7 - O perdão

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Depois de passar algum tempo chorando -minhas emoções deviam estar mais difíceis de serem controladas por conta da gravidez-, respirei fundo e decidi parar de pensar em Luca. Limpei meu rosto com lenços e deitei-me na cama, fitando o teto. Permaneci assim por algum tempo, até que finalmente peguei no sono.


Despertei com uma melodia muito bonita preenchendo os meus ouvidos. Abri os olhos e encarei um céu que, não fosse por milhares de estrelas, seria apenas um enorme e exuberante manto negro acima de mim. Olhei para o lado e percebi que estava deitada sobre uma grama bem aparada. Fitando novamente o céu, imaginei-as caindo sobre mim. E de repente, isso realmente aconteceu, eram milhares de diamantes prateados que mudavam de cor a cada metro que desabavam, passavam do azul ao roxo, do roxo ao rosa, e assim por diante. Era mágico. Percebi, enfim, que aquele era mais um dos sonhos de Luca para mim. Mas onde ele estava?

Levantei-me e olhei ao meu redor, não havia ninguém, eu estava em um grande campo vazio, no qual só havia a grama e as "estrelas". Toquei vários dos caquinhos brilhantes enquanto caíam, mas eles desapareciam assim que meus dedos encostavam neles. A melodia continuava e deixava-me em paz, como se esta devolvesse a harmonia em meu coração, uma harmonia que eu havia perdido. Fechei os olhos e respirei fundo. Subitamente, alguém agarra minha cintura e ergue-me do chão, prendendo-me ao seu corpo para que eu não caísse. Virei o rosto, olhando meu sequestrador por cima do ombro, este aproximou-se mais e roçou seu nariz gelado em mim. Estávamos muito longe do chão, mas eu não estava com medo. Eu estava em êxtase. Luca beijou minha nuca com ternura, o que me fez fechar os olhos outra vez. O vento que batia contra mim era maravilhoso, e a sensação do corpo dele contra o meu, pareceu-me a melhor coisa do mundo naquele momento.

O que se seguiu foi incrivelmente surpreendente, eu não imaginava o quão criativo Luca poderia ser: vários cavalos alados começaram a voar ao nosso lado, eram todos brancos e de grande porte. Eram lindos, e pareciam nos proteger, pois formavam uma espécie de corredor para que eu e Luca pudéssemos voar entre eles, suas asas, amplas e resplandecentes, os faziam parecer anjos gigantes, e isso acabou por me emocionar mais do que eu pensei que seria possível. Eu estava sem fôlego diante de tal visão, era algo extraordinário e surreal demais.

— Meu Deus... — Sussurrei. — Como faz isso?

— Não seria capaz de nada disso se não tivesse a como inspiração.

Luca parou de voar e ficamos pairando no ar. Suas asas, negras e majestosas, faziam uma dança sincronizada pelo céu, estavam arqueadas, e elegantemente, iam para cima e para baixo. O anjo me segurava pela cintura com um dos braços, e segurou uma das minhas mãos, eu apoiei a outra em seu ombro e posicionei meus pés sobre os seus. Os cavalos agora corriam ao redor de nós e a melodia ficara mais alta. Estávamos dançando no céu! Céus, eu nunca imaginei que faria esse tipo de coisa. Depois de dançarmos um pouco, Luca me pegou pela cintura novamente. Então, as belas criaturas aladas desapareceram, e o céu começou a se iluminar. Ele disse para eu respirar fundo, e assim fiz. De repente, estávamos descendo em uma velocidade extremamente alta, confesso que tive medo, pois abaixo de nós havia um imenso lago, mas então, antes que colidíssemos com este, Luca parou e nós entramos na água calmamente, ele me virou para que eu pudesse encará-lo, então beijou minha testa.

Estávamos nadando, então, ele segurou minha mão e puxou-me para fora do lago. Abracei-o, aconchegando-me em seu peito nu e molhado.

— Eu falhei outra vez... por puro egoísmo. — Confessou-me. — E medo de perder você.

— Não precisa.

— Tenho medo de que tudo dê errado, medo de ter você tirada de mim outra vez... Você sabe, eu já perdi tantas coisas... — Luca baixou o olhar. — E parece que ainda assim, não aprendi a lição. Não consigo me sentir digno do perdão que recebi por tudo o que eu fiz, destruí tantas famílias... e quando olho para você, quando percebo que é capaz de se importar com alguém como eu, não me acho merecedor. — Ele revelou, com uma sinceridade impressionante. — Estou mostrando a verdade a você, Susana. Desde que se sacrificou por mim, venho tido uma enorme amargura por mim mesmo, alguém como eu não merecia o que você fez.

Herdeiros (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora