Herdeiros (livro 3)

34 - Espetáculo

— Não! — Gritei. — Por favor, Dante... — Supliquei, fitando os olhos de duas cores do anjo que havia nos traído.

— Vamos, seu grande imbecil, o que está esperando? — Lisa estava impaciente.

Ele imobilizava Max, não havia meios dele se soltar, exausto com estava Dante estava com um dos braços em seu pescoço, prestes a sufocá-lo. Aquele era o fim, estava tudo acabado. Ameacei ir até eles, quando pensei que Dante finalmente obedeceria a ordem de Lisa, mas parei no momento em ele simplesmente soltou Max, que foi para longe dele. Lisa, Luma e eu apenas o encaramos, sem compreender.

— Ah, meninas, admitam... foi uma boa interpretação. — Debochou ele.

— O que pensa que está fazendo? Por que o soltou? — Minha irmã o questionou, visivelmente enfurecida.

— Lisa. — Dante pronunciou seu nome com suavidade. — Olhe para mim... — Sugeriu a ela enquanto arrumava elegantemente as mangas do paletó escuro. — Não sou uma marionete.

Lisa começou a rir de uma maneira estrondosa. Luma e eu nos afastamos um pouco, receosas.

— Você trabalha para mim, Dante. Você e todos os outros demônios... Inclusive o manipulador de mentes vulneráveis, que fez todos aqueles tolos acreditarem que haviam visto Luca após todos os assassinatos...

Outros demônios? Quer dizer que existem mais aliados dela?

Respirei fundo, tentando evitar que minhas pernas me desobedecessem e saíssem correndo para fora daquele templo odioso. A única fonte de iluminação que havia ali provinha das pequenas capelas, que inclusive estavam quebradas, a qualquer instante poderiam surgir novos inimigos por elas. Eu temia que derrotar Lisa fosse ainda mais difícil do que eu havia esperado. Fechei os olhos e pensei em Luca, no que ele havia feito... Coloquei as mãos sobre meu ventre e abri os olhos, notando que Luma me observava com curiosidade e um frio desdém, suas íris âmbar passavam de mim para Max.

— Os outros podem trabalhar para você, Lisa. — A voz forte de Dante ecoou pelo local. — Mas eu... não. Você foi como uma serpente, sondando sua presa, observando e esperando pela melhor hora de atacar... você planejou tudo, sempre à espreita, mas sem realmente dar as caras. Eu era seu porta-voz, já que falava comigo apenas em sonho... Deve ter tido ajuda de um bom criador de sonhos para isso, devo admitir.

Lisa começou a se afastar de Dante, enquanto ele caminhava cada vez mais em sua direção. Max caminhou calmamente até mim e pegou minha mão com delicadeza.

— Você está bem? — Sussurrei.

Seus olhos cinzentos encontraram os meus, mas logo se voltaram outra vez para a garota loura à nossa frente.

— Sim... só não entendo o que está havendo.

Nem eu...

— O que está querendo dizer, Dante? — Lisa indagou, seu tom de voz demonstrava tranquilidade, mas eu a conhecia bem o suficiente para saber que estava escondendo suas emoções num frígido tom de indiferença.

Dante chegou bem perto da minha irmã.

— Estou dizendo, Lisa, que posso antever todas as suas ações. Essa pequena distinção em meus olhos, não é um mero... defeito. Eu sou um clarividente, sabia que planejava surgir somente quando tivesse a chance de ter Susana sozinha e indefesa...

Lisa riu com amargura

— E daí?

— Por essa razão, eu trouxe Susana para cá, exatamente no local que sugeri a você... Que honra, não? O templo no qual seu precioso Devon era agraciado pelos servos e pelo povo.