8 - Juntos

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Eu estava deitada sobre o peito nu de Luca, ouvindo seu coração bater lentamente. Seu cheiro inebriante tomou conta das minhas narinas e deixou-me um pouco extasiada. O anjo caído penteava meu cabelo com os dedos, e então beijou minha testa quando eu o encarei.

— Você é bonita mesmo com essa cara de sono.

— Fico bonita de qualquer jeito.

Luca sorriu e me puxou para cima dele. Estávamos debaixo dos lençóis, pois aquela madrugada estava um pouco fria.

— Que convencida.

— Não é verdade? — Retruquei, e arqueei uma das sobrancelhas.

Ele estreitou os olhos e sorriu de lado, como se estivesse analisando meu rosto para responder.

— Não.

— Idiota!

Beijei sua boca com suavidade, mas no fim, mordi seu lábio inferior. Suas mãos saíram das minhas costas e foram para minha cintura, então, ele me colocou rapidamente debaixo dele e iniciou um ritual em meu corpo, beijando meu queixo, pescoço, ombros... Até chegar à minha barriga, na qual ele parou para analisá-la.

— Acha que demora muito a crescer? — Indagou.

— Considerando as outras vezes em que estive grávida... Hum... não sei.

— Muito engraçada.

Sorri e passei a língua pela boca, depois mordi meu lábio inferior, notei que os olhos dele brilharam enquanto acompanharam o movimento da minha língua, então ele balançou a cabeça negativamente.

— Que foi? — Perguntei, fingindo inocência.

— Você é uma pervertida.

— Somos, querido. — Respondi, e pisquei para ele.

Luca roçou o nariz em minha mão.

— Imagine a reação do seu pai se ele entrasse aqui agora.

— Seria bem engraçado.

— Engraçado? — Luca semicerrou os olhos. — O que aconteceu? Você está meio rebelde ultimamente, Anjo.

— Falou um anjo caído. — Provoquei.

— Tem razão, quem sou eu para chamá-la de rebelde...

Ele abraçou minha cintura, recostando sua cabeça de leve em minha barriga. Comecei a pensar em tudo que estava acontecendo e acabei me lembrando daquele demônio estranho que eu havia conhecido poucas horas atrás.

— Luca, você conhece um tal de... Dante?

— Dante... não. Por quê?

Luca foi para o meu lado, fazendo-me ficar de lado para que pudesse se deitar atrás de mim.

— Eu o conheci hoje... ele é meio estranho.

— Defina "estranho".

— Misterioso... como você. Ou como você era em São Ângelo.

— Espero que não seja alguém que eu deva me preocupar. Não estou com paciência nem para aquele saco de pulgas.

— Saco de pulgas?

— Sim, aquele otário que vive atrás de você.

— Quem podia imaginar que Luca poderia ser tão ciumento?

Luca revirou os olhos e eu ri. Nós dois ali, deitados juntos, parecíamos muito mais um casal humano do que um casal de seres sobrenaturais. A naturalidade que nos envolvia era maravilhosa, e a sensação de completude era intensa demais para que qualquer um de nós tivesse a intenção de abandonar o barco. E eu soube, naquele momento, que não importava quantas dificuldades ainda teríamos de passar, não importava os obstáculos e perigos, eu sabia que no final era ele quem estaria esperando para me salvar do abismo.Toquei seu rosto de leve com as pontas dos dedos. A cara de sono e o cabelo bagunçado faziam-no parecer um adolescente, seu olhar estava brincalhão, e um sorriso de lado estava devidamente desenhado em sua boca.

— Luca...

— O que foi? — Pude notar a preocupação em sua voz.

— Eu me arrependo de muitas coisas que fiz, tanto em minha vida como Bontempo, como agora, mas... eu nunca, nunca me arrependerei de você.

— Só de pensar que eu quase te perdi outra vez...

Luca se virou e encarou o teto, ainda com os dedos entrelaçados nos meus, seu calor suave dava-me conforto.

— Está falando...

— Sim, de Jacó e Devon.

— Mas agora eu estou aqui.

Abracei seu corpo, recostando minha cabeça em seu peito.

— Eu não vou abandonar você. Sei que Devon não descansará até que consiga se vingar, mas eu darei minha vida para te proteger, se for necessário... Isso é uma promessa.

Encarei-o. Eu jamais permitiria que ele morresse por mim. Eu era sua salvadora, que cuidaria dele para sempre. Mas ele não precisa me fazer promessas, para mim, bastava que estivesse ali, mesmo com tudo o que havia acontecido, bastava isso para provar seu amor por mim.

— Estou feliz que esteja aqui.

Ele beijou minha testa, levantou-se, e vestiu sua calça jeans.

— Tenho que ir agora.

— Mas...

— Eu vou voltar, você tem coisas para fazer aqui... Eu entendo.

Eu me levantei e caminhei até ele, que me ajudou a vestir uma camisola azul de renda.

— Precisa mesmo ir?

— Sim, mas antes... preciso mostrar algo a você.

— O quê?

Luca segurou minha mão e puxou-me para fora do quarto. Estávamos no corredor do meu quarto e da biblioteca, achei que pararíamos por aí, mas não, o louco começou a descer a escada que nos levaria ao andar de baixo. Congelei ao imaginar meu pai nos apanhando, mas ele não se importou, apenas sorriu e conduziu-me até a escada que nos levaria ao enorme salão de bailes. Eu estava com muito medo de ser pega, mas Luca não pareceu se importar nem um pouco. O castelo estava bastante iluminado, mesmo que já passasse das duas da manhã. O anjo me guiou para fora, paramos no pátio repleto de uma grama verdinha, e nos abraçamos por algum tempo.

— Feche os olhos, Anjo.

Encarei-o, e sorrindo, fiz o que ele sugeriu. Alguns segundos depois, um perfume inebriante adentrou em minhas narinas e eu fui obrigada a olhar: um belo lírio branco estava pousado em sua mão, flutuando sobre esta.

— Obrigada. — Apanhei a flor.

— Tem mais de onde veio esta.

Subitamente, uma luz dourada começou a emanar sob nossos pés, e um crescente jardim de lírios de todas as cores começou a crescer sobre a grama do local. Foi uma das coisas mais lindas que eu já presenciei, as flores cresceram como se uma avalanche de cores e perfumes estivesse vindo contra mim, ornamentando completamente o chão do local. Observei todas elas, eu estava rodeada de flores e não conseguia parar de sorrir.

— Que maravilhoso.

Fechei os olhos e inalei o perfume do local calmamente. Luca me beijou uma última vez, e começou a ir em direção ao portão de entrada do castelo. Deixei-o partir, pois sabia que ele logo voltaria para me buscar. Quando eu pedisse, ali estaria ele.

— O que aconteceu aqui? — Ouvi a voz de Lúcifer, atrás de mim.












Herdeiros (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora