25 - Você me tem para sempre

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Narrado por Jack


Era por volta das 21:30 na quarta, eu me encontrava deitado no sofá de Luca, meu irmão havia saído. Fazia alguns dias que eu não havia conversado com ninguém além dele, porém, ele estava ocupado com alguma coisa importante, então não nos falamos muito, e eu também não ousei perguntar o que ele estava aprontando. Depois da minha discussão com Ana, percebi que a única pessoa que preencheu meus pensamentos nos dias seguintes foi ela. Todos os dias de manhã, eu acordava e não a via ao meu lado, e isso acabou comigo. Eu sentia falta do perfume dela em minha camisa, falta de suas pequenas mãos em meu cabelo. Passei algumas noites em claro, imaginando ela comigo. Eu não fazia ideia do quanto amava Ana até o momento em que a perdi.

E a culpa era, em parte, minha. Pensei que talvez eu devesse lhe dar mais atenção, talvez meus sentimentos por ela não tenham sido demonstrados de forma clara, de modo que sua desconfiança com relação ao que eu sinto por Susana, possa ter lá seu sentido, apesar de ser um absurdo.

Peguei meu celular, havia mensagens de Luca, Enrique e algumas ligações perdidas de Susana. Mas não havia nenhuma mensagem dela. E eu me senti horrível, julguei-me a pior pessoa do mundo. Então, resolvi tentar, poderia pelo menos arriscar uma última chance. Liguei para Ana, mas ela não me atendeu. Tentei mais umas duas vezes e nada. Respirei fundo. Pensei por um momento, não sabia se devia ir até lá, mas estava com um pressentimento ruim, então resolvi ir. No caminho todo, mentalizei seu rosto em minha mente, esperava que nada de ruim tivesse acontecido com ela. Ao chegar no prédio do nosso apartamento, que era um grande casarão, com persianas brancas e portas extremamente bem trabalhadas, entrei e encontrei uma senhora rechonchuda na portaria, bem como alguns moradores. Ela me informou que Ana não havia saído, por sorte. Nessa hora, um trovão ecoou no céu, revelando-nos que uma forte chuva estava por vir. Subi a escada e encontrei um corredor estreito, caminhei por ele até encontrar uma porta branca com a placa "Não perturbe!". Acabei sorrindo, aquilo era a cara dela. Toquei a campainha algumas vezes, mas ninguém abriu a porta, então verifiquei se a mesma estava aberta, e por sorte, sim. Abri-a devagar, fui até nosso quarto, e a vi através de um espelho. Seus olhos encontraram os meus, mas ela não se virou, apenas parou de pentear seu cabelo longo e escuro. A luz estava baixa, deixando seus olhos brilhantes. Ela usava um vestido claro e cheio de flores pequenas, que a fazia parecer-se com uma boneca. Entrei no quarto e fechei a porta atrás de mim.

— Jack... — Ela finalmente sussurrou, ainda me encarando pelo espelho.

— Oi.

Ana pressionou os lábios um contra o outro, provavelmente segurando o choro, mas não se virou para me encarar, apenas me fitava através do vidro, como se isso diminuísse sua dor.

Céus, olhe para mim. Olhe para mim de verdade.

Caminhei até ficar a centímetros dela.

— Jack, eu sinto...

— Deixe-me falar... — Ajoelhei-me, então ela se virou no banco em que estava, suas mãos estavam cruzadas, e a respiração, extremamente ofegante. — Ana, você me disse que estávamos aprendendo a amar, lembra? E você estava certa, porque eu não fazia ideia do que eu sentia realmente até o dia em que eu saí por aquela porta... — Ela não disse nada, apenas continuou a encarar suas mãos pousadas sobre seu colo. — Eu não espero que você me entenda, nem que perdoe todas as vezes em que eu devia ter lhe dado mais atenção. Eu só queria que você soubesse... que é alguém importante demais na minha vida.

O anjo ergueu os olhos para mim, estavam repletos de lágrimas, então ela os fechou fortemente e encarou-me novamente. Depois, pegou minhas mãos e ajudou-me a levantar. Ficamos de frente um para o outro. Ela sorriu e ergueu os pés para alcançar meu rosto, beijando meus lábios delicadamente.

— Eu devo pedir desculpas também, fui uma criança boba. E eu vejo o seu medo. O medo de me perder. — Assenti. — Mas não se preocupe, eu sou sua desde que chegou com seus olhos caramelos, seu sorriso largo, e sua infantilidade... — Ela sorriu de novo. — Jack, você me tem para sempre.

Fechei os olhos e respirei fundo. Depois, encarei os olhos escuros de Ana, que brilhavam como duas estrelas. Abaixei meu rosto, recostando minha testa na sua, de modo que a ponta de nossos narizes se tocaram.

— Obrigado.

Nessa instante, a chuva começou a cair lá fora. Peguei-a no colo e a coloquei na cama, deitando-me sobre ela. Beijei sua testa, suas bochechas e seus lábios. Em seguida, desci os lábios para seu pescoço. Sua respiração entrecortada produzia uma melodia juntamente às batidas aceleradas do meu coração. Encarei seu rosto, Ana sorria. Passei o polegar pela sua boca e sorri também. Então, ela ergueu o rosto e mordeu meu lábio inferior com força.

— Ai...

— Isso é por ter me feito chorar por noites. E isso... — Puxou minha nuca, para que nossos rostos se aproximassem e beijou-me profundamente, com as mãos em meu cabelo. — É por ter voltado.

— Só isso? — Arqueei uma sobrancelha.

Ela mordeu o lábio e tornou a me beijar. Com certeza, aquela foi a melhor noite da minha vida. Éramos complicados e teimosos, mas éramos um do outro.

Era de um tipo estranho, mas ninguém poderia negar que era amor.

Herdeiros (livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora