- Sabe, você não é tão ruim... – Milly murmurou.
- Concordo, você também não – respondi zen, já mais calma.
- Quer falar... sabe, sobre o que aconteceu? – acariciava meus cabelos suavemente com teu olhar direcionado a mim.
- Quero sair daqui...
- Tínhamos planos, Ju...onde tudo se perdeu?
Tudo tinha se perdido, já tinha tempos que estava perdida, a culpa não era dela. De ninguém. Talvez de alguém...
- Eu me perdi quando me apaixonei – me sentei, e a garota aguardava o retorno das falas esperançosa – não foi por você, eu sinto muito
Baixei meu olhar, e ela torceu seus lábios desapontada...
- É verdade, não é? Sobre a Bianca...
A encarei. Chega de negar.
- É... – suspirei – Mas tudo foi por água abaixo. É uma droga ser inútil né?
- Não acho que seja inútil, eu te entendo... Mas você sabe que pode sair daqui né? Você já está bem melhor, o que te impede?
Olhei pra ela, considerando sua hipótese...
- Não tenho família, e eles não tem esse mesmo pensamento.
- Sinceramente? Pelo que já ouvi falar de você... não fazia ideia do quão covarde é na real.
- Obrigada? – ironizei.
- Eu to falando sério Jullie! – esbravejou – Se mexa, ninguém vai fazer pra você o que só depende exclusivamente de si própria.
Emilly se levantou e caminhou pro banheiro:
- Não demos certo, mas quero seu bem. Escuta alguém uma vez na vida – Piscou em minha direção, soltando sua respiração.
Ocultou-se, entrando no cubículo e eu fiquei a pensar em minha cama. Ela tem razão? Sim, ela tem! Mas como?
Não posso negar que fiquei um pouco curiosa pra saber o que é que disseram sobre mim pra ela... E ainda mais curiosa pra saber o porque dela ainda gostar de mim, sabendo do que sou realmente. Droga!
Caminhei até o pátio e me sentei, refletindo despretensiosa.
- Oi coisinha linda! – Larissa fala com um sorriso estridente nos lábios.
- Olá, maluca! Viu um passarinho verde é?
- Na verdade... não era verde, massss... – MAS O QUE? – Seguinte Ju, você quer sair daqui certo?
Assenti em silêncio para não a interromper.
- digamos que eu esteja um pouco privilegiada nessa bagaça... – fez uma cara de malandra. Já mencionei o quanto essa menina é danada? – conversei com uma certa “passarinha” que vai tirar nós duas daqui.
- MEN-TI-RA!
- É mentira mesmo! – falou fechando sua cara, e eu naturalmente fiz o mesmo já desconsolada.
Silêncio... E ela me empurra suavemente no ombro e solta um riso.
- Sua cara de cachorro sem dono não tem preço! Para de ser idiota, eu não brincaria com tal coisa. – completou dando de ombros.
Posso bater?
- Idiota é você – convenci-me de um riso também um tanto aliviado.
Sorrimos, diferente dos outros sorrisos, esse era sincero, vinha da alma, do pouco de esperança que tínhamos da vida.
- Olha – quebrou o clima – não fala com ninguém, ta bom? É coisa de dias!
Gesticulei positivamente confirmando seu pedido, sem retirar o sorriso bestificado de meu rosto. Nos abraçamos.
- Você é a melhor coisa na minha vida! – sussurrei em seu ouvido, acomodada em teu abraço.
- Eu sei disso! – brincou – Te amo, estranha...
Fechei meus olhos, apenas beneficiando-me do momento e da sede de sair daquele hospício.
---------------------- Hmm, como está animada hoje! – Declarou Milly, me observando da outra cama de nosso quarto.
- SIMMM! – dei um saltinho animado. – acho que finalmente as coisas vão começar a ser boas pra mim.
- Uau! – exclamou – fico feliz Jullie... – suspirou.
- É... – eu deveria perguntar se ela... – ta tudo bem?
- É, ta sim! – fitou a coberta – acho que to meio sonolenta só.
Foi se deitando lentamente e fechando seus olhos, até cair sobre o travesseiro. Ela não estava dormindo...
- EMILLY! - corri em direção a sua cama, a tomando pelos braços – ande, acorde!
Emy estava inconsciente e eu buscava força do além pra manter seu corpo erguido.
- AJUDAAAA!!! – gritei, vendo sua boca babar – POR FAVOR, ALGUÉM!!!
Virei sua cabeça de lado, sua saliva continuava a escorrer. Tentei mais uma vez:
- SOCORRO!!!
Eis que uma das enfermeiras, entra no quarto, se depara com a cena e passa a movimentar-se atuando com procedimentos adequados para a situação.
- O que ta acontecendo? Ela vai morrer? – perguntava afobada e desesperada.
- Calma... – sorriu calmamente, submetendo-se com total controle da circunstância. – É um quadro convulsionante, deve ser alguma reação alérgica.
Tirou de seu bolso um walk talk, chamando a equipe médica. Observei atentamente cética de sua tranquilidade.
- Vamos levar ela pra enfermaria, vai ficar tudo bem.
Em menos de minutos, o pessoal chegou a colocando na maca, já sem babar
Corri pra minha cama pra não atrapalhar.
- Qual seu nome? – a enfermeira perguntou. Seu rosto me era familiar...
- Jullie – respondi acanhada – e você?
- Lucy – sorriu transparecendo simpatia – você é a amiga da Larissa não é?
Devo justificar sua permanência no local: Emilly já havia sido levada para a enfermaria, e Lucy estava a limpar a bagunça que deixaram.
Também devo me pronunciar a respeito de sua pergunta: Lucy era a enfermeira que estava pegando minha amiga. Me recordei.
- Sim – a respondi – E você... é a tal passarinha verde?
- Perdão? - retrucou-me sem entender com um leve sorriso.
Sorri de volta, como ela entenderia a piadinha interna minha e de Larissa?
- Desculpe, quis dizer... a felicidade da Lari.
Seus olhos brilharam nesse momento. Como é fofo um casal feliz apaixonado. INVEJINHA.
- Tenho que ir, você está preparada?
- Pra te ver ir?
- Não boba! – brincou – Pra nós irmos!
Piscou, e meu coração apertou de forma muito aprazível, sorri.
- Estou sim!!!
- Espera só mais um pouco. – pegou a sacola contendo os lençóis sujos e se levantou direcionando-se à porta.
Assenti gentil. E ela partiu.
Deitei-me na cama, o vento trazia ruídos na janela fechada... junto de uma brisa gelada que me despertava certa cobiça de algumas horas de sono. Me cobri e fiquei a fitar o teto. Milly estaria bem? Que diabos aconteceu? Que roupa será digna da ocasião do século?? Minha saída tinha que ser deslumbrante! E será.
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PsicoLove.
Dla nastolatkówJullie Martins, atualmente com 18 anos, passa por poucas e boas em uma clínica psiquiátrica. Foi diagnosticada, aos seus 14, com transtorno bipolar e infantilismo. Sua situação nunca foi das melhores, mas as coisas tomam um rumo diferente, momentos...