Capítulo 29

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Você, faz falta aqui.

Que som que bate, volta.

Não tem mais nada entre

o chão e o teto.

Só o eco.

Maiara e Maraisa -
Você faz falta aqui.

Sabe aquele momento da sua vida aonde o chão some abaixo dos teus pés, parece lhe faltar o ar e as suas mãos geladas transpiram de nervoso ou susto. A interrogativa imensa que se forma na minha mente após a resposta é imensa, não há como contestar algo que aconteceu muito antes da minha existência e chega a ser incerto escolher um lado da história sem conseguir ouvir as duas versões dos fatos. MEU DEUS! 

_ Como se não fosse o suficiente deixar uma mulher grávida sozinha, a deixou completamente doente e incapaz de cuidar da filha pequena. Que tipo de pessoa faria algo tão ruim? - começo a me alterar, sentindo meus batimentos acelerados. Uma ânsia amarga toma conta da minha boca e sinto um gosto metálico de quem está preste a vomitar, suspiro fundo, encostando minha cabeça no estofado da cadeira – Olha, não pretendo julgar você por coisas que não estive presente no momento de decisão e quero esclarecer isso tanto quanto.

_ Não sabemos se é você, jovem Mayu - diz calmo, sorrindo serenamente – Mas não ficaria nenhum pouco triste se descobríssemos que é. Admiro toda a sua história e força de vontade.

_ Eu agradeço pelas palavras. Só espero que possamos descobrir isso logo - passo as mãos em meus cabelos, sem disfarçar a agonia no rosto – Já que minha mãe não está mais entre nós para contar seu lado.

_ Eu juro que não sabia que ela estava grávida, Mayu – ele diz cabisbaixo - Acha mesmo que eu seria capaz de tal ato? – diz reprimido, soltando um longo suspiro.

_ Mas deixou ela doente, não foi? – balbucio.

_ Eu não tive opção – ele fecha a cara, parecendo raivoso em lembrar dessa parte da história -Meu pai era um homem muito rico e poderoso, eu apenas um jovem. Quando soube do meu envolvimento com uma "imunda", segundo ele, não aceitou. Me enviou imediatamente para a Europa com medo de algo acontecer – ele me olha, sugestivo – E de fato, aconteceu.

_ Eu farei o teste - seu olhar curioso e ao mesmo tempo esperançoso – Se me prometer que não irá me esconder de sua família – ele assente - Eu não quero nada seu. Fortuna, cargo superior na empresa, nada. Apenas reconhecimento. Tive muito tempo gasta tentando achar minha origem, não quero deixar isso escapar das minhas mãos agora.

_ Se você for minha filha – ele alcança minha mão com gentileza, acariciando - Eu irei lhe dar tudo. Reconhecimento, atenção e carinho. Tudo o que uma filha precisa – sorri de lado, dando uma piscadela singela.

Não preciso dizer o quanto me derreto por suas palavras de carinho, admiro a coragem do homem de enfrentar sua própria família para relevar uma parte “oculta” do seu passado. Porém, talvez me assombre o medo de criar grandes expectativas e se revelar outra realidade. O medo de descobrir que na verdade ainda não tenho origem e que meu passado nunca passará de uma história nunca contada.

_ Por favor, me acompanhe – estende o braço para que o siga.

Nos levantamos e descemos alguns andares. Lado a lado, ele me guia para entrar em uma sala onde uma moça loira muito simpática se arruma, provavelmente para ir embora. Com uma breve explicação com os fatos, ela se comove em ajudar e prepara os materiais da coleta. Feito isso, ela nos conduz ao laboratório de coleta e retira nossas salivas, pedindo que esperemos o resultado. Saio da sala com sufoco, o coração apertado prestes a sair do peito. Meu celular começa a tocar com insistência. Inferno, parece que hoje todos resolveram ligar, por infelicidade do destino cruel.

𝙹𝚘𝚐𝚘 𝚍𝚘 𝙿𝚎𝚌𝚊𝚍𝚘Onde histórias criam vida. Descubra agora