Capítulo 18 - o monstro

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Acordei já se passavam das oito da manhã. Perdi a hora do colégio. Miguel não estava na cama. Por que esse infeliz não me acordou?? Levantei e arrumei a cama dele. Peguei minhas coisas e fui para o meu quarto. Tomei um banho e vesti algo mais fresco. Desci pra tomar meu café da manhã e vi o Miguel no sofá, a cara dele não era uma das melhores.

Ana: bom dia Miguel. Estátudo bem? - falei me sentado ao seu lado.

Miguel: bom dia? O que tem de bom?

Ana: nossa! Não precisa falar desse jeito. Um dia é o cara mais carismático do mundo e no outro vira um cavalo. Não te entendo viu. - levantei e fui em direção a cozinha, e ouvi ele dizendo.

Miguel: elas ainda não chegaram Ana. - parei onde estava e dei meia volta. Fui até ele e ele estava chorando.

Ana: como assim? Elas ainda não vieram?

Miguel: não Ana. Fui na garagem, mas está do mesmo jeito. Os quartos estão do mesmo jeito ainda Ana. Vamos ter que ir até até a casa do seu pai. - ouvi essa última frase e senti toda a cor do meu corpo sumir. O medo tomou conta do meu corpo e isso estava nítido. - se arruma, Ana.

Ana: e-eu não quero ir.

Miguel: qual é o seu problema, garota? Estamos falando da minha mãe e da minha irmã. Minha única família e você sabe disso. - ele falou vindo na minha direção e me olhando com um certo ódio. - suba e se arrume agora.

Me senti sem ter outra alternativa. Eu não gostava quando ele me tratava desse jeito. Subi e me arrumei, mas em todo o tempo foi impossível conter as lágrimas. Assim que terminei, limpei o rosto e desci, mas dava pra saber muito bem que eu estava chorando.

Miguel: Ana, me desculpe ter falado com você daquele jeito. Eu não queria te fazer chorar...

Ana: Você acha que eu chorei apenas pelo que você me disse? - passei por ele e sai. Ele veio atrás de mim. E pegamos um ônibus. Eu via pelo reflexo do vidro da janela ele me olhando meio tenso e culpado. Virei para ele e o abracei. Ele precisava disso. E eu também.

Chegamos minutos depois e haviam algumas pessoas na rua. Todos nos olharam e faziam diversos tipos de comentários. Ignoramos e fomos até a casa. Foi algo perturbador. Miguel percebeu que eu travei ao ver a casa e me abraçou.

Miguel: hey pequena, vai ficar tudo bem. - me deu um beijo na testa e pegou minha mão. Fomos até a porta e havia um silêncio dominando tudo. Senti um aperto no meu peito, e Miguel me olhou meio assustado, mas ele bateu na porta. Meu pai abriu e nos olhou.

José: filha, que surpresa agradável! E você é o filha da Mari, certo? - Miguel me olhou meio assustado e me puxou para mais perto dele disfarçadamente.

Miguel: Sim senhor. E foi por isso que viemos. Ela veio para cá ontem mas ainda não chegou em casa.

José: tem certeza? Ela não apareceu aqui ontem. - aqueles olhos dele escondiam algo. Eu pude perceber. - Ana, quer entrar filha?

Miguel: não queremos tomar seu tempo, senhor. - ele me olhou - vamos embora Ana.

José: filha, senti tanto a sua falta. Entre. Agora. - ele me olhava serio.

Ana: não quero. Tenho pressa. - Miguel e eu nos viramos, mas senti ele puxando o meu braço.

José: entrem os dois, agora. - Miguel me olhou e eu pude ver em sua expressão muito medo. Sem pensar duas vezes, apertei apertei a mão dele e corri.

Começamos a correr muito rápido, e meu pai vinha atrás de nós. A rua inteira nos olhava. Continuamos a correr, mas paramos porque vinha um carro e não daria tempo de atravessar a rua. Ele nos alcançou.

José: venham os dois agora. - ele pegou as nossas mãos e nos levou. Miguel me olhava com uma cara tipo "eu vou te tirar dessa", mas eu não conseguia parar de chorar.

Ele nos colocou dentro da casa e trancou a porta. Pegou a gente e nos levou para o "meu" quarto. Quando entramos, vi Patrícia lá dentro, mas a Mariana não estava. As roupas dela estavam rasgadas e ela estava ferida e chorando muito.

Miguel: Paty, o que houve com você? O que esse monstro fez com você? - ele abraçava ela e ela chorava muito.

Patrícia: ele é um lixo, Mig, ele é um monstro! - aquelas palavras bateram na minha cabeça como se uma chuva de pedras. Escorreguei pela porta e coloquei a cabeça entre as pernas para chorar. - a culpa é sua, maldita!

Miguel: Paty, não fala assim.

Patrícia: e por que não? Se ela tivesse continuado aqui não estaríamos sofrendo. Por culpa dessa idiota a nossa mãe está amarrada na cama daquele monstro.

Me senti culpada pelo sofrimento deles. Realmente, a culpa é toda minha. Se eu não tivesse saído daqui, ninguém estaria sofrendo desse jeito. Me levantei e entrei no banheiro, fechei a porta e ouvi Miguel me gritando, mas não dei a mínima. Lembrei de uma tesoura que havia dentro daquele armário embutido com espelho, mas quando abri ela não estava lá.

A vontade de morrer era maior do que tudo. Senti tanta raiva que quebrei o espelho com um murro. Peguei um dos cacos e pensei em me cortar, mas achei melhor acabar com tudo. Coloquei aquele caco no meu pescoço, mas antes de agir, senti algo vibrar no meu bolso. Salva pelo celular!

*ligação on*

Ana: alô?

Caroline: amiga, onde vocês estão? Não apareceram na escola hoje, e o Fábio queria falar com você sobre a formatura do terceiro! - fiquei em silêncio - Ana, está tudo bem amiga?

Ana: amiga, preciso de ajuda. Você lembra do meu antigo endereço? A casa do meu pai. Então, ele está me prendendo aqui junto com Miguel, Patrícia e Mariana. Vem logo por favor. - falei sussurrando e chorando.

Caroline: amiga, vou ae . Não vou levar aqui polícia, mas vou levar uma galera. Não esquenta. Beijo.

*ligação off*

Me senti mais aliviada em ter falado com a Carol. Espero que ela não demore.

Fugindo da Realidade (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora