an angel named Max

690 55 3
                                        

- Ande, me conte o que se passa ai dentro... – mamãe acariciava meus cabelos, me colocando em seu colo, enquanto eu chorava meus prantos decepcionada e confusa.

- É... que – soluçava – eu não entendo mamã – limpava meus olhinhos com minhas mãos pequeninas – porque é.. que, elas tem papai e eu não?

A postura de mamãe nesse momento se rendeu, ela acariciou forte meu rosto e segurou o choro, engoliu quieta e em seguida tentou com a voz embargada:

- Filha, você não precisa de um papai... elas têm porque precisam mais. Além do mais, você tem a mamãe – sorriu e eu sorri retribuindo e abraçando teu pescoço...

--------------------------------------------------------------------------------------------------

Mamãe sempre tentava me enrolar com um papo fajuto, mas eu...eu era uma criança, que precisava só de algumas palavras pra me consolar e fazer com que o assunto se perdesse num turbilhão de outros pensamentos que percorriam minha mente. Confesso que até a pouco tempo, eu ainda acreditava nesse papo, é... afinal, meu cérebro não acompanha o crescimento de meus ossos, enfim...

A questão é que, agora, sentada nesse quarto branco, abraçada com meus joelhos, sozinha no mundo, percebo que ela só fazia todo aquele teatro pra me proteger da verdade, ela se desdobrava pra fazer o papel daquele canalha, ela dedicava todo seu tempo à mim. Tudo. Por mim.

Suspirei e abaixei minha cabeça deixando as lágrimas tomarem conta de mim. Ela saberia o que fazer, ela saberia como me aconselhar, confortar, ela saberia como me tirar desse mundo pelo menos por alguns minutos.

A gente nunca sabe quando vai ser a ultima vez que vai ver alguém, e eu queria ter dito tantas coisas a ela, porém...sinto que ela já sabe de alguma maneira. De qualquer modo, só queria que ela viesse com sua voz doce, seu toque carinhoso, e me desse uma luz sobre tudo.

Eu to cansada de ter pena de mim, de ficar esperando uma mulher que está completamente enrolada com um cara vir me tirar desse lugar, eu não quero mais isso.

- Oi Jullie! – Lindsay cumprimentou-me simpática

- Oi – sorri falsa – será que tem como eu ligar pra uma pessoa?

Lindsay é a pessoa que toma conta dos telefonemas dos pacientes da clínica. Ela olhou pra mim surpresa, porque desde que vim pra cá, nunca usei essa porcaria. Procurou na sua agendinha o quarto 7, vulgo meu quarto, para ver quais os contatos disponíveis ali.

- hummm.... quer ligar para quem, meu amor? – sim, ela sempre é muito carinhosa e atenciosa.

- Clarice Devenport, tem ai? – perguntei curiosa, tentando olhar sua agendinha atrás do balcão.

- Sim, tem sim... hum...só um minuto – falava enquanto discava o número no telefone – sabe as regras né? Você tem 10 minutos.

Sorri confirmando e tomei o telefone pela mão, levei ao ouvido e enquanto ouvia o chamar da ligação, enrolava meu dedo no fio em espiral do aparelho.

- Alô? – uma voz feminina e meio velha atendeu, aparentemente sonolenta. Me perguntei que horas seriam agora para aparentemente Clarice estar dormindo, mas... respondi

- Senhora Devenport? – falei meio incerta com a voz tímida e abafada pela minha mão no telefone, não quero que ninguém ouça.

- Sim! Quem é?

- Jullie... – mordisquei meus lábios, temendo sua reação

- Jullie não me ligaria, 7 horas da manhã para falar com a tia que odeia, pare de brincar, quem é? – pela sua voz, ela realmente não estava acreditando que seria eu.

PsicoLove.Onde histórias criam vida. Descubra agora