Capítulo 2 - É assim que eu vivo

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Olá. Me chamo Ana Sophia, mas pode me chamar de Ana. Hoje não é um dia bom pra mim, pois é meu aniversário de dezesseis anos e o dia em que completam dez anos que eu não vejo a minha mãe. Sinto tanta falta dela. Queria aquele abraço de novo.

Desde que minha mãe se foi, tudo aqui mudou. Meu pai me mantém em cárcere desde aquele dia, não vi mais os meus vizinhos e ele não me permitiu ir mais a escola, ele me ensinou algumas coisas, mas não o suficiente. Sempre que passa uma notícia ruim no jornal da manhã, ele fala que por causa do mundo ser assim ele não me permite sair. Mas eu acho que ele tem medo de eu contar algo.

José: bom dia pequena preciosa. Feliz aniversário! - eu o vi entrando no meu quarto e me dando um sorriso que me dava nojo.

Ana: até parece que o dia vai ser bom. - falei virando para o lado oposto em que ele estava.

José: tão linda, e tão marrenta - ele se aproximou de mim com uma caixa nas mãos e ficou bem perto me fitando, quase aproximou os lábios dos meus, e eu sempre evitando - você sabe que esse teu jeito te deixa mais apetitosa, né? Delícia! - ele me entregou a caixa e saiu do quarto.

Eu tinha tanto nojo dele, que se eu pudesse eu iria pra bem longe, mesmo não sabendo como é o mundo lá fora. Ele abusava de mim sempre que tinha desejo, e me chamava de coisas horríveis.

Aos 14 anos ele me engravidou, e eu tentei esconder, mas a nojenta mania dele de fiscalizar minhas coisas fez ele descobrir. Ele viu que eu não tinha menstruado a um certo tempo, pois os absorventes estavam intactos a uns 4 meses. Ele me bateu tanto, que, com os murros e chutes na barriga, acabei perdendo o bebê.

Resolvi abrir a caixa, e estranhei quando vi que ele me deu uma mochila. Ela era preta com detalhes vermelhos. Muito bonita até. Não entendi o porquê de tal presente.

Resolvi sentar um pouco na minha mesa que tem no meu quarto e continuar desenhando o mundo lá fora, como eu imagino. Essa é a minha forma de fugir dos meu problemas. A minha realidade inventada. Me deixava tão alegre, que parecia que eu nunca tinha sofrido metade do que eu sofro.

Mas como a vida não é sempre um sonho, o monstro tem que atacar novamente.

José: Aninha, estou afim de te pegar hoje, mas terei que ir trabalhar. Gostou do presente?

Ana: não entendi o porquê dele.

José: Obrigado se diz sua escrota. - eu comecei a segurar o choro. Ele sabia como me machucar - eu dei algo diferente porque você precisa ter pelo menos uma na vida.

Ana: vai trabalhar a que horas?

José: vou daqui a pouco. Pensando bem, acho que da pra ter uma rapidinha contigo.

Ana: por favor, não faça nada comigo - falei em meio as lágrimas - me deixa em paz pelo menos por um dia. Por favor. Eu não aguento mais tudo isso.

José: cala essa boca - e me bateu no rosto - quanto mais você implora, mais meu desejo aumenta.

Eu queria correr dali enquanto ele se aproximava, mas dessa vez fui salva pela companhia que tocou umas três vezes seguidas. Ele me olhou com um grande ódio nos olhos, e saiu pra ver quem era.

Entrei para o banheiro e fui tomar um banho, mas não conseguia parar de chorar. Meu corpo está todo marcado. Eu sou horrível de se ver. E a cada dia, perco mais minhas esperanças.

Fugindo da Realidade (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora