Pois então, estava eu, a garota maluca, magra e completamente problemática à... não sei quanto tempo em um lugar fechado, sem janelas, sem minhas bonecas, sem Max, sem qualquer coisa que me tirasse dessa ansiedade insaciável. Me referi ao tempo indefinido, porque perdi a noção dos dias, das noites, do horário provavelmente no minuto seguinte em que me trancaram nessa cabine.
O tratamento estava cada dia mais precário. E fazia um tempo que não via Dra. Bianca, teria ela desistido de mim também? Era incerto. O único que marcava presença todos os santos dias era Robert. Confesso que não ia com a cara dele, mas como disse, era o único que não havia virado as costas pra mim ainda.
Na maioria do tempo, vagava meus pensamentos questionando onde eu estava, e o que eu havia feito com a loira já falecida. Claro, eu demonstrava arrependimento, mas também transparecia meu alivio. Nunca contei para Robert, o que havia realmente se passado naquele dia, e nos últimos que passei ao lado de Jane. Tentei o convencer de que foi um surto psicótico, e foi, em partes, pois parte de mim, tinha sede de vingança pelos seus toques nojentos sobre meu corpo. Mesmo tendo ciência de que eu poderia estar falando a verdade, ainda assim, resolveram me punir, e nesse exato momento, eu rolava meu olhar de frente com o tal Doutor...
- Jullie, por favor, isso não é uma punição. É para seu bem.
Ouvia o bonitão dizer pela milésima vez, depois de questionado todos os dias. Tudo bem, se isso não fosse punição, como é que me confinar nesse cubiculo pouco iluminado e sem televisão iria me ajudar? Suspirei.
- Doutor, só peço que me tire daqui, ou me deixe ver a Bianca. Eu preciso falar com ela, por favor...
Ele me olhou, torceu seus lábios meio incerto de sua resposta, coçou sua nuca, baixou o olhar e sussurrou:
- Eu prometo, que tentarei
Se levantou do chão, onde estávamos sentados amigavelmente conversando, e abriu a porta de ferro. Olhou pra mim novamente, assentiu e partiu. Relaxei minha cabeça na parede e tapei meus olhos com as duas mãos, soltando um grito chamativo:
- EU SÓ QUERO SAIR DAQUIIIII
Oras, pensem. É mero fato, de que eu já estava exausta de pedir por liberdade, mas as esperanças não morriam. Pensava em tudo que estava perdendo, as borboletas, o meu Max, Anne... as comidas deliciosas. Nem tão deliciosas assim, mas era de longe, melhor do que essa meleca que me servem. Enfim, eu ainda ficava na expectativa para um "Vamos, está livre", é...tipicas frases de filme, onde os policiais falam pros bandidos quando estão prestes a deixar o xadrez. Se bem que isso não é cadeia, mas... está meramente semelhante. E isso é, tedioso.
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Depois de muito zanzatear de um lado para outro dentro deste pequeno quarto, repousei meu corpo sobre a cama, e pus-me a encarar o teto, imaginando mil e uma ovelhinhas saltitando acima de meus olhos. Belas ovelhas... Eis que ouço a porta rangir, e rapidamente me sento, de perna de índio na cama.
- Jullie?
Reconheci a voz, delicadamente doce, e sua mão que palpava a porta para abri-la. BIANCA. Meu sorriso cansado e aliviado automaticamente se esboçou em meus lábios, machucados por estarem secos. Tratei de me levantar e abraçar seu corpo não tão magro, muito menos obeso, por longos segundos. Matando aquela saudade absurda, e notei que ela também havia sentido falta, seus suspiros eram profundos e o silêncio deixou esse sentimento no ar. Logo nos separamos e ela, com as duas mãos em meus ombros, brilhou teus belos olhos claros ao me ver... han, viva?!
- Meu Deus, como é que está?
Ela me perguntava, me assustando pelo seu tom, parecia que realmente ela pensava que eu estava morta. Fechou a porta e encostou na mesma, colocando seu indicador na frente de seus lábios lindamente corados.
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PsicoLove.
Roman pour AdolescentsJullie Martins, atualmente com 18 anos, passa por poucas e boas em uma clínica psiquiátrica. Foi diagnosticada, aos seus 14, com transtorno bipolar e infantilismo. Sua situação nunca foi das melhores, mas as coisas tomam um rumo diferente, momentos...