2007
Quando o telefone toca de madrugada só podem ser duas coisas: trote ou notícia ruim. Meus instintos diziam que não era a primeira opção.
Nina percebeu a minha preocupação e seus olhos grandes já me encaravam com lágrimas. Cinco minutos mais tarde todos estavam acordados no meio da sala, sentindo o peso do mundo cair sobre nossas cabeças. Minha irmã tinha nos deixado.
Minha mãe chorava descontroladamente no ombro do Marcos e Nina deixava suas lágrimas caírem abraçada a mim. Mas o nó formado em minha garganta estava começando a me sufocar. Eu não conseguia falar, não conseguia chorar, minha cabeça era um turbilhão de emoções e eu não imaginava como poderia lidar com essa dor. A única certeza que eu tinha era de que um pedaço de mim estava completamente oco e sem vida. Alexia não voltaria mais para casa. Eu nunca mais poderia dizer o quanto ela era insuportavelmente irritante, e a melhor irmã do mundo.
Eu não poderia impedir que minha mãe chorasse, na verdade, achava melhor que ela colocasse tudo pra fora de uma vez, mas minha preocupação começou a aumentar quando ela desmaiou. Desde que a Alexia ficou internada ela tomava sedativos receitados pela médica e psicóloga para mantê-la calma e ajudar a dormir. Marcos não saiu de perto dela quando fizemos que ela recobrasse a consciência depois de seguirmos as instruções que a médica deu por telefone e eu tive que tomar as providências para o enterro, coisa na qual a gente nunca imagina ou se prepara para fazer.
— Alex, você pode chorar! Compartilhe comigo a sua dor, por favor!
Nina tentava fazer com que eu falasse algo, mas apesar de querer desabar, ainda não conseguia me concentrar nem no que eu precisava dizer. Eu só queria me jogar em seus braços e receber carinho que tanto me acalmava, mas me mantive calado e me comuniquei o mínimo possível com as pessoas que precisei falar, eu sabia que eu iria cair em algum momento, mas eu só precisava me manter forte para resolver toda a burocracia, minha mãe precisava disso e assim o fiz. Avisei a todos e às 8 horas estava de volta em casa para trocar de roupa e ir para cemitério.
Uma coisa que nunca nos ensinam na escola, ou em casa, é sobre como lidar com a perda de alguém. Mesmo sabendo que um dia todos irão partir, a ficha não cai antes da vida impor isso a você da maneira mais cruel e dolorosa possível. Mil coisas passam pela sua cabeça e mil arrependimentos surgem, como o que você poderia ter feito
para impedir isso, como poderia ter demonstrado melhor o seu amor pela pessoa e, no caso da minha irmã, como eu poderia tê-la protegido desse destino terrível.
Agora, eu invejava a capacidade do Matheus que chorava livremente, lamentando o quanto foi covarde por não insistir no amor que sentia pela Alexia. Mesmo que a minha irmã nunca tenha dado a ele a esperança de um relacionamento, ela foi a primeira garota em sua vida, seu único amor até então. A compreensão desse sentimento me atingiu com força e uma nova onda de dor invadiu o meu peito, como se a minha única parte viva pudesse ser tirada de mim a qualquer momento, me fazendo cambalear e enfraquecendo as minhas pernas. Estava sendo indescritivelmente excruciante lidar com a perda da Alexia, e pensar em perder a Nina seria a minha própria morte.
Busquei aquela pela qual o meu coração sofria com a terrível hipótese que me assombrava a alma. Encontrei seus olhos grandes cor de avelã me estudando com preocupação. Naquele exato momento, eu prometi a mim mesmo que nunca deixaria que nada de mal acontecesse a ela. Mas da mesma forma que o amor que eu sentia pela Nina fazia com que eu fosse bom homem, o ódio corria pela minha corrente sanguínea, me deixando sedento por vingar o mal que fizeram a minha família. Mesmo que eu tentasse passar tranquilidade através do olhar, Nina tinha reparado os nós brancos que se formaram em meu punho fechado e sabia que não poderia me impedir.
Como se o ódio já não estivesse ganhando a luta interna em meu peito, eis que surge a única pessoa que jamais sonhei em ver. Passei por todos como um raio, ignorando os olhos curiosos que me acompanharam, ficando cara a cara com ele.
Meu pai.
— O que você pensa que está fazendo aqui? — inquiri ríspido.
— Meus sentimentos, meu filho! — respondeu.
Sua pele estava mais enrugada e os cabelos completamente grisalhos, mas seu olhar gélido era o mesmo.
— Guarde suas palavras e sentimentos para si mesmo, se é que você é capaz de sentir algo. Você não é digno nem de lamentar a perda de uma filha porque nunca foi um pai de verdade, então poupe-nos do fingimento barato, pelo menos nessa hora de dor, e dê o fora daqui, antes que eu perca o resto da sanidade que me resta e seja ignorante com uma pessoa mais velha! — cuspi furioso, colocando um dedo em seu peito, fazendo-o dar um passo para trás.
Nina e Marcos já estavam atrás de mim prontos para me segurar, embora eu não pretendesse bater nele. Mas também não o queria ali.
— Ela era a minha menina, Alex, você não pode me negar o direito de me despedir dela.
Era a coisa mais absurda que eu já tinha escutado nos últimos tempos.
—Se ela realmente fosse a sua menina, se você tivesse cumprido o papel que lhe foi concedido, talvez não estivéssemos aqui vendo a minha irmã dentro de um caixão! Mas você nunca mais nos procurou, então leve o seu arrependimento e o sermão sobre direitos para longe daqui, para o lugar onde você se escondeu e de onde não deveria ter saído! — vociferei.
— Alex, chega! — pediu Nina, colocando-se em minha frente.
Meu pai revezava seu olhar entre ela e a mão do Marcos em meu ombro. Depois de um tempo em silêncio, abaixou a cabeça, colocou as mãos dentro dos bolsos e disse:
— Fico feliz em vê-lo em boas mãos, meu filho. Espero que você tenha aprendido a ser um homem de verdade e que não tome atitudes erradas, as quais irá se arrepender depois, como eu. Seja feliz e cuide bem da sua família! — falou, virando as costas e me deixando atônito com a revelação de arrependimento tardia ou se estava falando sobre os erros que eu poderia vir a cometer com relação a Nina.
Algumas horas mais tarde estávamos todos em casa. Minha mãe em estado letárgico, repetindo como um mantra para si mesma que era a culpada quando, na verdade, eu me achava o culpado por ser o homem da casa. Talvez seja mais fácil culpar o desgraçado do meu pai, talvez tudo fosse diferente se ele não tivesse sido um cafajeste covarde. Mas não. A ideia de que eu poderia ter feito algo para proteger minha irmã martelava em minha mente e chicoteava meu coração, como uma sessão de autoflagelo, pronta para me despedaçar.
Dei os remédios a minha mãe e esperei até que ela caísse em um sono profundo. Antes que pudesse ser impedido pela Nina, peguei as chaves do carro e saí, mas não antes de dar mais uma olhada no porta-retratos no hall de entrada da casa, com uma foto da Alexia abraçada a mim sorridente.
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Para Sempre
RomanceAlex e Nina tiveram em suas vidas danos irreparáveis e lutaram para superar a dor apoiando um ao outro, mas será que essa grande amizade poderá durar com a revelação de um sentimento imensurável? O que fazer quando o seu grande amor volta...