As meninas subiram para o Coreto e foram colocadas destacadamente na frente das outras mocinhas. A Irmã disse que elas tinham postura. Mas a beleza e os trajes das moças chamavam à atenção e devem ter pesado na escolha do lugar de apresentação.
Egydinha, mesmo jovem, já percebia isso, como a aparência contava para viver em sociedade. Lembrou de Ciça, sua ama e serviçal, que já ouvira cantar tantas vezes e que nunca tinha tido a oportunidade de cantar assim num Coreto para tanta gente. Por acaso ela estava lá no jardim ajudando Das Dores a servir as mesas, mas que ela sabia cantar, isso sabia.
O Coral se apresentou acompanhado do Órgão da Igreja. O instrumento não pode ficar lá fora, mas as vozes firmes das moças encantaram a todos. Em volta do Coreto havia muitas flores de ornamentação e depois do canto, cada uma pode tirar foto individual com o fotógrafo oficial do evento.
Na mesa dos Mello:
- Dr. Rudolf, desculpe lhe perguntar, mas o senhor ficou viúvo há muito tempo?
- Dois anos, Dona Inês. – ele respondeu secamente.
- Mas o senhor fala perfeitamente o nosso idioma. Como pode?
- Eu já vivia no Brasil, em São Paulo precisamente.
- Inês chame as meninas para a sobremesa. – o marido cortava o clima de constrangimento que aparecia entre o seu candidato a genro e a curiosidade de sua esposa.
Dona Inês passou o olhar pelos arredores da festa a procurar pelas meninas e nada. Avistou Ciça e chamou:
- Ciça!
- Sim Patroa! -
- Por favor, chame Egydinha e Ruth para a mesa.
Ciça saiu à procura das duas por entre as árvores e mesas do evento.
No parque em volta da praça
- Ciça! Espere!
- É você? O que cê ta fazendo aqui? – Ciça reconhecia o carteiro Tito que entregava a correspondência na casa da patroa.
- Eu vim entregar a correspondência da Igreja e Padre Firmino fez questão de me convidar.
- Mas você tem mesa igual os brancos?
- Não, eu comi lá dentro no refeitório da Igreja junto com os meninos da Sacristia.
- Ah bom! – Ciça olhava Tito de cima a baixo, ele era até bonitinho, mas era pobre e ela precisava encontrar partido melhor.
- Viu as meninas da casa por aí?
- Elas levaram o fotógrafo até o lago. Querem tirar mais fotos.
- Mentira! Carregaram o homem e as máquina toda?
- Eu não sei de quem foi a ideia, mas eu vi quando eles desceram até a beira do lago.
- Deixa eu ir então buscar as meninas, senão Dona Inês me manda embora é hoje mesmo pela demora.
- Quem é aquele homem na mesa dos Mello?
- É um amigo do Seu Otávio. Ele não tirou os olhos de Egydinha.
- Sei...Sei.
- Sabe o que Tito?
- Nada não, só ouço falar que ele é um homem esquisito por demais. Só isso. Olha as meninas estão voltando.
Ciça gritou;
- Depressa meninas!
As meninas subiram o gramado até onde eles estavam.
- Que foi Ciça?- disse Ruth reparando na agitação da rapariga.
- A sua tia está chamando e vocês sumiram nesse mato de Deus. Eu nem sabia onde procurar.
- Estávamos aproveitando o dia e tirando fotos lindas Ciça. Vou aproveitar e pedir para o fotógrafo tirar uma de você e Tito juntos. – disse Egydinha.
- Deixe disso Dona Egydinha, esse fotógrafo é só pros ricos.
O fotógrafo se aproxima e tira algumas fotos de Ciça e Tito e Ciça e as meninas, prometendo entregar em domicílio.
- Viu Ciça? Nem doeu! – disse Ruth.
- Vocês estavam lindos juntos, por acaso estão namorando? – perguntou Egydinha.
- Ela me esnoba Sinhazinha, não quer nada comigo não.
- Tenha calma Tito, nada como um dia após o outro... - disse Egydia
- E o outro... e o outro...- completou Ruth e ambas caíram na risada enquanto se encaminhavam para a mesa dos Mello.
Na mesa dos Mello
- Egydia, onde você estava? – perguntou a mãe assim que a filha sentou a mesa.
- Vivendo essa tarde, aproveitando a minha juventude mãe, ou a senhora quer me prender a mesa toda a tarde?
- Comporte-se minha filha, temos convidado a mesa!
Doutor Rudolf parecia gostar do jeito petulante de Egydinha e logo apresentou sua defesa.
- Deixe Dona Inês, eu entendo muito bem os jovens e eles precisam mesmo desse respiro. Acalme-se que a menina está bem e isso é o que importa.
- Adoro quindins e tortinhas, assim vou engordar – disse Ruth retirando um grande pedaço de torta.
- A senhorita precisaria comer muito mais que isso para tal.- disse Doutor Rudolf, sempre querendo agradar.
Assim após a sobremesa se despediram do Dr. Rudolf, prometendo se encontrarem numa data próxima.
Dr. Rudolf se encantou com tudo e dizem desembolsou uma boa gratificação por ele e pela família Mello para o Padre Firmino. Dona Inês passou a gostar dele nesse instante.
Depois daquele dia, Dr. Rudolf passou a frequentar a casa da família Mello. Esse primeiro encontro tinha sido em janeiro e de lá pra cá já tinha se passado seis meses. Tempo suficiente para Dr. Rudolf pedir Egydinha em noivado.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Egydinha
RomanceA história se passa no Rio de Janeiro no início do século XX. Com apenas dezessete anos, uma jovem é obrigada pelo pai a ficar noiva de um homem estrangeiro rico que veio trabalhar numa indústria no Brasil. Os negócios da família vão mal e ela sofr...