1 - Os Vulmine

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— Por que nunca sai dessa janela?

Virei-me e encontrei encostado na porta do meu quarto, seus braços estavam cruzados, mas sua expressão era descontraída. Olhei ao redor, buscando uma resposta.

— Não tenho nada para fazer.

— Há três dias você só sabe ficar olhando e olhando...

— Hum... — Respondi, apenas.

— Você podia dar uma volta pelo seu reino.

— Posso ir sozinha? — Indaguei, ligeiramente esperançosa.

— Infelizmente, recebi ordens de Lulu para acompanhá-la em todo e qualquer lugar, e claro, a partir de hoje, essa regra inclui quando for tomar banho.

— Cale a boca, Hector! — Exclamei.

Hector era mesmo um idiota, mas suas piadas sem graça eram o que estavam me sustentando, ele me distraía, fazia-me esquecer um pouco Luca, mas quando não estava por perto, o Anjo dos Sonhos era o único que ocupava minha mente. No entanto, apesar de toda a dor, eu decidi não ficar me martirizando por causa de Luca, afinal, ele havia escolhido aquilo e estava melhor sem mim. Acredito que cada obstáculo que enfrentei tornou-me mais forte para superar próximas quedas, eu não era mais a Susana de antes, não era mais a Susana Bontempo delicada, teimosa e indefesa, mas também não era mais a Susana Albuquerque cabeça dura e dona de si, eu era uma mistura das duas, eu havia me tornado completa, e sabia que um dia superaria a partida dele, mesmo que isso demorasse muito tempo.

— Su, só estou preocupado com você...

Hector se aproximou e pegou minha mão, então, seu rosto estava cada vez mais perto do meu.

— Hector, pare com isso... — Afastei-me dele. — Não vou cometer o mesmo erro duas vezes.

O demônio respirou fundo e sorriu.

— Entendo, você ainda está abalada pelo que aconteceu, mas...

— Será que você pode parar de falar dele? — Retruquei com a voz calma, tentando não parecer grosseira.

Estava tentando esquecer o que havia acontecido e odiava o fato de Hector ficar me lembrando disso.

— Desculpe.

Tornei a olhar pela janela do meu quarto, eu podia avistar um imenso jardim há alguns metros, pensei que talvez devesse aceitar o conselho de Hector, e passear um pouco. Observei-o de esguelha, ele se sentou ao piano, e sem demora, começou a dedilhar maravilhosamente, ainda bem que escolheu uma melodia alegre. Apesar de não ser tão gracioso quanto Ana, tocou muito bem. Seguindo o motivo de seus olhos, notei o quão brilhantes eram, e percebi que não sabia nada sobre eles, o que haviam visto, ou o que passaram. Qual era a história de Hector? Eu não sabia nada sobre ele.

— Hector... — Comecei, sentando-me em minha cama. — Acabei de perceber que não sei nada sobre você.

Notei-o cessar a música, mas se limitou a observar as teclas do instrumento, não me olhou, como eu pensei que faria.

— O que você quer saber?

— Bom, quem são seus pais... como você cresceu, essas coisas...

Hector baixou o olhar, e esboçou um pequeno sorriso.

— Minha vida não é muito interessante. — Revelou, sem muito entusiasmo. — Nasci um demônio, logo, não sei como é o Paraíso. Aos dez anos, fugi de casa, não gostava da vida de ser controlado por pais. — Deu de ombros, como se aquilo realmente não fosse nada, então me olhou. — Eu gosto de me virar sozinho.

Herdeiros (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora