Já se passavam três longos dias que estava ali, a garota loira, era a minha supervisora, continuava a anotar tudo em sua prancheta. A rotina era basicamente, banhar-me, sair exata uma hora por dia, tomar um Sol, e voltar. Comer aqui nesse cafofo, e ter terapias com a costumeira Bianca, toda tarde entre 15h ou 16h, e depois ver minha mãe, decepcionada, com aquele ar enfermo, como se eu não estivesse ali, e não notasse seus choros lamentaveis. Não trocavamos mais de 3 palavras, não tinhamos assunto, e nem esperava que teriamos. O que realmente me alegrava, era Anne, e isso ninguém podia negar. Passam um pouco das 9 da manhã, me levantei disposta e contente, vesti algo leve, fiz minhas higienes e esperava por alguém, para me buscar para o tal banho de Sol, embora duvidasse que isso aconteceria hoje, o tempo estava cinzento, sem Sol algum... Dei de ombros olhando o céu, e fui saltitando até a cama, aproveitando que a loira, cujo nome Jane, não estava ali, me monitorando, tomei Anne por tuas mãozinhas e pus-me a rodopiar com ela pelo quarto, cantava Teddy Bear, livremente... Sorriamos como duas crianças. Cansei. Me sentei no chão e deitei ao lado da boneca, ofegante... sorridente de tanto pular. A porta barulhenta, denuncia alguém bisbilhoteiro, me sentei e fiquei a observar o vão que abrira sorrateiramente, e logo um garotinho surgiu, nossos olhares cruzaram rapidamente e envergonhado, o garoto se ocultou. Indaguei:
-Seja breve, você é do bem?
E um "Uhum" foi pronunciado do outro lado da porta.
-Entre então.
Completei, e assim ele entrou todo encolhido, encostou a porta e veio até mim. Como eu, sentou-se em pernas de indio e eu o encarei.
-Você é real?
Cutuquei seu braço, sentindo sua pele macia, como um bebê. Me olhou confuso mas assentiu silenciosamente. Continuei:
- Quantos anos tem? Pode falar... eu não mordo, quero dizer...acho que não.
Torci os labios, desapontada por nunca saber o que dizer sobre mim, visto que em segundos eu era outra garota...
- Oito.
Falou timido, mostrando os dedinhos das mãos. Fiquei surpresa, o garotinho era uma belezinha, mas fiquei receosa, porque talvez como eu, ele não devesse sair de seu quarto... isso, se fosse paciente.
- Qual seu nome? Você mora aqui também?
Tinha tantas perguntas, e ele tão jovem... calma, Jullie. Uma coisa de cada vez. Esperei o observando. Que garoto adorável, cabelo não muito curto, bagunçado, liso e ruivos, que combinavam com suas sardinhas, pele clarinha, olhos cor de mel. Era baixo, magro, mas não muito. Dentinhos separados... Enfim, começou a falar:
-Max.
Percebi sua dificuldade em falar, mas não interrompi.
- Eu.. moro do lado... - Sorriu e apontou pra uma das paredes, onde supus que do outro lado, estivesse sua cama, no meio de um branco absoluto e sem graça. - Pode?
O garotinho, agora nomeado como Max, apontava para a boneca do meu lado. Urrrr ! Eu morria de ciumes... principalmente da Anne, mas... ele me parecia ser legal, era a unica pessoa real, que eu trocaria mais de 4 palavras desde que cheguei nesse lugar. Entreguei a ele, avisando-o:
-Cuidado, ela é minha unica amiga.
Foi então, que seu olhar brilhante me encarou, abraçou o brinquedo forte e disse:
- Você... pode... - buscou fôlego - pode.. ser a minha amiguinha.. também?
Encarei minhas mãos, sem saber o que responder... brincava com meus dedos como se estes fossem me mostrar uma resposta. Uma parte de mim dizia sim, eu acabara de conhecer um garotinho incrivel, que parecia ter muito de mim. Era sozinho, como eu sempre fui. Mas a outra parte negava, porque estava ciente de que eu não ficaria "boazinha" todos os dias. Ele é só um garoto, uma criança que não deve ser maltratada. Senti meus olhos marejarem, e assenti com grande receio:
- Mas é claro.
Esbocei um sorriso tristonho, e o olhei por baixo dos cílios, ele por sua vez, sorriu tão animado, que chegou a contagiar-me novamente. Ouvi passos e vozes se aproximando e o fitei assustada:
- Se esconda, vá...
Apontei a cama, e ele adentrou ali, com a boneca nas mãos, subi na cama rapidamente e fingi dormir aguardando a abertura da porta. Jane e a morena que não me recordava o nome... era estranho, Ally, Evelyn, Edna...eu sei la. Apertei os olhos, rezando para que o garoto não abrisse a boca. Mas eu não conseguia enganar, me abordaram:
- JULLIE, não nos engane, querida.
Riram, como se aquilo fosse hilário, abri meus olhos e as mirei. Se aproximaram e começaram os questionamentos clichês e sem utilidade nenhuma. Não pegava leve com as garotas dali, mas hoje resolvi ser maleavel, já que tinha um "meio metro" invasor no meu quarto, forjei uma curva em meus labios, cumprimentando-as:
- Oh, Bom dia...
Se surpreenderam...
-Nossa, como está sorridente hoje... Se sente bem?
Sonsas. Poupei-as novamente de um dialogo sem graça, e fui ao ponto:
- Sairemos hoje? Não está tão quente... não é?
Alternava meu olhar entre as duas, que me respondiam ainda duvidando de meu bom humor e simpatia. Papo vai e vem e o garoto sai de fininho pela porta semi-aberta.
-Ufa!
Aliviei-me, porém expressei meus pensamentos altos demais...
- Ufa? Porque ufa?
A loira perguntou. Okay, dei uma de retardada...
- Quem disse ufa? Disse que quero uvas... moças gentis e amigaveis.
Sorri deixando a culpa no ato, mas elas eram lerdinhas... e assentiram.
- Podemos sair? Quero brincar... posso caçar borboletas?
Não, dessa vez era eu mesma, seriamente... eu queria caçar as borboletas, das mais belas...
-Ta bem. - disse a morena - Vamos...
Tomei o comprimido que ela havia me dado, me levantei e lembrando da boneca, parei. Tinha que olhar embaixo da cama, e verificar se o menininho não havia me enganado. Cocei a nuca...
- Vocês poderiam ir na frente? Tenho que.. fazer xixi
Sorri demonstrando fofura, e cairam em meu encanto:
- Te esperaremos do lado de fora do quarto. Não demore.
Fecharam a porta, e pude ouvir algo como " é brincadeira? Ela está um amor hoje... " e risadas bobas. Volto a dizer, sonsas. Ajoelhei-me e ergui o lençol da cama, vendo Anne esparramada ali, no carpete do quarto, peguei-a e a abracei forte:
-Temos um novo amigo, Any.
Sorri, e fui saltitando para fora:
-Estou pronta.
Acompanhei as garotas, e entre relances olhava as portas dos quartos vizinhos na esperança de ver Max, ou ao menos saber se ele não havia sido pego. Perguntaria as cuidadoras, se conheciam o menino, mas não tenho afinidade alguma com tais, assim, decidi esperar Dra. Mitchell, tinha certeza que ela diria-me algo sobre... Aproveitei o ambiente nublado, pra caçar as borboletas... Devo admitir que estava mais feliz sabendo que tinha um novo amigo.
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PsicoLove.
Teen FictionJullie Martins, atualmente com 18 anos, passa por poucas e boas em uma clínica psiquiátrica. Foi diagnosticada, aos seus 14, com transtorno bipolar e infantilismo. Sua situação nunca foi das melhores, mas as coisas tomam um rumo diferente, momentos...