Prólogo

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— O que está fazendo? — Ouvi a voz de Caleb, muito próximo a mim.

Afastei-me rapidamente do poço em meu santuário.

— Eu só estava...

Ele respirou fundo e se aproximou, tocando meu ombro com gentileza.

— Ficar observando ela por aí... não irá ajudá-lo em nada.

Caleb se referia à Susana, é claro. Cada anjo possuía um poço em seu santuário, do qual podia-se ver qualquer lugar que ele desejasse, até mesmo o Inferno -onde Susana estava há alguns dias. E é claro que ele tinha razão, eu estava mesmo observando o que ela fazia. Constatei que Susana não estava feliz, tão pouco parecia ter se acostumado ao submundo, fiquei triste por ela ter aceitado ficar lá com tanta facilidade, mas pensei que eu não tinha o direito de julgá-la, uma vez que eu mesmo estava de volta ao Paraíso. Sim, eu havia voltado para o meu lar assim que descobri sobre ela e Hector.

— Esse não é lugar dela. — Consegui dizer depois de um longo momento de silêncio.

— A filha de Lúcifer fez sua escolha, mas você fez a sua antes dela.

Eu já sabia disso, mas quanto mais eu pensava naquele assunto, mais irritado eu ficava. Certo, teoricamente, eu a tinha abandonado, então não tinha motivos para culpá-la pelo que fez, entretanto, o que mais me machucou naquela história toda foi o fato dela ter escondido o acontecido de mim, sei que deve ter ficado com vergonha e se sentindo culpada, mas ela teve oportunidades de me contar e não o fez. E se não tinha coragem para isso, que ela pelo menos tivesse se afastado de Hector, mas nem isso, pelo contrário, continuou com sua amizade com ele como se nada tivesse acontecido.

— O que eu devo fazer? — Indaguei com certa frieza.

— Deve dar um tempo aos dois... Infelizmente, o passado não pode ser mudado, mas tenho certeza de que é isso o que essa nefilim gostaria de fazer nesse momento.

— É...

— Luca, eu presenciei àquela cena... eu vi a morte dela. Infelizmente, eu não posso mudar as escolhas das pessoas, e ela escolheu aquilo.

— O que... o que isso tem a ver agora?

Ele respirou fundo e sorriu brevemente. Quem o visse naquele momento, jamais diria que era tão incrivelmente poderoso, parecia-se muito mais com um humano comum do que com um deus, suas feições eram fortes, porém, normais, não havia nada de muito belo ou irreal ali, e era exatamente por isso que eu o admirava, ele era superior, claro, mas não usava de seu poder ou sua glória para demonstrar isso.

— O que estou querendo dizer, Luca, é que ninguém daria sua própria vida para salvar um demônio, se não o amasse.

— Eu sei... Susana demonstrou de várias formas o que sente por mim, e confesso que não me acho merecedor.

— Mas Susana, sim. E é por essa razão que vocês não podem desistir... Sei que sua mente e seu coração estão pesados no momento, mas espero que não demore a se lembrar do porquê a ama. — Ele deu um longo suspiro. — Entendo sua necessidade de ficar só com seus pensamentos, mas você é meu herdeiro... e quero que seja feliz, mesmo que isso não inclua estar governando ao meu lado.

Cale sempre havia despertado o melhor em mim, assim como Susana.

— Obrigado. Agradeci, virando-me com um sorriso frouxo.

Abraçar nunca foi o meu forte, muito menos o dele, então, ele apenas assentiu brevemente com a cabeça e se virou para partir, no entanto, antes de me deixar completamente sozinho em meu santuário, olhou-me por cima do ombro, e fazendo-me rir, disse com humor:

— A propósito: não a dê de bandeja àquele demônio metido.

Herdeiros (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora