De todos os loucos do mundo
eu quis você.
Porque a sua loucura parece um pouco com a minha.
De todos os loucos do mundo - Clarice Falcão.
Apesar da imagem do gostosão não sair da minha mente, meu dia continuou normalmente. Graças a Deus e a minha formação em Psicologia, eu havia conseguido uma oportunidade para concorrer a uma vaga para trabalhar em uma das maiores empresas do estado. Eu ganharia muito bem e ainda por cima faria o tratamento apenas dos funcionários do estabelecimento dentro e fora do país.
Sai do prédio saltitando de felicidade, não podia imaginar coisa melhor e a única coisa que eu deveria fazer para ter a vaga era uma prova e uma pequena apresentação para saber se eu estava apta para executar meu serviço.
Aproveitando o tempo livre, antes de voltar para casa, passei um pouco no escritório de Megg. Mesmo sendo minha cara metade, ela não tinha seguido o mesmo caminho que eu, desde pequena ela sempre gostou de Fisioterapia, brincar de consertar as pessoas era o seu passatempo predileto e foi exatamente nisso que se formou.
Lutamos muito juntas para chegar onde chegamos, nossos pais não eram financeiramente bem, então nos davam o que era de alcance deles, mas em nossas vidas nunca nos faltou amor e apoio em todas as nossas decisões. Coisas que considero muito mais importantes que o dinheiro.
Não somos irmãs de sangue e nem ao menos sabemos quem é nossos pais, já que fomos adotadas pelo mesmo casal quando ainda éramos bebês. Este casal tinha uma filha, Mikaella. Uma maravilhosa moça que nos aceitou como irmã e como mais velha sempre nos deu suporte e amor. E sou muito grata a eles por terem dado a nós seus melhores sorrisos todos os dias, porque em toda minha vida foi apenas isso que me motivou a seguir em frente.
Assim que desço do carro e sigo pela enorme porta branca do pequeno sobrado branco, é possível ver uma imensa placa na frente que dizia:
"Centro de Fisioterapia.
Dra: Megg Reed - Fisioterapeuta.
Dr: Michell Vosco - Reumatologista.
Dra: Mikaella Zadath - Fisiatra."
Assim que entro, Amanda sai de trás do balcão da recepção sorridente e me dá um abraço caloroso._ Deixou todos loucos por aqui. - seu olhar me analisa de cima em baixo. - Pelo menos está inteira, minha menina.
_ Vocês se apavoram a toa. - digo sem me abalar com seu olhar mortal e seu tapa carinhoso no ombro. - Eles estão aí? - digo já que afastando e seguindo para o elevador.
_ Todos, exceto Mika. Precisaram dela no hospital e ela saiu as pressas. - diz e eu apenas concordo com a cabeça antes da porta do elevador fechar.
Observo o botões pregado na parede ir mudando de cor conforme o subia de andar até a porta se abrir. Minha mente vaga no percurso depressivo que trilhei por esses dias, deixando minha família e amigos preocupados, sendo que não existe culpa da parte deles em tudo o que aconteceu. Me sinto egoísta por dar as costas para eles e me isolar na minha mágoa.
A porta se abre e caminho cabisbaixa pelo corredor e parando em frente a inscrição "Megg". Quando abro a porta, avisto minha morena sentada em sua poltrona de couro marrom atrás de uma larga mesa de um tom mais claro, ela estava com a perna de seu óculo na boca e examinava um papel branco em uma mão. Seu olhar se ergueu para mim e ela sorriu largamente, dando um pulo na cadeira e correndo em minha direção.
_ CRETINA! - ela grita enquanto se aproxima e me agarra em seus braços, me enchendo de beijos.
_ Pare de gritar, mulher. Não quer que todo o consultório saiba que eu estou aqui, quer? - repreendo-a.
_ Se for necessário, grito para que os vizinhos ouçam. - ela se afasta e volta para sua poltrona. Apontando com o dedo para que me sente na cadeira a sua frente e assim faço. - Mayu, você quase me matou de preocupação.
_ Sinto muito não ter dado notícia por tanto tempo. Mas acho que você sabe o motivo de eu ter me isolado. - minha voz soou mais baixa e triste do que o previsto. Ela afirma com a cabeça e solta o ar.
_ Você sempre esteve ao meu lado e eu simplesmente desapareci. Perdão por ser egoísta. - continuo - Mas sabe que eu precisava de um tempo para mim.
_ E sei também que já é hora de voltar para sua vida. Uma nova mulher, um novo humor, um novo emprego, um novo boff. - diz a última parte com sua melhor cara de pervertida e eu não me aguento, dou uma risada e ela se junta a mim.
_ Poderia ter omitido essa última parte, não? Ninguém precisa saber que eu estou extremamente carente. - digo ainda rindo. Ela se levanta e pega sua bolsa, tira seu casaco branco, deixando aparecer sua saia social preta e sua camisa social branca, ela me analisa com seu olhar fulminante quando percebe que ainda não me movi.
_ Oque está fazendo aí sentada? - fico com cara de paisagem, sem saber oque fazer ou dizer. Então ela continua. - Levanta, vamos ao shopping.
_ Não estou em condições de fazer compras, ainda estou pagando meu AP, lembra? - me levanto mas não mudo de lugar.
_ Lembro. Mas não disse que você ia pagar. - ela dá um piscada e junta nossas mãos, me puxando para a saída.
Minha vida pode estar uma droga, mas para aqueles que acreditam no poder do sexto sentido, como eu, algo me diz que ela irá melhorar. Afinal, como aquele velho ditado costuma dizer: vida é uma caixinha de surpresa.
De todos os loucos do mundo
eu quis você.
Porque eu tava cansada de ser louca assim sozinha.
De todos os loucos do mundo - Clarice Falcão.
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𝙹𝚘𝚐𝚘 𝚍𝚘 𝙿𝚎𝚌𝚊𝚍𝚘
RomanceApós todos os desastres de seus relacionamentos passados, Mayu se vê totalmente carente e depreciada. Acompanhada de seu orgulho e medo de se decepcionar novamente, ela se fecha para a vida e para os prazeres que ela tem a lhe oferecer, continuament...