto para tanta gente. Por acaso ela estava lá no jardim ajudando Das Dores a servir as mesas, mas que ela sabia cantar, isso sabia.

    O Coral se apresentou acompanhado do Órgão da Igreja. O instrumento não pode ficar lá fora, mas as vozes firmes das moças encantaram a todos. Em volta do Coreto havia muitas flores de ornamentação e depois do canto, cada uma pode tirar foto individual com o fotógrafo oficial do evento.

    Na mesa dos Mello:

    - Dr. Rudolf, desculpe lhe perguntar, mas o senhor ficou viúvo há muito tempo?

    - Dois anos, Dona Inês. – ele respondeu secamente.

    - Mas o senhor fala perfeitamente o nosso idioma. Como pode?

    - Eu já vivia no Brasil, em São Paulo precisamente.

    - Inês chame as meninas para a sobremesa. – o marido cortava o clima de constrangimento que aparecia entre o seu candidato a genro e a curiosidade de sua esposa.

    Dona Inês passou o olhar pelos arredores da festa a procurar pelas meninas e nada. Avistou Ciça e chamou:

    - Ciça!

    - Sim Patroa! -

    - Por favor,  chame Egydinha e Ruth para a mesa.

    Ciça saiu à procura das duas por entre as árvores e mesas do evento.

No parque em volta da praça

    - Ciça! Espere!

    - É você? O que cê ta fazendo aqui? – Ciça reconhecia o carteiro Tito que entregava a correspondência na casa da patroa.

    - Eu vim entregar a correspondência da Igreja e Padre Firmino fez questão de me convidar.

    - Mas você tem mesa igual os brancos?

    - Não, eu comi lá dentro no refeitório da Igreja junto com os meninos da Sacristia.

    - Ah bom! – Ciça olhava Tito de cima a baixo, ele era até bonitinho, mas era pobre e ela precisava encontrar partido melhor.

    - Viu as meninas da casa por aí?

    - Elas levaram o fotógrafo até o lago. Querem tirar mais fotos.

    - Mentira! Carregaram o homem e as máquina toda?

    - Eu não sei de quem foi a ideia, mas eu vi quando eles desceram até a beira do lago.

    - Deixa eu ir então buscar as meninas, senão Dona Inês me manda embora é hoje mesmo pela demora.

    - Quem é aquele homem na mesa dos Mello?

    - É um amigo do Seu Otávio. Ele não tirou os olhos de Egydinha.

    - Sei...Sei.

    - Sabe o que Tito?

    - Nada não, só ouço falar que ele é um homem esquisito por demais. Só isso. Olha as meninas estão voltando.

    Ciça gritou;

- Depressa meninas!

As meninas subiram o gramado até onde eles estavam.

    - Que foi Ciça?- disse Ruth reparando na agitação da rapariga.

    - A sua tia está chamando e vocês  sumiram nesse mato de Deus. Eu nem sabia onde procurar.

    - Estávamos aproveitando o dia e tirando fotos lindas Ciça. Vou aproveitar e pedir para o fotógrafo tirar uma de você e Tito juntos. – disse Egydinha.

    - Deixe disso Dona Egydinha, esse fotógrafo é só pros ricos.

    O fotógrafo se aproxima e tira algumas fotos de Ciça e Tito e Ciça e as meninas, prometendo entregar em domicílio.

    - Viu Ciça? Nem doeu! – disse Ruth.

    - Vocês estavam lindos juntos, por acaso estão namorando? – perguntou Egydinha.

    - Ela me esnoba Sinhazinha, não quer nada comigo não.

    - Tenha calma Tito, nada como um dia após o outro... - disse Egydia

    - E o outro... e o outro...- completou Ruth e ambas caíram na risada enquanto se encaminhavam para a mesa dos Mello.

Na mesa dos Mello

    - Egydia, onde você estava? – perguntou a mãe assim que a filha sentou a mesa.

    - Vivendo essa tarde, aproveitando a minha juventude mãe, ou a senhora quer me prender a mesa toda a tarde?

    - Comporte-se minha filha, temos convidado a mesa!

    Doutor Rudolf parecia gostar do jeito petulante de Egydinha e logo apresentou sua defesa.

    - Deixe Dona Inês, eu entendo muito bem os jovens e eles precisam mesmo desse respiro. Acalme-se que a menina está bem e isso é o que importa.

    - Adoro quindins e tortinhas, assim vou engordar – disse Ruth retirando um grande pedaço de torta.

    - A senhorita precisaria comer muito mais que isso para tal.- disse Doutor Rudolf, sempre querendo agradar.

    Assim após a sobremesa se despediram do Dr. Rudolf, prometendo se encontrarem numa data próxima.

    Dr. Rudolf se encantou com tudo e dizem desembolsou uma boa gratificação por ele e pela família Mello para o Padre Firmino. Dona Inês passou a gostar dele nesse instante.

   Depois daquele dia, Dr. Rudolf passou a frequentar a casa da família Mello.  Esse primeiro encontro tinha sido em janeiro e de lá pra cá já tinha se passado seis meses. Tempo suficiente para Dr. Rudolf pedir Egydinha em noivado.



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