33 - O templo

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Saí de perto da janela, e fitando as flores delicadamente colocadas em meu vaso, saí do meu quarto. Caminhei calmamente pelo corredor e desci as escadas que me levariam ao salão principal, onde encontrei Max, meu irmão e Lúcifer. Corri até Enrique e joguei-me em seus braços, que me acolheu com ternura. As lágrimas ameaçaram cair outra vez, eu bem que tentei contê-las, mas foi uma força empenhada inutilmente.

— Shhh... — Enrique sussurrou, beijando o topo da minha cabeça. — Tudo bem, pode chorar, estou aqui...

— Susana, eu sinto muito. — Nosso pai apertou gentilmente meu ombro.

— Eu nem tive tempo de me despedir... — Murmurei, enxugando meu rosto na camiseta do meu irmão. — Eu queria tanto ter falado com ele...

— Eu também queria. — Max comentou num tom de voz fraco.

Afastei-me um pouco de Enrique, embora estivesse muito inclinada a permanecer em seus braços por muito mais tempo. Encarei Lúcifer.

— Onde está Hector?

— Eu não o vi desde manhã.

Que estranho...

— Su, você precisa comer alguma coisa... não comeu nada desde ontem. — Max me lembrou. — Se acha que não consegue comer, faça um esforço pelo bebê.

Assenti, ele estava certo. Fomos todos para a sala de jantar, onde já havia um pequeno banquete para nós. A mesa, comprida e ornamentada com vasos de flores, estava repleta de frutas, pães e outras coisas, tudo parecia ótimo, mas eu realmente não me sentia tentada a comer nada daquilo. Esforcei-me e comi algumas frutas, mas o nó em minha garganta ainda se fazia presente, ele ainda estava ali, lembrando-me do que havia acontecido. Agradeci por ninguém se dirigir a mim durante o jantar, os rapazes apenas se entreolharam e conversaram sobre algumas coisas, poucas vezes. Durante quase toda a noite, um silêncio amigo pairou no cômodo, deixando-me completamente atônita em meus pensamentos. Após terminar minha refeição, levantei-me e avisei a todos que daria uma volta.

— É perigoso, Su... — Enrique me alertou.

— Ele está certo, Ruivinha.

— Por que não vêm comigo? — Sugeri ao meu irmão e a Max.

Ambos assentiram, levantando-me e caminhando logo atrás de mim. Despedimo-nos de Lúcifer e começamos nosso passeio. O castelo era realmente fabuloso, eu não o conhecia por completo ainda, mas os locais que eu já visitara eram extremamente sofisticados e bonitos. Um dos Vulmine passou por nós e cumprimentou-me amistosamente, e ainda disse sentir muito pelo ocorrido daquela manhã. Observei o rapaz de um metro de altura, fitei seus olhos claros e as delicadas sardas, e senti um aperto no peito, morrendo de medo de algo ter acontecido a Lotte. Assim que o mesmo se afastou, Enrique foi para o meu lado.

— Caramba, o que ele é?

— É um dos Vulmine, são demônios raposa... São famosos por sua perspicácia e inteligência... — Respondi, lembrando-me de que Lotte havia dito algo semelhante quando nos conhecemos.

— Mas... como eles surgiram? — Ele indagou, bastante curioso.

— Bem, eu não sei... Charlotte nunca me explicou com detalhes, então... — Dei de ombros. — Tudo o que sei é que eram escravos de Devon, e nosso pai os abrigou... claro que trabalham para ele, mas recebem salário, e quem não tiver moradia própria, pode ganhar um quarto por aqui.

— Nossa, isso é... bem legal.

Sorri brevemente. Eu adorava aqueles seres. É claro que havia alguns bem rabugentos, mas esse adjetivo se aplicava mais aos mais velhos, a maioria era extremamente gentil e agradável.

Herdeiros (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora