~ barulho insistente do celular tocando ~
Reclamo me virando na cama, os vãos das persianas da janela já apontavam uma claridade significativa, será que estou atrasada? Estico meu braço até o criado-mudo ao lado da minha cama, palpando-o até encontrar o eletrônico irritante.
- QUE – falo sem antes ver quem é, sem saber o horário, sem saber se está do lado certo.
- Jullie? – conheço tua voz mesmo com meu cérebro ainda parcialmente desligado, era Aisha.
- Ah, oi! – voz sonolenta, com um sorriso solto em meu rosto amassado.
- Pode vir aqui na pracinha?
Enquanto processo sua pergunta, olho o celular, a claridade quase me cega, mas assim que comprimo meus olhos posso ver o horário: CINCO E MEIA DA MANHÃ.
- AGORA? – respondo incrédula depois de uma pequena pausa – o que aconteceu?
- Preciso te ver...
- 10 minutos!
Desligo o telefone e o largo na cama dando um suspiro contente, embora eu tivesse que levantar em dois minutos, me permiti pensar nessa última frase de Aisha. Faz um mês que estamos saindo, e essas deixas dela me levavam ao delírio. A primeira roupa que vi na minha frente, foi uma camisa xadrez preta e branca, vesti uma calça preta, e um tênis surrado. Levantei cautelosamente sem querer acordar ninguém, o truque vinha dando certo nessas últimas semanas, sem suspeita de nada.
Não que eu quisesse manter escondido algo das minhas amigas mas... bem, eu quero sim! Escovei os dentes, ajeitei meus cabelos, passei o perfume que ela elogiou a alguns dias, peguei um pedaço de pão e sai com a mochila nas costas, de lá eu já ficaria na universidade.
- Bom dia, dona Jullie! – Tony me cumprimenta sorridente.
- Jullie, Tony, só Jullie – rimos – bom dia para o senhor também!
Disse enquanto saía pelo portão de pedestres.
- Até logo, só Jullie!
Acenei. Tony tinha sempre um senso de humor incrível, e também uma boca de túmulo, é um amigão! Caminhei com passos largos, sem muito tempo para analisar os pássaros cantando, ou as árvores balançando com o vento fresquinho da recém manhã. A pracinha ficava ali perto, era um lugar sossegado, com uma fonte imensa que esguichava água sincronizada... De noite era ainda melhor, ficava iluminado, com umas luzes roxas, verdes, azuis... Bonitinho de se ver!
- Oi! – acenei assim que vi Aisha balançando tua mão com um sorriso bobo no rosto.
Assim que me aproximei, depositei um beijo em tua testa e um afago em teu cabelo. Teus olhos pequenos me encaravam enquanto me sentava. Respirei fundo... E com o reflexo de seu riso bobo:
- Demorei?
- Não, nem tanto... – brincou – aposto que ficou enrolando na cama né?
- Claro que não! – tentei ser séria – Tá, talvez uns minutos...
Rimos sincronicamente. Enquanto o dia ainda continuava a amanhecer, conversávamos sobre um pouco de tudo. Esses nossos encontros em horários completamente aleatórios tinham ficado frequentes desde a tal sorveteria. Nesse dia, fomos ao Ice Dream, como duas amigas, óbvio. Adquirimos uma intimidade boa em uma só conversa... Me sentei guardando um lugar pra nós, já que lá estava muito bem frequentado naquele momento. Aguardei que escolhesse um sabor, e lá vem ela com um sorvete de menta com chocolate e abacaxi. Arregalei meus olhos me espantando com a ousadia de seu paladar. Brincamos com nossas diferenças, já que eu preferia o bom e velho chocolate. Posso dizer que aquele sorvete, teve um gosto muito mais saboroso na sua companhia.
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PsicoLove.
Novela JuvenilJullie Martins, atualmente com 18 anos, passa por poucas e boas em uma clínica psiquiátrica. Foi diagnosticada, aos seus 14, com transtorno bipolar e infantilismo. Sua situação nunca foi das melhores, mas as coisas tomam um rumo diferente, momentos...