Capítulo 5

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20 de Julho de 1905 - quinta-feira

O sino do portão da Casa dos Mello tocou na Rua Paraizo 19, Paula Mattos.

- Deixe que eu vou Das Dores, deve ser correspondência. – disse Ciça saindo apressada até o portão.

Tito, o carteiro,  dava aquele sorriso quando via a bela Ciça chegar.

- Ainda vou casar com você morena! – ele lhe entregava o maço de cartas.

- Atrevido, deixe disso. Tem carta pra Das Dores?

- Tem sim. É essa aqui. - Tito lhe mostra qual é a correspondência.

- Deve ser carta do filho. Ela vive esperando notícias dele.

- Tem cartão postal para Dona Egydia e para Dona Inês também.

Ciça fez um muxoxo como a dizer: "E daí?"

Tito deu uma risada e segurou a mão de Ciça antes que ela fechasse o portão.

- Espera Ciça. Olha o que tem pra você.

Tito entrega uma carta endereçada a Ciça.

- Pra mim? Quem será? – ela diz surpresa.

- Leia!

Um silêncio e Ciça baixa o olhar envergonhado. Tito percebe que ela não foi alfabetizada.

- Deixe eu entrar, depois nós fala.- diz  Ciça, que fecha o portão e dá as costas para Tito. Vai saindo, numa das mãos a correspondência, a outra levantava a bainha da saia.

Tito ficou olhando a morena no seu andar cheio de charme entrar e só depois resolveu continuar seu trabalho pelas ruas de Paula Mattos.

Cozinha

- Das Dores carta pra você! – Ciça entregava o maço de cartas para Das Dores, sabia que agora ela poderia separar uma a uma a correspondência para que Ciça entregasse a patroa e a patroinha.

- Graças a Deus! Notícias de meu filho. Olha esse aqui você entrega pra Dona Inês e esses três são para Egydinha.

- Nossa! Três cartões só pra Dona Egydinha?

- E o que você tem com isso menina?

- Nada não Das Dores. – Ciça sai da cozinha falando com ela mesma - Eu também recebi um cartão...

Sala de Estar

- Licença! – disse Ciça entrando na sala onde Dona Inês escutava a filha tocar uma valsa que tinha aprendido com Madame Nadina.

- Correspondência! Deixe ver Ciça. – gritou Egydinha. E fechando o piano, foi até Ciça e pegou os seus postais.

- Mamãe se não se importa vou ler no meu quarto. – Egydinha saiu antes que a mãe lhe respondesse qualquer coisa.

- Esse aqui é pra senhora patroa. – Ciça entregava o último postal que lhe ficara nas mãos.

- Deixe ver! É da minha cunhada Rosa a que mora em Petrópolis. Mãe da Ruth.

-Sei quem é Dona Inês. Ela já esteve aqui com o irmão do Senhor Ótávio. - diz Ciça.

- Ela é casada com o Djalma. Essa mesma. Pode ir Ciça, Das Dores deve estar precisando de você. Teremos visita no jantar.

- Sim senhora.

Quarto de Egydinha

Egydinha tinha recebido três postais.

O primeiro era de sua prima Ruth que morava em Petrópolis. Ela confirmava chegada no sábado, daqui a dois dias, para passar um pouco das férias com ela e também a festa de noivado. 

O segundo era de sua amiga Cândida que estava de férias em Juiz de Fora na casa da avó. Ela também dizia voltar a tempo para a festa de noivado da amiga. 

E o terceiro era de um admirador secreto que lhe escrevera parte de um poema de Olavo Bilac:

  Eu vos direi "Amei para entendê-las
Pois só quem ama pode ter ouvidos
Capaz de ouvir e entender as estrelas."  

- Quem lhe escreveu filha? - Dona Inês entrava no quarto.

Egydinha tratou de esconder o cartão do admirador secreto antes que a mãe o descobrisse.

- Recebi um lindo postal da minha prima Ruth. Ela chega na quinta-feira e o outro postal é da minha amiga Cândida Macedo da Costa. Ela está em Minas, mas virá na minha festa de noivado.

- Recebi postal de Rosa e ela também confirmou que Ruth passará dias conosco. 

Rosa Bastos Melo era mãe de Ruth e cunhada de Dona Inês. O pai de Ruth, Djalma Mello era   irmão mais velho do pai de Egydinha. Ele sempre ajudava o Senhor Otávio financeiramente quando ele precisava. Mesmo assim, Senhor Otávio acabou perdendo a loja de São Cristovão, ficando apenas com a do Centro.

- Você não vai se arrumar para ir à modista? Marcamos hora com Madame Tedesco. - disse Dona Inês

- A senhora não estava se queixando de dor de cabeça? Deixe-me ir com Ciça mamãe, eu sei pegar o bonde e caminhar até a Rua 13 de Maio.

- Eu não sei se essa é uma boa ideia. Por outro lado daqui a duas semanas estará noiva e pelo jeito Dr. Rudolf irá querer apressar esse casamento. Então...

- Terei que tomar conta da minha casa, do meu marido e...

- Está bem Egydinha, não precisa ficar me repetindo. Vou falar com a Ciça e vá se arrumar. Eu não quero que volte tarde, entendeu? 

- Eu prometo voltar antes que papai chegue da loja.




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EgydinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora