Fazendo uma breve recapitulação de minha vida recentemente...Eu tinha matado uma mulher que estava abusando de mim, sua sobrinha tinha surgido das trevas pra fazer justiça sobre tal, eu estava envolvida na "caçada ao assassino" mesmo sendo a própria. Minha tia, irmã do meu pai canalha, apareceu pra querer me tirar daqui, e minha doutora também queria me tirar daqui pra morar com ela e com Maxwell, porém...aparentemente ela estava com Robert, um homem que até aparentava ser legal, mas se revelou e me quer morta. Ah, aliás...também descobri a pouco que minha mãe foi assassinada. Se faltou algo, me desculpe.
Bem, vamos lá então...a mais um capítulo da minha vida patética.
Eu já tinha tomado banho e desceria agora pro pátio pra tomar café com alguns 'amigos' que tinha feito, mas...sabe aquela sensação de que está vivendo num mundo paralelo? E parece que você não participa do que está acontecendo...Bebia um gole da caneca de café com leite observando todos atentamente naquele lugar enorme
- Jullie...você tá viajando mesmo
Pisquei meus olhos saindo daquela alucinação
- Eu? Não...eu só estava tomando o café - sorri - já parou pra pensar o que será que passa na cabeça de cada pessoa aqui? A história deles e tudo- É, fazer o que né? É a vida.
Larissa deu de ombros tomando também sua caneca com o respectivo pingado. Ela era muito avoada e desinteressada da vida, sabe? Mas tinha se tornado muito minha amiga de umas semanas pra cá.
Ouvi um alvoroço aparentemente à nossa esquerda, Yara...logo cedo.
- Eu não quero ver lágrimas falsas de ninguém aqui quando eu morrer! - ela gritava com o indicador erguido - Eu desisto!
Yara era uma puta menina legal, carismática, linda, mal sabia ela de todo seu valor... Eu tentei me aproximar dela algumas vezes, mas teus surtos eram mais pra frente do que os meus então...não daria muito certo. Doutora Bianca também acompanhava o caso dela e lá estava a morena acariciando as costas da menina que já não falava mais alto.
- É hora de subir, não acha?
Mitchell era um ser carismático e manipulador também, acalmava facilmente qualquer sociopata, inclusive quem não era pra acalmar no momento, como eu.
- Não baba, Martinez - Larissa me tirou da viagem mais uma vez.
- Você é estraga prazer em?
- Mais que aquela ali? - apontou pra Camila que sentava isolada de todos num outro canto do pátio.
- Não, nunca!
Demos risada junto, Larissa voltou a conversar com uma outra garota enquanto eu passei a observar o olhar perturbado e estático de Camila. Olha, fazia já semanas que ela não se manifestava sobre o caso Jane, nem falava comigo, comigo nem com ninguém, era como se ela estivesse sedada em tempo integral, todos os dias. Dava medo e pena.
Terminei o leite e dei um tapinha na cabeça de Larissa.
- O que é?
- Eu vou subir, ta?
- Mas e o parque?
- Han...eu to meio cansada
Ela espantou, a verdade é que meus novos medicamentos me deixavam mais zen, e menos hiperativa. Eu ainda tinha meu lado infantil, mas não a todo momento, talvez eu estivesse amadurecendo e passando a olhar o mundo de outra forma, mas claro, sem deixar o ranço de certo modo. Caminhei para as escadas e fui subindo, resmungando uma música que tinha ouvido ontem no rádio do pátio "Who you are - Jessie J", se já ouviram... acho que vocês tem plena noção do que essa música fala e é forte.
Estava andando pelos corredores e vi Max puxando um rapaz alto, moreno, com cabelos que estavam nascendo, devia ter raspado a cabeça a pouco tempo, tinha uma pinta no pescoço, vestia um casaco Chesterfield preto e era realmente muito lindo o seu sorriso, aliás...os dois sorriam. Passei por eles e cumprimentei o ruivinho.
- Oi pequeno!
- Oi Ju! - ele olhou pra mim sorrindo e em seguida pro homem que segurava sua mãozinha - esse é...o tio LiamCaraca Maxwell, que tio em? Realmente era genética, a mãe linda...o filho lindo e o tio também. Sorrio sem jeito pro rapaz
- Oi, você deve ser a Jullie né? Max fala tanto de você! - foi a vez de Liam falar
- Isso, eu. - fiquei meio abobada - han...você, vai levar ele embora?
- Não, claro que não! Só vim visitar ele... ele quer me mostrar o parque, quer vir?
Eu queria muito, mas como disse...quero meu quarto.
- Vou deixar pra próxima - esbocei uma curva simpática em meus lábios.
- Vamos tio!
Max chamava ele animado tentando puxar o moreno, ambos acenaram sorrindo pra mim e eu entrei no meu cafofo. O garoto ficava explicitamente feliz quando via o tio, e isso me deixava bem também. Bem, Charlotte, minha boneca mais quieta estava em cima da cama como eu havia deixado, me sentei de frente pra ela e me concentrei somente em ouvi-lá. Ela, lembrava-me o que eu não queria agora... e era sobre a minha escolha. Minha tia, havia vindo me procurar mais umas duas vezes depois da nossa conversa e eu não quis recebe-la, mas eu temia porque fazia um tempo que ela não voltava e talvez isso seria uma estratégia afim de conseguir me tirar daqui na surdina. Por outro lado, Bianca tinha se afastado novamente, e adivinha? Robert e ela assumiram um tal relacionamento, que muito me admirava porque...ela não falava disso com ninguém. Será mesmo que ela estava feliz? Não sei, só sei que sua indiferença comigo me deixava bem pra baixo.
Robert não apareceu mais no meu quarto, e procuro não cruzar meu caminho com o dele. E aquele pensamento de que de certo modo atrapalho a vida do mais novo casal do manicômio me fazia querer aceitar a proposta de sumir do mapa com a maluca da irmã do meu pai.
Mas e meu pai? Como é que será que ele consegue dormir sabendo que tem uma filha que precisava de sua ajuda, apoio...carinho? Será que ele sabe que estou aqui? Nessas horas eu queria descobrir o telefone dele, e ligar... conversar, ou tentar..saber o que é que fiz de errado pra ele me odiar tanto, porém...acredito que isso só iria me machucar mais, na verdade, tenho medo de sua resposta e, não sei, é melhor eu ficar na minha.
- Oi? - ouvi logo depois de duas batidas leves na porta que se abriu - tem um minuto?
- Claro, o que foi? - era Bianca.
Ela me olhou, e ficou ali fitando, parecia impaciente, nervosa... ansiosa, eu não sei definir sua expressão. Mas parecia ser sério, ela estava com uma regata de pano leve branca, e no seu braço notei um hematoma, aquilo não era nada bom. Anda doutora, DESEMBUCHA.
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PsicoLove.
Teen FictionJullie Martins, atualmente com 18 anos, passa por poucas e boas em uma clínica psiquiátrica. Foi diagnosticada, aos seus 14, com transtorno bipolar e infantilismo. Sua situação nunca foi das melhores, mas as coisas tomam um rumo diferente, momentos...