Mais tarde naquela noite, recebi a visita do garoto Max. Ele trouxera um jogo de memória para brincarmos. Tínhamos um trato,e este seguia assim: antes do turno da meia-noite das enfermeiras, ele tinha que partir. Não resultaria em confusão, para ambos. Jogamos até o devido horário. O menor havia partido,e antes de me deitar, abri a janela cautelosamente. Essa que era espaçosa, permitiu que meu pequeno corpo pudesse repousar sobre ela. A noite estava estrelada, e eu involuntariamente percebi as lágrimas silenciosas que percorriam meu rosto. Não queria me conformar, com o fato de ser tocada por uma mulher, de maneira completamente abusiva. Eu não havia gostado, não daquela experiência. Não por ser do mesmo sexo que eu, até porque não conseguia definir minha opção sexual, talvez eu fosse assexual. É difícil pensar em sexo, quando sua vida desmorona de hora em hora, quando você não tem autoridade pra mandar em si própria, ou para sair quando quiser. Nem para me socializar com um garoto de oito anos, então... Sexo era definitivamente minha última saída.
Jane me parecia tão legal, e de repente me tratou daquela maneira. E o pior, é que eu não sabia por quanto tempo isso duraria. Já temia o amanhecer, e pedia às forças maiores que me deixassem ficar com Eve.
Chorar não iria adiantar em absolutamente nada, talvez só me lembraria da dor que não podia ser evitada. Me sentia sensível, sozinha... vulnerável. Então, fechei a janela, sem fazer barulho algum, tirei minhas pantufas estampada com alguns unicórnios coloridos, deixei-as perto da cama, e me deitei. Cobri meu corpo inteirinho e forcei meus olhos para ficarem fechados, até adormecer.
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Já se passava pouco mais de uma semana, desde o ocorrido. Jane entrava com mais frequência em meu quarto, horas acompanhada por uma enfermeira, horas sozinha... E esse tempo sozinha, era o meu desespero. Muitas das vezes, me olhava com desejo, e quase sempre me beijava, tocava em meus seios... Fazia o que podia, rapidamente, por medo de ser pega. Seu perfume barato, me deixava enjoada. E toda aquela situação, me deixava enojada de mim mesmo.
Antes, eu já não era capaz de gostar do meu corpo, e agora não consigo nem encara-lo, sem sentir desprezo. Havia um desejo mútuo de suicídio, mas eu não tinha nada cortante, ou que pudesse me dopar.
Na maioria das vezes, me encontravam no canto do banheiro, trancada, dentro do box, adormecida. Era isso, ou ter que aguentar os abusos da loira. Me perguntavam muitas vezes o porque de me isolar dessa maneira, se alguém estava me aborrecendo, e mencionaram até o nome do garoto ruivo, porém não me manisfestava em nenhuma hipótese.
Foi numa tarde, de quinta-feira... Eu conversava com Anne, e Bianca entrou pela porta de maneira sorrateira, imaginando que talvez eu estivesse cochilando. Encarei a porta, com receio, mas assim que vi a bela morena, respirei aliviada. Ela trazia em tuas mãos, um copo com água e alguns comprimidos. Era esse meu novo coquetel, desde aquela última crise. Engoli um por um, com dificuldade, devido a espessura de um deles. Tomei o copo de água, para enfim deixar as drogas tomarem seu rumo. Ela sorriu:
- Teremos visita hoje, Martinez.
Interroguei-a, visto que a tempos não recebia nem uma vespa como visita. E ela me respondeu sutilmente:
- É um rapaz. Ele já trabalhou comigo na área de psicologia, e é como um supervisor agora. Deve analisar nosso trabalho. Tudo bem para você?
- Sim, mas é que... Ele irá ficar todo o tempo?
- Não, virá sem avisar, para que possa ver teu comportamento sem monitoramentos.
Assenti timidamente, receosa de que ele pudesse ser outro ser que aproveite de seres como eu, indefesos e tolos.
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PsicoLove.
Teen FictionJullie Martins, atualmente com 18 anos, passa por poucas e boas em uma clínica psiquiátrica. Foi diagnosticada, aos seus 14, com transtorno bipolar e infantilismo. Sua situação nunca foi das melhores, mas as coisas tomam um rumo diferente, momentos...