3 - A surpresa

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Duas semana havia passado desde a minha chegada ao Inferno, eu estava incrivelmente conformada com aquela situação. Acredito que todos têm um dom, uma habilidade, algumas mais interessantes, outras nem tanto, minha habilidade era a facilidade que eu possuía para me adaptar a novos lugares, novas pessoas. Eu estava bem, apesar de tudo. É claro que eu pensava em Luca algumas vezes durante o dia, e isso me machucava. Entretanto, Lotte e eu estávamos cada dia mais próximas, ela era muito inteligente para uma criança de dez anos, às vezes, formulava filosofias bem interessantes. Certo dia, enquanto ela me ajudava a escolher um livro na biblioteca que Hector havia pedido ao meu pai para mim, eu estava prestes a pegar um de fantasia quando ela apontou um de poesia e disse com suavidade:

— Delicadeza... Acho que é disso que você está precisando, Su. Precisa de algo que conforte sua alma.

Eu a olhei com curiosidade nesse momento, fiquei sem fala e sem entender como ela conseguia pensar daquela forma sendo apenas uma criança. Apanhei o livro de poesia que ela estava apontando e fui para meu quarto ler.

A propósito: era perfeito.

No mesmo dia, visitei Gitatem novamente, e a levei comigo, nós o ajudamos a cuidar das flores. Não pude deixa de sorrir quando o ci colocá-la em seu ombros, para que ela observasse o jardim do alto, ele tinha jeito com crianças. Gitatem nos contou que cada flor tinha um significado, e que ele gostava de pensar que cada um de nós tinha uma específica, que eu provavelmente gostava de lírios, sem saber como ele podia ter acertado na primeira tentativa, apenas confirmei. Então, ele encarou Lotte por um breve momento, e disse que ela lhe lembrava girassóis, pois trazia felicidade ao ambiente em que estivesse. E mais uma vez tive de concordar com ele.

No dia seguinte, Charlotte começou a me contar histórias que sua avó contava a ela para que dormisse, parecia uma garotinha sonhadora, seus olhos brilhavam a cada início de uma nova história. Observei a bandeja de café da manhã sobre a minha cama, e apanhei o prato de porcelana com torta de morango, oferecendo o outro a ela. Então, quando estava prestes a colocar o pedaço que estava no garfo em minha boca, o aroma extremamente doce da sobremesa invadiu minhas narinas, e eu senti um enjoo muito forte, sabendo que não daria tempo de ir até o banheiro, tirei rapidamente os lírios do meu vaso, ao é da cama, e vomitei dentro dele. Fiquei muito envergonhada, mas então, a raposinha veio até mim e tocou meu ombro.

— Tudo bem? — Perguntou e eu senti a preocupação em sua voz. — Quer que eu chame a mamãe?

— Estou bem, Lotte... Obrigada. —Menti.

Eu estava péssima e sentia-me um pouco tonta. A verdade era que eu me sentia cansada há alguns dias, mas era a primeira vez que eu havia passado mal, pensando nisso, mais uma onda de enjoo me instaurou, e eu fui obrigada a colocar tudo para fora outra vez. Foi então que me lembrei de algo muito importante: pílula do dia seguinte.

— Su...?

Eu estava paralisada e não ouvi nada do que ela havia falado.

— Puta que pariu! — Exclamei, levantando-me, então notei que Lotte me encarava, surpresa. — Ah, desculpe, eu só...

Pânico. Eu estava em pânico. Minhas mãos suavam frio e uma ânsia ameaçou vir com força novamente, mas eu consegui me controlar. Respirei fundo e tentei pensar no que fazer. E se eu estivesse grávida? Aos 18 anos! Céus, o que eu ia fazer? Luca não estava mais comigo, eu estava sozinha.

Su, não entre em pânico, okay? Pode ser paranoia da sua cabeça... Fique calma, por favor...

— Você tá grávida? — Lotte me perguntou com os olhos arregalados.

Herdeiros (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora