16 - Papéis trocados

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De repente, uma risada estrondosa ecoou pelo local, Luca rapidamente se posicionou atrás de mim, fazendo com que suas grandes asas servissem como uma espécie de muralha ao meu redor. Então, o chão sob nossos pés começou a ceder, agarrei-me a uma das patas de Luca assim que ele arqueou as asas para voar, mas foi inútil, o abismo negro embaixo de nós puxava-nos, como se quisesse nos manter sob a terra. Comecei a gritar desesperadamente, e a última coisa de que me lembro antes de ser completamente sugada pelo buraco, foi a voz de Luca em minha mente dizendo-me que tudo ficaria bem.



— Ei, Su! — Ouvi alguém me chamar. — Su, acorda!

Eu ainda gritava, então alguém envolveu meus ombros com as mãos e me balançou, despertando-me completamente. Abri os olhos e vi um par de íris azul esverdeado incrivelmente brilhante. Sentei-me a tempo de ver Luca despertar ofegante ao meu lado.

— O que aconteceu? — Perguntei a Hector.

Olhei ao redor, ainda estava no quarto na casa de madeira. Na televisão, letras brancas e miúdas subiam, indicando que o filme havia terminado.

— E eu sei? Provavelmente você estava sonhando, nunca tinha ouvido alguém gritar como você gritou agora...

Peguei a mão de Luca e a olhei. Observei todo o seu corpo, havia arranhões e manchas arroxeadas. Sem pensar duas vezes, subi em seu colo e passei minhas mãos por seu rosto. Não era mais um monstro, era ele em sua forma humana, o que confirmou a teoria de Hector, tudo não passara de um sonho. Mas, como? Eu não me lembrava de ter adormecido. Então, abracei o pescoço de Luca e beijei sua testa.

— É você... — Acabei dizendo.

Não me importei com as lágrimas que desejaram cair, deixei-as livres para demonstrar meu alívio. Então, ele ergueu a mão e tocou seu pescoço, fechou os olhos e respirou fundo. Hesitei, mas olhei mesmo assim: havia uma cicatriz ali, começava na nuca e terminava pouco abaixo da orelha. Era a cicatriz do corte que minhas lágrimas haviam curado no pesadelo.

— Nós dois estávamos no mesmo sonho. — Eu disse, finalmente. — Não sei como isso aconteceu...

— Do que você está falando? — Hector indagou.

Mas eu não conseguia respondê-lo, não era capaz de formular nenhuma frase em minha mente naquele momento. Apenas observei o olhar distante de Luca, ele observava o nada como se estivesse tentando encontrar as repostas nele, parecia paralisado, como se não conseguisse compreender o que acabara de nos acontecer.

— Foi Devon. — Concluí, mas ele não pareceu ter me escutado, apenas ergueu suas mãos e as observou, quase como se não acreditasse que estas estavam ali.

Talvez estivesse esperando aquelas garras horríveis aparecerem para acabar com nossas esperanças de novo.

Ah, Luca.

Saí de seu colo e fiz um gesto para que Hector me seguisse até o corredor. Respirei fundo e o encarei.

— O que aconteceu com ele?

— Hector... o que você está fazendo aqui?

O demônio enfiou as mãos nos bolsos da calça social e olhou-me com pesar, mas sem fazer rodeios, revelou:

— Trago notícias... nada boas. Um soldado foi assassinado na noite passada...

— Luca foi visto no Inferno?

— Como você...?

— Depois eu explico... só me confirme uma coisa. — Esperei que ele assentisse. — Meu pai declarou guerra ao... Céu?

Herdeiros (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora