CAPÍTULO 14 - O Perdão de Guilherme

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A notícia do acidente de meu pai havia me deixado totalmente confuso. Eu tinha até me esquecido do detalhe de reaver meus pais depois de tantos anos. Abracei Guto e o consolava. A reunião foi cancelada e marcada pra outra ocasião. Eu não sabia o que fazer. Não sabia o que dizer ou muito menos sentir perante a notícia. A minha frieza me assustava. É a vida do meu pai que estava naquele hospital. Guto foi para o hospital e eu fui para minha sala. Sentei na minha cadeira, mas o pensamento trazia só lembranças ruins. Queria lembrar algo feliz, marcante e inesquecível. Mas infelizmente, minha memória trazia aquela humilhação e o desprezo de meus pais. "Por que você só pensa coisa ruim de seu pai? Não consegue lembrar nada bom que passaram antes?" repreendia meu consciente

Arrumei minha sala e quando ia sair, Yuri entra em minha sala.

― Eu sei que deveria bater na porta antes de entrar, mas a empresa é minha e faço o que quero. ― falou sentando na cadeira.

― Eu não estou a fim de suas grosserias Yuri, então, diga logo o que quer. ― respondi sem paciência.

― Você já decidiu se vai visitar seu pai e sua mãe? ― perguntou sem cerimônias.

― Ainda não sei. ― respondi cabisbaixo.

― Como assim não sabe? ― sua voz era de espanto e queria entender minha atitude. ― Você consegue ser mais insensível do que eu. Guilherme, você só tem um pai na vida e está na hora de você esquecer o passado. ― levantou-se da cadeira e parou perto da porta. ― Siga seu coração. Depois que seu pai faltar, não adianta se arrepender. ― alertou.

As palavras de Yuri ecoavam em minha mente. "O sexy do seu patrão tem toda razão" meu consciente ajudava a ferrar mais ainda. Cheguei a minha casa e fui direto pro banho. Debaixo do chuveiro, uma crise de choro toma conta de mim sentei no chão e chorei como nunca. Alguns minutos depois, sai do banho e me arrumei. Enquanto me olhava no espelho, uma lembrança boa do meu pai me veio à cabeça.

Estávamos no Central Park em Nova York passando as férias escolares. Minha mãe preparou um piquenique e fomos para o park. Acomodamo-nos embaixo de uma árvore – fazia muito sol e calor neste dia – e meu pai foi jogar bola comigo e meus irmãos. Minha mãe só observava e comemorava cada gol nosso. Meu pai declarou todo seu amor por nós e tiramos uma foto. Foto que carrego comigo até hoje dentro da minha mochila. Voltei para a realidade e segui para o hospital. Guto havia avisado que alguns de nossos primos, tios e avós estavam no hospital. Será que eles sabiam que fui expulso de casa aos 18 anos? Se soubessem ou não, fui ao hospital para ver meu pai e ficar com ele. Estacionei meu carro e desci. Olhei a fachada do hospital e entrei. Identifiquei-me na recepção. A enfermeira me passou o andar que meu pai estaria internado. Adentrei o elevador e apertei o 7° andar. Antes de a porta fechar, percebi um rapaz gritando para segurar o elevador. Quando o rapaz se aproximou, percebi que era Yuri.

― Yuri. O que tu faz aqui? ― perguntei. A porta do elevador fechou-se.

― Ué, eu vim lhe fazer companhia. ― falou sorrindo.

― Mais como sabia que eu viria ao hospital? ― perguntei sem entender.

― Eu tinha certeza que você não ia deixar de ver seu pai por causa do orgulho. ― sorriu. ― Tanto eu quanto você sabemos que tu quer selar a paz com seus pais. ― finalizou.

Não respondi nada. A cada andar que o elevador subia, meu coração acelerava. Chegamos ao sétimo andar e parei por uns minutos. Respirei fundo e segui adiante – Yuri sempre ao meu lado-. Caminhei por alguns segundos e cheguei à recepção do andar. Perguntei sobre o estado de saúde do meu pai e me informaram que ele já estava no quarto, mas em coma. Vi minha mãe, meus irmãos e familiares na sala de espera. Observava minha mãe e as lembranças daquele dia voltaram a minha mente. Balancei a cabeça e segui para a sala de espera.

O Chefe  (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora