Herdeiros (livro 3)

11 - O misterioso retorna

Levantei-me depois de um longo tempo, e vesti uma roupa confortável: moletom e tênis velhos. Ergui minha camiseta em frente ao espelho. Certo, era loucura pensar que minha barriga já teria crescido o mínimo possível, mas comecei a alisá-la. Jack tinha razão, uma gravidez nas circunstâncias nas quais eu me encontrava era realmente perigoso, mas tentei não pensar nisso. Procurei por Scarlett pela casa e coloquei o guia em sua coleira. Avisei meu pai que daria uma volta, ele achou que seria uma boa ideia, mas disse para eu tomar cuidado, de qualquer forma. Saí de casa com Scarlett sem um rumo traçado, apenas queria parar de pensar em várias coisas ao mesmo tempo. Scarlett começou a correr, então tive que acompanhá-la.

— Devagar, Scarlett!

Passamos por um parque repleto de brinquedos infantis, não havia muitas crianças, por ainda ser de manhã, e felizmente, não era um dia de sol. Mas os poucos pequenos ali já me deram uma boa noção de como seria minha vida depois de alguns meses, suas respectivas mães estavam sempre atentas e prestes a salvá-los de qualquer perigo. Perguntei a mim mesma se eu seria assim. Respirei fundo e sentei-me em um dos bancos de cimento do local, ainda observando as famílias ali presentes. Um garotinho de cabelos castanhos, de aparentemente oito anos, viu Scarlett e logo se aproximou de nós.

— Qual é o nome dele? — Indagou.

Seu dente estava sujo de chocolate, o que me fez sorrir.

— Scarlett... É uma menina.

— Ah... — Disse baixinho enquanto se sentava na areia.

Sentei-me ao seu lado.

— Pode passar a mão, ela não morde.

Ele hesitou um pouco antes de passar a mão em Scarlett, e afastou-se quando pensou que ela o morderia, entretanto, ela apenas queria lamber sua mãozinha pálida. Então, como que para mostrar a ele que não era perigosa, ela subiu em colo, abanando o rabo a todo instante. O garotinho começou a gargalhar com a falta de jeito dela.

— Queria um desse pra mim...

— Qual o seu nome?

— Lucas.

Sorri ao ouvir sua reposta.

— Seu nome é muito bonito.

— E o seu?

— Su...

— Lucas! — Uma voz masculina me interrompeu.

E eu conhecia essa voz.

— Você... — Sussurrei, assim que vi Dante ao nosso lado.

— Vejo que conheceu meu amigo, Alteza.

— Hum, eu... o que está fazendo aqui?

Seus olhos passaram de mim para Lucas.

— Não creio que seja da sua conta. — Baixei o olhar com a resposta. — Mas responderei mesmo assim... estou apenas passeando. Lucas?

— O quê?

— Por que não vai brincar com ela um pouco? — Dante apontou para Scarlett. — Importa-se? — Encarou-me.

— Não... — Respondi, entregando o guia ao menino. — Mas, por favor, não solte isso por nada nesse mundo.

— Certo!

E assim as duas crianças saíram correndo pelo parque. Observei a pessoa ao meu lado, ele usava jeans escuros e uma camisa social cinza extremamente bem passada, como quando conheci.

— É seu filho?

— Ah, não... — Respondeu-me, simplesmente. — Eu apenas cuido dele.

— Cuida? Você... adotou ele?